A pergunta surgiu em meio a
questionamentos de frequentadores de um Centro Espírita: porque tanta agressividade no
comportamento dos jovens de hoje? É verdade que o papel dos pais na
formação da personalidade dos filhos na atualidade deixa muito a desejar. Mas
seria a causa fundamental? O comportamento humano não resulta apenas da
influência do meio em que se renasce e vive. Já ao tempo do surgimento do
Espiritismo situações intrigantes foram analisadas pelo educador oculto no pseudônimo
Allan
Kardec. No número de julho de 1963 da REVISTA ESPÍRITA, ele se ocupa do caso
de um jovem de 23 anos que, como ele próprio reconhecia, tinha ‘um grande
número de defeitos, dos quais o mais saliente era uma irresistível
predisposição para a cólera, desde a infância. Pela menor contrariedade, pelas
causas mais fúteis, quando entrava em casa e não encontrava imediatamente o que
queria; se uma coisa não estivesse no seu lugar habitual; se o que tivesse
pedido não estivesse pronto em um minuto, enfurecia-se e tudo quebrava. Era a
tal ponto que um dia, num paroxismo de cólera, explodindo contra a mãe,
disse-lhe: “Vai-te embora, ou eu te mato!” Depois, esgotado pela
superexcitação, caía sem consciência. Acrescente-se que nem os conselhos dos
pais, nem as exortações da religião tinham podido vencer esse caráter
indomável, compensado, aliás, por uma grande inteligência, uma instrução cuidadosa
e os mais nobres sentimentos. Discorrendo sobre o tema, Kardec afirma que ‘o
que não pode a Ciência, o Espiritismo o faz, não pela ação do tempo e em consequência
de um esforço contínuo, mas instantaneamente. Bastaram alguns dias para fazer
desse jovem um ser meigo e paciente. A certeza adquirida da vida futura, o
conhecimento do objetivo da vida terrestre, o sentimento da dignidade do homem,
revelada pelo livre-arbítrio, que o coloca acima do animal, a responsabilidade
daí decorrente, o pensamento de que a maior parte dos males terrenos são a
consequência de nossos atos, todas essas ideias, hauridas num estudo sério do
Espiritismo, produziram em seu cérebro uma súbita revolução; pareceu-lhe que um
véu foi retirado de seus olhos; a vida se lhe apresentou sob outra face. (...) Seu Espírito era responsável por sua
violência, ou se apenas sofria a influência da matéria. Eis a nossa resposta:
Vosso Espírito é de tal modo responsável que, quando o quisestes seriamente,
controlastes o movimento sanguíneo. Assim, se o tivésseis querido antes, os
acessos teriam cessado mais cedo e não teríeis ameaçado vossa mãe. Além disso,
quem é que se encoleriza? O corpo ou o Espírito? Se os acessos viessem sem
motivo, poder-se-ia crer que eram provocados pelo afluxo sanguíneo; mas, fútil
ou não, tinham por causa uma contrariedade. Ora, evidentemente não era o corpo
que estava contrariado, mas o Espírito, muito susceptível. Contrariado, o
Espírito reagia sobre um sistema orgânico irritável, que não teria sido
provocado se tivesse ficado em repouso. (...) Façamos uma comparação. Tendes um
cavalo fogoso; se souberdes governá-lo, ele se submete; se o maltratardes, ele
se enfurece e vos derruba. De quem a falta: vossa ou do cavalo? Para mim, é
evidente que vosso Espírito é naturalmente irascível; mas como cada um traz
consigo o seu pecado original, isto é, um resto das antigas inclinações, não é
menos evidente que, em vossa precedente existência, tivésseis sido um homem de
extrema violência, e que provavelmente tereis pago muito caro, talvez com a
própria vida. (...) Todas as filosofias se chocaram contra esses mistérios da
vida humana, que pareciam insondáveis até que o Espiritismo lhes trouxe o seu
facho. Em presença de tais fatos, ainda se pode perguntar para que serve ele?
Estamos no direito de bem augurar o futuro moral da Humanidade quando ele for
compreendido e praticado por todo o mundo.
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