Ciência, Filosofia e
Religião são as três faces estruturais do Espiritismo. Seu conhecimento,
portanto, depende sempre do estudo. Nada do tradicional “acho que”, alertado, por
sinal, pelo próprio Allan Kardec. Na sequência, alguns comentários inseridos por
ele na edição de janeiro de 1863 da REVISTA
ESPÍRITA: - “Vivemos num oceano fluídico, expostos incessantemente a correntes
contrárias, que atraímos ou repelimos, e às quais nos abandonamos, conforme
nossas qualidades pessoais, mas em cujo meio o homem sempre conserva o seu
livre-arbítrio, atributo essencial de sua natureza, em virtude do qual pode
sempre escolher o caminho. Como se vê isto é inteiramente independente da
faculdade mediúnica, tal como é concebida vulgarmente. Estando a ação do mundo
invisível na ordem das coisas naturais, ela se exerce sobre o homem, abstração
feita de qualquer conhecimento espírita. Estamos a elas submetidos, como o
estamos à influência da eletricidade atmosférica, mesmo não sabendo a Física,
como ficamos doentes, sem conhecer a Medicina. Ora, assim como a Física nos
ensina a causa de certos fenômenos e a Medicina a de certas doenças, o estudo
da ciência espírita nos ensina a causa dos fenômenos devidos às influências
ocultas do mundo invisível e nos explica o que, sem isto, nos parecerá
inexplicável. A mediunidade é o meio direto de observação. O médium – que nos
permitam a comparação – é o instrumento de laboratório pelo qual a ação do
mundo invisível se traduz de maneira patente. E, pela facilidade que nos
oferece de repetir as experiências, permite-nos estudar o modo e os diversos
matizes desta ação. Destes estudos e destas observações nasceu a ciência
espírita. Todo indivíduo que, de uma maneira ou de outra, sofre a influência
dos Espíritos, é, por isto mesmo, médium, razão por que se pode dizer que todo
o mundo é médium. Mas é pela mediunidade efetiva, consciente e facultativa que
se chegou a constatar a existência do mundo invisível e, pela diversidade das
manifestações obtidas ou provocadas, foi possível esclarecer a qualidade dos
seres que o compõem e o papel que representam na Natureza. O médium fez pelo
mundo invisível o que fez o microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos.
É, pois, uma nova força, uma nova faculdade, uma nova lei, numa palavra, que
nos foi revelada. É realmente inconcebível que a incredulidade repila mesmo a
ideia, levando-se em conta que esta ideia supõe em nós uma alma, um princípio
inteligente que sobrevive ao corpo. Se se tratasse da descoberta de uma
substância material e ininteligente, seria aceita sem dificuldade. Mas uma ação
inteligente fora do homem é, para eles, superstição. Se, da observação dos
fatos produzidos pela mediunidade, remontarmos aos fatos gerais, poderemos,
pela similitude dos efeitos, concluir pela similitude das causas. (...) A ação
dos Espíritos maus, sobre os indivíduos de que se apoderam, apresenta nuanças
de intensidade e duração extremamente variadas, conforme o grau de maldade e
perversidade do Espírito e, também, de acordo com o estado moral da pessoa que
lhes dá acesso mais ou menos fácil. Muitas vezes tal ação é temporária e
acidental, mais maliciosa e desagradável que perigosa. (...) Fazer Espiritismo
experimental sem estudo é querer fazer manipulações químicas sem saber Química.
Os numerosos exemplos de pessoas obsidiadas e subjugadas da mais desagradável
maneira, sem jamais terem ouvido falar de Espiritismo, provam exuberantemente
que o exercício da mediunidade não tem o privilégio de atrair os Espíritos
maus. Mais ainda: prova a experiência que é um meio de os afastar, permitindo
reconhecê-los. Todavia, como muitas vezes alguns vagueiam em redor de nós, pode
acontecer que, encontrando oportunidade para se manifestarem, aproveitam-na,
caso encontrem no médium uma predisposição física ou moral, que o torne
acessível à sua influência. Ora, tal predisposição se prende ao indivíduo e a
causas pessoais anteriores, e não à mediunidade. Pode dizer-se que o exercício
da faculdade é uma ocasião e não uma causa. Mas se alguns indivíduos estiverem
neste caso, outros há que oferecem uma resistência insuperável aos Espíritos
maus, e a eles estes últimos não se dirigem. Falamos de Espíritos realmente
maus e perniciosos, na verdade os únicos perigosos, e não de Espíritos levianos
e zombeteiros, que se insinuam por toda parte. A presunção de julgar-se
invulnerável contra os Espíritos maus muitas vezes tem sido punida de maneira cruel,
porque jamais são impunemente desafiados pelo orgulho. O orgulho é a porta que
lhes dá mais fácil acesso, pois ninguém oferece menos resistência do que o
orgulhoso, quando tomado pelo seu lado fraco. Antes de nos dirigirmos aos
Espíritos, convém, pois, proteger-nos contra o ataque dos maus, como se
marchássemos em terreno onde tememos picadas de serpentes. Isto se consegue, de
início, pelo estudo prévio, que indica a rota e as precauções a tomar; depois,
pela prece. Mas é necessário bem nos compenetrarmos da verdade de que o único
preservativo está em nós, em nossa própria força, e nunca nas coisas
exteriores, e que não há talismãs, nem amuletos, nem palavras sacramentais, nem
fórmulas sagradas ou profanas que possam ter a menor eficácia se não tivermos
em nós mesmos as qualidades necessárias. São essas qualidades, portanto, que
nos devemos esforçar por adquirir”.
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