Antoine Demeure,
médico homeopata, convertido ao Espiritismo desde seu surgimento, desencarnou
em 21 de janeiro de 1865, na comuna de Albi, a 80 quilômetros de Toulouse,
sudoeste da França. Queridissimo na cidade em que vivia pelos exemplos de
caridade no exercício de sua profissão, o Dr Demeure revelando sua
condição espiritual já no dia seguinte se comunicava mediunicamente na cidade
de Montauban, a 87 quilometros da localidade em que viveu. O mais extraordinário,
contudo foi o fenômeno atribuído a ele, da cura de uma das médiuns dali por
meio do magnetismo espiritual, apenas pela ação fluídica. Como explica o Espiritismo, certos
Espíritos continuam a dedicar-se às suas ocupações terrenas, sem terem
consciência de seu estado, sempre se julgando vivos; é próprio dos Espíritos
pouco adiantados. O Dr. Demeure, contudo, se reconheceu
imediatamente e agia voluntariamente como Espírito com a consciência de, neste
estado, ter maior força. O fato se deu no dia 10 de fevereiro conforme relatado
na edição de abril de 1865 da REVISTA
ESPIRITA. A beneficiada que lhe fora paciente desconhecia a morte do
conhecido médico e, por orientação de Espíritos ligados ao grupo de Montauban,
seus integrantes estavam reunidos para assisti-la por ter sido acometida por
forte entorse num dos pés. Relataram a Allan Kardec as testemunhas: - Tão
logo caiu em sonambulismo, a dama soltou gritos lancinantes, mostrando o pé.
Eis o que se passava: A Sra. G... via um Espírito curvado sobre sua perna, mas
sua fisionomia ficava oculta; realizava fricções e massagens, exercendo de vez
em quando uma tração longitudinal sobre a parte doente, absolutamente como
teria feito um médico. A manobra era tão dolorosa que a paciente por vezes
vociferava e fazia movimentos desordenados. Mas a crise não durou muito; ao
cabo de dez minutos toda a marca de entorse havia desaparecido, não mais edema,
o pé havia recobrado sua aparência normal. A Sra. G... estava curada. Quando se
pensa que para curar completamente uma afecção desse gênero, os mais dotados
magnetizadores e os mais experientes, sem falar da medicina oficial, que ainda
não chegou a uma solução, é necessário um tratamento cuja duração nunca é
inferior a trinta e seis horas, consagrando três sessões por dia, com uma hora
de duração cada uma, esta cura em dez minutos, pelo fluido espiritual, pode bem
ser considerada como instantânea, com tanto mais razão, como diz o próprio
Espírito numa comunicação que encontrareis a seguir, quanto era de sua parte
uma primeira experiência feita com vistas a uma aplicação posterior, em caso de
êxito. Entretanto, o Espírito ficava sempre desconhecido do médium, persistindo
em não mostrar suas feições; dava mesmo a impressão de querer fugir, quando, de
um salto só, nossa doente, que minutos antes não podia dar um passo, se lança
no meio do quarto para pegar e apertar a mão de seu médico espiritual. Dessa
vez o Espírito virou-se para ela, deixando sua mão na dela. Neste momento a
Sra. G... solta um grito e cai desfalecida no parquete: acabava de reconhecer o
Sr. Demeure no Espírito curador”. Analisando o caso, Allan
Kardec observa que a cura reportada acima é um exemplo da ação
do magnetismo espiritual puro, sem qualquer mescla com o magnetismo humano. Por
vezes os Espíritos se servem de médiuns especiais, como condutores de seu
fluido. São esses os médiuns curadores propriamente ditos, cuja faculdade
apresenta graus muito diversos de energia, conforme sua aptidão pessoal e a
natureza dos Espíritos que os assistem. (...) Seria, pois, um erro acreditar
que, pelo fato de se ter obtido uma cura, mesmo difícil, podem ser obtidas
todas, em virtude de o fluido próprio de certos doentes ser refratário ao
fluido do médium; a cura é tanto mais fácil quanto mais naturalmente se opera a
assimilação dos fluidos. (..) A mediunidade curadora está exclusivamente na
ação fluídica mais ou menos instantânea. Não se deve confundi-la nem com o
magnetismo humano, nem com a faculdade que têm certos médiuns de receber dos
Espíritos a indicação de remédios. Estes últimos são apenas médiuns
receitistas16, como outros são médiuns poetas ou desenhistas.
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