A amplitude propiciada
pelo Espiritismo sobre as interações entre o Plano Invisível e o Visível
leva-nos a concluir o quanto a Humanidade terrena precisa amadurecer para que
as contradições sociais diminuam ou mesmo desapareçam nas relações entre os
indivíduos. No tópico justiça não é diferente. Prefaciando o livro AÇÃO E REAÇÃO (1957, feb) do Espírito André Luiz, o Emmanuel também através do médium Chico Xavier pondera que “Von Liszt, eminente criminalista dos tempos modernos, observa que o
Estado, em sua expressão de organismo superior, e excetuando-se, como é claro,
os grupos criminosos que por vezes transitoriamente o arrastam a funestos
abusos do poder, não prescinde da pena, a fim de sustentar a ordem jurídica. A
necessidade da conservação do próprio Estado justifica a pena. Com essa
conclusão, apagam-se, quase que totalmente, as antigas controvérsias entre as
teorias de Direito Penal, de vez que, nesse ou naquele clima de arregimentação
política, a tendência a punir é congenial ao homem comum, em face da
necessidade de manter, tanto quanto possível, a intangibilidade da ordem no
plano coletivo”. Acrescenta também que o Espiritismo revela uma concepção de justiça ainda
mais ampla. A criatura não se encontra simplesmente
subordinada ao critério dos penólogos do mundo, categorizados à conta
de cirurgiões eficientes no tratamento ou na extirpação da gangrena
social. Quanto mais esclarecida a criatura, tanto mais
responsável, entregue naturalmente aos arestos da própria consciência, na Terra ou fora dela, toda vez que se envolve nos espinheiros da culpa. Noutra
obra, André Luiz reproduz comentário de outro Instrutor segundo o
qual o juiz é o médium das leis. Todos os homens em suas
atividades, profissões e associações são instrumentos das forças a que se
devotam. Produzem, de conformidade com os
ideais superiores ou inferiores em que se inspiram, atraindo os elementos
invisíveis que os rodeiam, conforme a natureza dos sentimentos e ideias de que
se nutrem. Já no capítulo 13 do livro LIBERTAÇÃO (feb), um relato interessante revelando uma ocorrência
desdobrada entre dois Planos, onde um dos personagens desencarnados durante as
horas de repouso físico de outro - um juiz encarnado com 20 anos de
experiências -, intervir em favor de vítima aparente de
inconfessável erro judiciário. Horas antes de se deitar para dormir,
o desencarnado aproximou-se ‘colocou-lhe as mãos sobre a fronte, comunicando-nos que prepará-lo-ia para a conversação
próxima, dirigindo-lhe a intuição para as
reminiscências do processo em que fora
implicado. Daí a instantes, os olhos do Juiz exibiam
modificada expressão. Dir-se-ia contemplarem
cenas distanciadas, com indizível tortura.
Mostravam-se angustiados, doridos’. Já semi desligado do corpo físico pelo
entorpecimento natural do sono, inteirado do motivo do encontro com os
desconhecidos diante dos quais se via, procura defender-se da decisão lavrada,
reconhece ter sido o juiz da causa, ter consultado os
códigos necessários antes de emitir a sentença, ter sido o crime averiguado, os
laudos periciais e as testemunhas condenaram o réu, não podendo, em sã consciência,
aceitar intromissões, mesmo tardias, sem argumentação ponderosa e cabível. Ouve
então os argumentos do visitante, os quais valem a pena ser revistos para
reflexões: Os fluidos da carne tecem um véu pesado demais
para ser facilmente rompido pelos que se não afeiçoam, ainda, diariamente, ao
contacto da espiritualidade superior. Referes-te ao título que a convenção
humana te conferiu. (...) O homem que aceitou a mordomia, no quadro dos
bens materiais ou espirituais do Planeta, nunca alardeia superioridade, quando
consciente das obrigações que lhe cabem, por entender na administração fiel um
caminho de aprimoramento, mesmo através de extremo sofrimento moral. Distribuir
amor e justiça, simultaneamente, na atualidade da Terra, em que a maioria das
criaturas menosprezam semelhantes dádivas, é crivar-se de dores. Admites que o
homem viverá sem contas, ainda mesmo aquele que se supõe capacitado para julgar
o próximo, em definitivo?
Acreditas haja o teu raciocínio acertado em todos os enigmas da senda? Terás
agido imparcialmente em todas as decisões? Não creias... O Justo Juiz foi
crucificado num madeiro de linhas retas por devotar-se no mundo à extrema
retidão. Todos nós, na estrada multissecular do conhecimento edificante, muita vez
colocamos o desejo acima do dever e o capricho a cavaleiro dos princípios
redentores que nos compete observar. Em quantas ocasiões já se te inclinou o
mandato às contrafações da política desintegrante dos homens, ávidos de
transitório poder? Em quantos processos permitiste que os teus sentimentos se
turvassem no personalismo delinquente? Juiz não fosse a compaixão divina que te
concede ao ministério diversos auxiliares invisíveis, amparando-te as ações,
por amor à Justiça que representas, e as vítimas dos teus erros involuntários e
das paixões obcecantes daqueles que te cercam não te permitiriam a permanência no
cargo. Teu palácio residencial mostra-se repleto de sombras. Muitos homens e
mulheres, dos que já sentenciaste em mais de vinte anos, nas lides do direito,
arrebatados pela morte, não conseguiram seguir adiante, colados que se acham
aos efeitos de tuas decisões e demoram-se em tua própria casa, aguardando-te explicações
oportunas. Missionário da lei, sem hábitos de prece e meditação, únicos
recursos através dos quais poderias abreviar o trabalho de esclarecimento que
te assiste, grandes surpresas te reserva o transe final do corpo.
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