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domingo, 11 de junho de 2017

ALLAN KARDEC MÉDIUM?

Quatro anos após ter publicado O LIVRO DOS ESPÍRITOS - a primeira das obras que organizaria sobre o Espiritismo - , o professor Denizard Hippolyte Léon Rivail oculto no pseudônimo Allan Kardec já enriquecera seu currículo com  um histórico impressionante: Lançara O QUE É O ESPIRITISMO (1859), a versão ampliada d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS (1861); 47 números da REVISTA ESPÍRITA (publicada desde janeiro de 1858); INSTRUÇÕES PRÁTICAS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES ESPÍRITAS (1858);  O LIVRO DOS MÉDIUNS (1861). Paralelamente às lutas pela sobrevivência, iniciara também as atividades da Sociedade Espírita de Paris. A intensidade, qualidade e densidade desses trabalhos fez surgir entre seus seguidores a seguinte dúvida: produzira tanto por ser médium? Para esclarecer a dúvida, aproveitou palestra proferida em 14 de outubro de 1861 quando visitou a cidade de Bordeaux, cuja integra está reproduzida na edição de novembro de 1861 da REVISTA ESPÍRITA. Esquivando-se das manifestações que lhe faziam seguidores da importante cidade francesa dizendo nela ver “uma homenagem prestada à Doutrina e aos Espíritos bons que no-la ensinam, muito mais que a ele pessoalmente, que não passava de um instrumento nas mãos da Providência, acrescentando que ‘é tudo quanto me cabe e, assim, jamais me considerei seu criador: a honra pertence inteiramente aos Espíritos”, colocaria um ponto final nas especulações sobre a questão dizendo: - “Nos trabalhos que tenho feito para alcançar o objetivo a que me propunha, sem dúvida fui ajudado pelos Espíritos, como eles próprios já me disseram várias vezes, mas sem o menor sinal exterior de mediunidade. Assim, não sou médium, no sentido vulgar da palavra, e hoje compreendo que é uma felicidade que assim o seja. Por uma mediunidade efetiva, eu só teria escrito sob uma mesma influência; teria sido levado a não aceitar como verdade senão o que me tivesse sido dado, e talvez injustamente, ao passo que, na minha posição, convinha que eu desfrutasse de uma liberdade absoluta para captar o bom, onde quer que se encontrasse e de onde viesse. Foi possível, assim, fazer uma seleção dos diversos ensinamentos, sem prevenção e com total imparcialidade. Vi muito, estudei muito e observei bastante, mas sempre com o olhar impassível; nada ambiciono, senão ver a experiência que adquiri posta em proveito dos outros. É por eles que me sinto feliz, por poder evitar os escolhos inseparáveis de todo noviciado. Se trabalhei muito e se trabalho todos os dias, estou largamente recompensado pela marcha tão rápida da Doutrina, cujos progressos ultrapassam tudo quanto seria permitido esperar, pelos resultados morais que ela produz. (...) Ele (o Espiritismo) tira da sua natureza, de sua própria essência, uma força irresistível. Qual, então, o segredo dessa força? No Espiritismo não há mistérios; tudo se faz às claras; podemos revelá-lo sem temor, altivamente. Embora já o tenha dito, talvez não seja fora de propósito repeti-lo aqui, a fim de que se saiba que se entregamos aos adversários o segredo de nossas forças é porque também lhes conhecemos o lado fraco. A força do Espiritismo tem duas causas preponderantes: a primeira é tornar felizes os que o conhecem, o compreendem e o praticam. Ora, como há pessoas infelizes, ele recruta um exército inumerável entre os que sofrem. Querem lhe tirar esse elemento de propagação? Que tornem os homens de tal modo felizes, moral e materialmente, que nada mais tenham a desejar, nem neste, nem no outro mundo. Não pedimos mais, desde que o objetivo seja atingido. A segunda é que o Espiritismo não se assenta na cabeça de nenhum homem, sujeitando-se, assim, a ser derrubado; não tem um foco único, que possa ser extinto; seu foco está em toda parte, porque em toda parte há médiuns que podem comunicar-se com os Espíritos; não há família que não os possua em seu seio e que não realizem estas palavras do Cristo: Vossos filhos e filhas profetizarão, e terão visões; porque, enfim, o Espiritismo é uma ideia e não há barreiras impenetráveis à ideia, nem bastante altas que estas não possam transpor. Mataram o Cristo, mataram seus apóstolos e discípulos. Mas o Cristo tinha lançado ao mundo a ideia cristã, e esta ideia triunfou da perseguição dos Césares onipotentes. Por que, então, o Espiritismo, que não é senão o desenvolvimento e a aplicação da ideia cristã, não triunfaria sobre alguns zombeteiros e  antagonistas que, até o presente, apesar de seus esforços, só lhe puderam opor uma negação estéril?

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