Por vezes as pessoas se
admiram, com aparente razão, quando encontram em indivíduos indignos,
faculdades notavelmente desenvolvidas, e que deveriam ser, de preferência,
atributo de homens virtuosos e isentos de preconceitos; e, contudo, a história
dos séculos passados apresenta, quase que a cada página, exemplos de
mediunidades notáveis, possuídas por Espíritos inferiores e impuros, por
fanáticos sem raciocínio! Qual pode ser o motivo de tal anomalia? A
dúvida bastante compreensível e natural também foi objeto de estudo de Allan
Kardec nas páginas da REVISTA
ESPÍRITA de outubro de 1867. A resposta havia sido dada pelo Espírito Clélie
Duplantier em reunião da Sociedade Espírita de Paris na reunião de 22
de fevereiro daquele ano, como complemento da matéria MÉDICOS-MÉDIUNS. Diz ela: - Aí
nada há que possa causar admiração; um estudo um pouco sério e refletido do
problema dará a sua chave. Quando fenômenos extraordinários, pertencentes à
ordem extracorporal, são produzidos, realmente o que acontece? – É que individualidades
encarnadas servem de órgãos de transmissão à manifestação. Elas são
instrumentos movidos por uma vontade exterior. Ora, demandariam a um simples
instrumento o que se exigiria do artista que o faz vibrar?... Se é evidente que
um bom piano é preferível a um defeituoso, não é menos certo que, num como no
outro, se distinguirá o toque do artista do de um principiante. Se, pois, o
Espírito que intervém na cura encontra um bom instrumento, dele se servirá de
bom grado; senão empregará o que lhe oferecerem, por mais defeituoso que seja. Também
é preciso considerar, no exercício da faculdade mediúnica, e em particular no
exercício da mediunidade curadora, que podem apresentar-se dois casos bem
distintos: ou o médium pode ser curador por sua própria iniciativa, ou não
passa de um agente, mais ou menos passivo, de um motor excepcional. No primeiro
caso, só poderá agir se suas virtudes e sua força moral lho permitirem. Será um
exemplo na sua conduta, privada ou pública, um modelo, um missionário vindo
para servir de guia ou de sinal de ligação aos homens de boa vontade! O Cristo
é a personificação suprema do curador. Quanto àquele que é apenas um médium,
sendo instrumento, pode ser mais ou menos defeituoso, e os atos que se operam
por seu intermédio de modo algum o impedem de ser imperfeito, egoísta,
orgulhoso ou fanático. Membro da grande família humana, da mesma maneira que a
generalidade, participa de todas as suas fraquezas. Lembrai-vos destas palavras
de Jesus: “Não são os que gozam de saúde que
precisam de médico.” Há que se ver,
então, um sinal da vontade da Providência nessas faculdades que se desenvolvem
em meios e em pessoas imperfeitas. É um meio de lhes dar a fé que, mais cedo ou
mais tarde, os conduzirá ao bem; se não for hoje, será amanhã; são sementes que
não estão perdidas, porque vós, espíritas, sabeis que nada se perde para o
Espírito. Em naturezas moralmente e fisicamente mais rudes, não é raro
encontrar faculdades transcendentes, porque essas individualidades, por terem
pouca ou nenhuma vontade pessoal, limitam-se a deixar agir a influência que as
dirige. Poder-se-ia dizer que agem por instinto, ao passo que uma inteligência
mais desenvolvida, querendo se dar conta da causa que a põe em movimento, por
vezes se coloca em condições que não permitem uma realização tão fácil dos
desígnios providenciais. Por mais bizarros e inexplicáveis que sejam os efeitos
que se produzem aos vossos olhos, estudai-os atentamente, antes de considerar
um só como infração às leis eternas do Mestre Supremo! Não há uma só que não
afirme a sua existência, a sua justiça e a sua sabedoria eternas; se a
aparência disser o contrário, crede bem que será apenas uma aparência, que
desaparecerá para dar lugar à realidade, com um estudo mais aprofundado das
leis conhecidas e o conhecimento daquelas cuja descoberta está reservada ao
futuro.
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