Allan Kardec nas suas análises sobre a
evolução da dinâmica dos ensinos da Espiritualidade em nosso Plano, preservou o resultado de suas avaliações nas páginas
da REVISTA ESPÍRITA. No número de outubro
de 1860, por exemplo, encontramos vários itens extremamente interessantes
não somente sobre a qualidade dos trabalhos em função da dimensão dos grupos,
mas também sobre os Espíritos a eles ligados e os tipos de seguidores das
ideias propostas pela Doutrina Espírita. Vamos a alguns pontos destacados de
seus comentários:- Há três categorias de adeptos: os que se limitam a acreditar na
realidade das manifestações e que, antes de mais, buscam os fenômenos. Para
eles o Espiritismo é uma série de fatos mais ou menos interessantes. Os
segundos veem algo mais do que fatos; compreendem o seu alcance filosófico;
admiram a moral que dele resulta, mas não a praticam. Para eles a caridade
moral é uma bela máxima, e eis tudo. Os terceiros, enfim, não se contentam em
admirar a moral: praticam-na e aceitam todas as suas consequências. Bem
convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de
aproveitar esses curtos instantes para marchar na senda do progresso que lhes
traçam os Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e reprimir suas inclinações
más. Suas relações são sempre seguras, porque suas convicções os afastam de
todo pensamento do mal. Em tudo a caridade lhes é regra de conduta. São estes
os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas-cristãos. Sabe-se que as
melhores comunicações são obtidas em reuniões pouco numerosas, sobretudo
naquelas em que reinam harmonia e comunhão de sentimentos. Ora, quanto maior
for o número, mais difícil será a obtenção dessa homogeneidade. Como é
impossível que no começo de uma ciência, ainda tão nova, não surjam algumas
divergências na maneira de apreciar certas coisas, dessa divergência
infalivelmente nasceria um mal-estar, que poderá levar à desunião. Ao
contrário, os pequenos grupos serão sempre mais homogêneos; as pessoas se
conhecem melhor, estão mais em família e podem ser mais bem admitidos as que
desejamos. E, como em última análise, todos tendem para um mesmo objetivo, podem
entender-se perfeitamente e haverão de entender-se tanto melhor quanto não haja
aquele melindre incessante, que é incompatível com o recolhimento e a
concentração de espírito. Os Espíritos maus, que buscam incessantemente semear
a discórdia, ferindo suscetibilidades, terão sempre menos domínio num pequeno
grupo do que num meio numeroso e heterogêneo. Numa palavra, a unidade de vistas
e de sentimento nele será mais fácil de estabelecer. A multiplicidade dos
grupos tem outra vantagem: a de obter uma variedade muito maior de
comunicações, pela diversidade de aptidão dos médiuns. Que essas reuniões
parciais comuniquem reciprocamente o que elas obtêm, cada uma por seu lado, de
modo que todas aproveitem os seus mútuos trabalhos. Aliás, chegará o momento em
que o número de aderentes não permitiria mais uma reunião única, que deveria
fracionar-se pela força das coisas. Eis por que preferível é fazer imediatamente
aquilo que serão obrigados a fazer mais tarde. Incontestavelmente, do ponto de
vista da propaganda, não é nas grandes reuniões que os neófitos podem colher
elementos de convicção, mas na intimidade. Há, pois, um duplo motivo para
preferir os pequenos grupos, que podem multiplicar-se ao infinito. Ora, vinte
grupos de dez pessoas, por exemplo, indiscutivelmente obterão mais e farão mais
prosélitos que uma reunião única de duzentas pessoas. Há pouco falei das
divergências que podem surgir, e disse que elas não deviam criar obstáculos ao
perfeito entendimento entre os diferentes centros. Com efeito, essas
divergências só podem dar-se nos detalhes e não sobre o fundo. O objetivo é o
mesmo: o melhoramento moral; o meio é o mesmo: o ensino dado pelos Espíritos.
Se tal ensino fosse contraditório; se, evidentemente, um devesse ser falso e o
outro verdadeiro, notai bem que isto não poderia alterar o objetivo, que é
conduzir o homem ao bem, para sua maior felicidade presente e futura. Ora, o
bem não poderia ter dois pesos e duas medidas. Do ponto de vista científico ou
dogmático é, contudo, útil ou, pelo menos, interessante, saber quem está certo
e quem está errado. Pois bem! Tendes um critério infalível para o apreciar,
quer se trate de simples detalhes, quer de sistemas radicalmente divergentes; e
isto se aplica não somente aos sistemas espíritas, mas a todos os sistemas
filosóficos. Examinai, antes, o que é mais lógico, o que melhor corresponde às
vossas aspirações, que melhor pode alcançar o objetivo. O mais verdadeiro será,
evidentemente, aquele que explica melhor, que melhor dá a razão de tudo. Se se
puder opor a um sistema um único fato em contradição com a sua teoria, é que a
teoria é falsa ou incompleta.
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