Avançando além dos
conhecimentos a respeito do Fluido Vital como sintetizado na nota à questão 70
d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan
Kardec desenvolveu inúmeras observações sobre a novidade resultante dos
esclarecimentos dos Espíritos ouvidos por ele. Na sequencia, uma demonstração
disso destacada da matéria com que abre o número de janeiro de 1863 da REVISTA ESPÍRITA. Escreve ele: - O perispírito
representa importante papel em todos os fenômenos da vida; é a fonte de uma
porção de afecções, cuja causa é em vão buscada pelo escalpelo na alteração dos
órgãos, e contra as quais é impotente a terapêutica. Por sua expansão
explicam-se, ainda, as reações de indivíduo a indivíduo, as atrações e as
repulsões instintivas, a ação magnética, etc. Espírito livre, isto é,
desencarnado, substitui o corpo material; é o agente sensitivo, o órgão por
meio do qual ele age. Pela natureza fluídica e expansiva do perispírito, o
Espírito alcança o indivíduo sobre o qual quer atuar, rodeia-o, envolve-o,
penetra-o e o magnetiza. Vivendo em meio ao mundo invisível, o homem está
incessantemente submetido a essas influências, assim como às da atmosfera que
respira, traduzindo-se aquelas por efeitos morais e fisiológicos dos quais não
se dá conta e que, muitas vezes, atribui a causas inteiramente contrárias. Essa
influência difere, naturalmente, segundo as qualidades, boas ou más, do
Espírito, como já explicamos no artigo anterior. Se ele for bom e benevolente a
influência, ou, se quisermos, a impressão, é agradável e salutar; é como as
carícias de uma terna mãe, que abraça o filho. Se for mau e perverso, será
dura, penosa, aflitiva e por vezes perniciosa; não abraça: constrange. Vivemos
num oceano fluídico, expostos incessantemente a correntes contrárias, que
atraímos ou repelimos, e às quais nos abandonamos, conforme nossas qualidades
pessoais, mas em cujo meio o homem sempre conserva o seu livre-arbítrio,
atributo essencial de sua natureza, em virtude do qual pode sempre escolher o
caminho. Como se vê, isto é inteiramente independente da faculdade mediúnica,
tal como é concebida vulgarmente. Estando a ação do mundo invisível na ordem
das coisas naturais, ela se exerce sobre o homem, abstração feita de qualquer
conhecimento espírita. Estamos a elas submetidos, como o estamos à influência
da eletricidade atmosférica, mesmo não sabendo a Física, como ficamos doentes,
sem conhecer a Medicina. Ora, assim como a Física nos ensina a causa de certos
fenômenos e a Medicina a de certas doenças, o estudo da ciência espírita nos
ensina a causa dos fenômenos devidos às influências ocultas do mundo invisível
e nos explica o que, sem isto, nos parecerá inexplicável. A mediunidade é o
meio direto de observação. O médium – que nos permitam a comparação – é o
instrumento de laboratório pelo qual a ação do Mundo Invisível se traduz de
maneira patente. E, pela facilidade que nos oferece de repetir as experiências,
permite-nos estudar o modo e os diversos matizes desta ação. Destes estudos e
destas observações nasceu a ciência espírita. Todo indivíduo que, de uma
maneira ou de outra, sofre a influência dos Espíritos, é, por isto mesmo,
médium, razão por que se pode dizer que todo o mundo é médium. Mas é pela
mediunidade efetiva, consciente e facultativa que se chegou a constatar a
existência do mundo invisível e, pela diversidade das manifestações obtidas ou
provocadas, foi possível esclarecer a qualidade dos seres que o compõem e o
papel que representam na Natureza. O médium fez pelo mundo invisível o que fez
o microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos. É, pois, uma nova força,
uma nova faculdade, uma nova lei, numa palavra, que nos foi revelada. É
realmente inconcebível que a incredulidade repila mesmo a ideia, levando-se em
conta que esta ideia supõe em nós uma alma, um princípio inteligente que
sobrevive ao corpo. Se se tratasse da descoberta de uma substância material e
ininteligente, seria aceita sem dificuldade. Mas uma ação inteligente fora do
homem é, para eles, superstição. Se, da observação dos fatos produzidos pela
mediunidade, remontarmos aos fatos gerais, poderemos, pela similitude dos
efeitos, concluir pela similitude das causas. Ora, é constatando a analogia dos
fenômenos com aqueles que diariamente a mediunidade põe aos nossos olhos que
nos parece evidente a participação dos Espíritos malfazejos naquela
circunstância; e não o será menos para quantos tiverem meditado sobre os
numerosos casos isolados, relatados na REVISTA ESPÍRITA. A única diferença está no caráter epidêmico da afecção. Mas a
História registra alguns fatos semelhantes, entre os quais figuram o das
religiosas de Loudun, dos convulsionários de Saint-Médard, dos calvinistas das
Cévènes e dos possessos do tempo do Cristo (...) em qualquer parte onde esses fenômenos se
produzissem, a ideia de que fossem devidos a Espíritos era o pensamento
dominante e como que intuitiva naqueles por eles afetados.
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