Quatro anos após ter
publicado O LIVRO DOS ESPÍRITOS - a
primeira das obras que organizaria sobre o Espiritismo - , o professor Denizard
Hippolyte Léon Rivail oculto no pseudônimo Allan Kardec já
enriquecera seu currículo com um
histórico impressionante: Lançara O QUE
É O ESPIRITISMO (1859), a versão ampliada d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS (1861); 47 números da REVISTA ESPÍRITA (publicada desde janeiro de 1858); INSTRUÇÕES PRÁTICAS SOBRE AS MANIFESTAÇÕES
ESPÍRITAS (1858); O LIVRO DOS MÉDIUNS (1861). Paralelamente
às lutas pela sobrevivência, iniciara também as atividades da Sociedade Espírita de Paris. A
intensidade, qualidade e densidade desses trabalhos fez surgir entre seus
seguidores a seguinte dúvida: produzira tanto por ser médium? Para esclarecer a
dúvida, aproveitou palestra proferida em 14 de outubro de 1861 quando visitou a
cidade de Bordeaux, cuja integra está reproduzida na edição de novembro
de 1861 da REVISTA ESPÍRITA.
Esquivando-se das manifestações que lhe faziam seguidores da importante cidade
francesa dizendo nela ver “uma homenagem prestada à Doutrina e aos
Espíritos bons que no-la ensinam, muito mais que a ele pessoalmente, que não
passava de um instrumento nas mãos da Providência, acrescentando que ‘é
tudo quanto me cabe e, assim, jamais me considerei seu criador: a honra
pertence inteiramente aos Espíritos”, colocaria um ponto final nas
especulações sobre a questão dizendo: - “Nos trabalhos que tenho feito para alcançar
o objetivo a que me propunha, sem dúvida fui ajudado pelos Espíritos, como eles
próprios já me disseram várias vezes, mas sem o menor sinal exterior de
mediunidade. Assim, não sou médium, no sentido vulgar da palavra, e hoje
compreendo que é uma felicidade que assim o seja. Por uma mediunidade efetiva,
eu só teria escrito sob uma mesma influência; teria sido levado a não aceitar
como verdade senão o que me tivesse sido dado, e talvez injustamente, ao passo
que, na minha posição, convinha que eu desfrutasse de uma liberdade absoluta
para captar o bom, onde quer que se encontrasse e de onde viesse. Foi possível,
assim, fazer uma seleção dos diversos ensinamentos, sem prevenção e com total
imparcialidade. Vi muito, estudei muito e observei bastante, mas sempre com o
olhar impassível; nada ambiciono, senão ver a experiência que adquiri posta em
proveito dos outros. É por eles que me sinto feliz, por poder evitar os
escolhos inseparáveis de todo noviciado. Se trabalhei muito e se trabalho todos
os dias, estou largamente recompensado pela marcha tão rápida da Doutrina,
cujos progressos ultrapassam tudo quanto seria permitido esperar, pelos
resultados morais que ela produz. (...) Ele (o Espiritismo) tira
da sua natureza, de sua própria essência, uma força irresistível. Qual, então,
o segredo dessa força? No Espiritismo não há mistérios; tudo se faz às claras;
podemos revelá-lo sem temor, altivamente. Embora já o tenha dito, talvez não
seja fora de propósito repeti-lo aqui, a fim de que se saiba que se entregamos
aos adversários o segredo de nossas forças é porque também lhes conhecemos o
lado fraco. A força do Espiritismo tem duas causas preponderantes: a primeira é
tornar felizes os que o conhecem, o compreendem e o praticam. Ora, como há
pessoas infelizes, ele recruta um exército inumerável entre os que sofrem.
Querem lhe tirar esse elemento de propagação? Que tornem os homens de tal modo
felizes, moral e materialmente, que nada mais tenham a desejar, nem neste, nem
no outro mundo. Não pedimos mais, desde que o objetivo seja atingido. A segunda
é que o Espiritismo não se assenta na cabeça de nenhum homem, sujeitando-se,
assim, a ser derrubado; não tem um foco único, que possa ser extinto; seu foco
está em toda parte, porque em toda parte há médiuns que podem comunicar-se com
os Espíritos; não há família que não os possua em seu seio e que não realizem
estas palavras do Cristo: Vossos filhos e filhas profetizarão, e terão visões;
porque, enfim, o Espiritismo é uma ideia e não há barreiras impenetráveis à
ideia, nem bastante altas que estas não possam transpor. Mataram o Cristo,
mataram seus apóstolos e discípulos. Mas o Cristo tinha lançado ao mundo a ideia
cristã, e esta ideia triunfou da perseguição dos Césares onipotentes. Por que,
então, o Espiritismo, que não é senão o desenvolvimento e a aplicação da ideia
cristã, não triunfaria sobre alguns zombeteiros e antagonistas que, até o
presente, apesar de seus esforços, só lhe puderam opor uma negação estéril?
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