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quarta-feira, 5 de abril de 2017

IMPERFEIÇÕES DO ESPÍRITO E NÃO DO CORPO FÍSICO

A pergunta surgiu em meio a questionamentos de frequentadores de um Centro Espírita: porque tanta agressividade no comportamento dos jovens de hoje? É verdade que o papel dos pais na formação da personalidade dos filhos na atualidade deixa muito a desejar. Mas seria a causa fundamental? O comportamento humano não resulta apenas da influência do meio em que se renasce e vive. Já ao tempo do surgimento do Espiritismo situações intrigantes foram analisadas pelo educador oculto no pseudônimo Allan Kardec. No número de julho de 1963 da REVISTA ESPÍRITA, ele se ocupa do caso de um jovem de 23 anos que, como ele próprio reconhecia, tinha ‘um grande número de defeitos, dos quais o mais saliente era uma irresistível predisposição para a cólera, desde a infância. Pela menor contrariedade, pelas causas mais fúteis, quando entrava em casa e não encontrava imediatamente o que queria; se uma coisa não estivesse no seu lugar habitual; se o que tivesse pedido não estivesse pronto em um minuto, enfurecia-se e tudo quebrava. Era a tal ponto que um dia, num paroxismo de cólera, explodindo contra a mãe, disse-lhe: “Vai-te embora, ou eu te mato!” Depois, esgotado pela superexcitação, caía sem consciência. Acrescente-se que nem os conselhos dos pais, nem as exortações da religião tinham podido vencer esse caráter indomável, compensado, aliás, por uma grande inteligência, uma instrução cuidadosa e os mais nobres sentimentos. Discorrendo sobre o tema, Kardec afirma que ‘o que não pode a Ciência, o Espiritismo o faz, não pela ação do tempo e em consequência de um esforço contínuo, mas instantaneamente. Bastaram alguns dias para fazer desse jovem um ser meigo e paciente. A certeza adquirida da vida futura, o conhecimento do objetivo da vida terrestre, o sentimento da dignidade do homem, revelada pelo livre-arbítrio, que o coloca acima do animal, a responsabilidade daí decorrente, o pensamento de que a maior parte dos males terrenos são a consequência de nossos atos, todas essas ideias, hauridas num estudo sério do Espiritismo, produziram em seu cérebro uma súbita revolução; pareceu-lhe que um véu foi retirado de seus olhos; a vida se lhe apresentou sob outra face.  (...) Seu Espírito era responsável por sua violência, ou se apenas sofria a influência da matéria. Eis a nossa resposta: Vosso Espírito é de tal modo responsável que, quando o quisestes seriamente, controlastes o movimento sanguíneo. Assim, se o tivésseis querido antes, os acessos teriam cessado mais cedo e não teríeis ameaçado vossa mãe. Além disso, quem é que se encoleriza? O corpo ou o Espírito? Se os acessos viessem sem motivo, poder-se-ia crer que eram provocados pelo afluxo sanguíneo; mas, fútil ou não, tinham por causa uma contrariedade. Ora, evidentemente não era o corpo que estava contrariado, mas o Espírito, muito susceptível. Contrariado, o Espírito reagia sobre um sistema orgânico irritável, que não teria sido provocado se tivesse ficado em repouso. (...) Façamos uma comparação. Tendes um cavalo fogoso; se souberdes governá-lo, ele se submete; se o maltratardes, ele se enfurece e vos derruba. De quem a falta: vossa ou do cavalo? Para mim, é evidente que vosso Espírito é naturalmente irascível; mas como cada um traz consigo o seu pecado original, isto é, um resto das antigas inclinações, não é menos evidente que, em vossa precedente existência, tivésseis sido um homem de extrema violência, e que provavelmente tereis pago muito caro, talvez com a própria vida. (...) Todas as filosofias se chocaram contra esses mistérios da vida humana, que pareciam insondáveis até que o Espiritismo lhes trouxe o seu facho. Em presença de tais fatos, ainda se pode perguntar para que serve ele? Estamos no direito de bem augurar o futuro moral da Humanidade quando ele for compreendido e praticado por todo o mundo.

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