O estudo aprofundado do
Espiritismo leva progressivamente a conclusão sobre a não existência de padrões
que generalizam a aplicação das Leis que orientam o processo evolutivo das criaturas.
O caso da desencarnação é um deles. Não existe um caso igual ao outro a partir
da extinção das funções vitais do corpo físico utilizado pelo Espírito em sua
passagem pela nossa Dimensão. Allan Kardec na REVISTA ESPÍRITA de julho
de 1866 escreveu que ‘O LIVRO
DOS ESPÍRITOS não é
um tratado completo de Espiritismo; apenas apresenta as bases e os pontos
fundamentais, que se devem desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela
observação’. Na edição definitiva desse verdadeiro tratado, obteve dos
Espíritos que o auxiliavam na construção da base da Doutrina Espírita que “o Espírito se encontra imediatamente com os
que conheceu na Terra e que morreram antes dele, conforme à afeição que
lhes votava e a que eles lhe
consagravam. Muitas vezes aqueles seus conhecidos o vêm receber à entrada do mundo dos Espíritos e o ajudam a desligar-se das faixas da matéria.
Encontra-se também com muitos
dos que conheceu e perdeu de vista durante a sua vida terrena. Vê os que estão na Erraticidade, como vê os
encarnados e os vai visitar”. E a evolução do pensamento humano foi ampliando
essa visão. Na obra OBREIROS DA VIDA ETERNA, do Espírito André Luiz, pelo médium
Chico Xavier, por exemplo, o autor obtém a informação de que “nem
todas as desencarnações de pessoas dignas contam com
o amparo de grupos socorristas, embora todos os fenômenos do decesso contem com
o amparo da caridade afeta às organizações de assistência indiscriminado. Salienta, no entanto, que a missão especialista não pode ser concedida a quem não se
distinguiu no esforço perseverante do bem. A titulo de exemplo, se serve do caso de “respeitável
senhora, jovem ainda, que pelas disposições sadias que demonstrou no campo da
benemerência social, foi ligada a dedicada corrente de serviço. Verificando-se,
contudo, pequenas rusgas entre ela e o esposo, e tendo conhecimento da imortalidade
da vida, além do sepulcro, desejou a pobre criatura ardentemente morrer. Tolas
leviandades do marido bastaram para que
maldissesse o mundo e a Humanidade. Não soube quebrar a concha do personalismo
inferior e colocar-se a caminho da vida maior. Pela cólera, pela intemperança
mental, criou a ideia fixa de libertar-se do corpo de qualquer maneira, embora
sem utilizar o suicídio direto. Conhecia os Amigos Espirituais a que se
havia unido, mas, longe de assimilar-lhes ajuizadamente os conselhos, repelia-lhes
as advertências fraternas para aceitar tão somente as palavras de
consolação que lhe eram agradáveis, dentre as admoestações salutares que lhe endereçavam.
E tanto pediu a morte, insistindo por ela, entre a mágoa e a irritação persistentes,
que veio a desencarnar em manifestação de icterícia complicada com simples
surto gripal. Tratava-se de verdadeiro suicídio inconsciente, mas a senhora, no
fundo, era extraordinariamente caridosa e ingênua. Não se recebeu qualquer autorização para conceder-lhe descanso e muito
menos auxílio especial. Os Benfeitores de nossa Esfera, apesar de eficiente intercessão
em beneficio da infeliz, somente puderam
afastá-la das vísceras cadavéricas, há dois dias, em condições impressionantes
e tristes. Não havendo qualquer determinação
de assistência particularizada, por parte das Autoridades Superiores, e porque
não seria aconselhável entregá-la ao sabor da própria sorte, em face das
virtudes potenciais de que era portadora, o diretor da comissão de serviço, a
que se filiara a imprevidente amiga, recolheu-a, por espírito de compaixão, em
plena luta, e ela se foi, de roldão, a trabalhar por aí, ativamente, em condições
muito mais sérias e complicadas”. Conclui
sua ilustração dizendo que “não frutifica a
paz legítima sem a semeadura necessária. Alguém, para gozar o descanso, precisa,
antes de tudo, merecê-lo. As almas inquietas entregam-se facilmente ao
desespero, gerando causas de sofrimento cruel”.
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