A edição de novembro
de 1967 da REVISTA ESPÍRITA
inclui interessante comentário de Allan Kardec sobre os surpreendentes
fenômenos sobre ocorrências futuras. Diz o texto: - Não se poderia negar os
pressentimentos, dos quais há poucas pessoas que não tenham tido exemplos. É um
desses fenômenos cuja explicação a matéria, sozinha, é impotente para dar,
porque se a matéria não pensa, também não pode pressentir. É assim que o
materialismo a cada instante se choca contra as coisas mais comuns que o vêm
desmentir. Para ser advertido de maneira oculta daquilo que se passa ao longe e
cujo conhecimento não podemos ter senão num futuro mais ou menos próximo pelos
meios ordinários, é preciso que algo se desprenda de nós, veja e escute o que
não podemos perceber pelos olhos e pelos ouvidos, para referir a sua intuição
ao nosso cérebro. Esse algo deve ser inteligente, visto que compreende e,
muitas vezes, de um fato atual ele prevê as consequências futuras; é assim que
por vezes temos o pressentimento do futuro. Esse algo não é outra coisa senão
nós mesmos, nosso Ser espiritual, que não está confinado no corpo, como um
pássaro na gaiola, mas que, semelhante a um balão cativo, se afasta
momentaneamente da Terra, sem deixar de a ela estar ligado. É principalmente
nos momentos em que o corpo repousa, durante o sono, que o Espírito,
aproveitando o pequeno descanso que lhe deixa o cuidado de seu invólucro,
recobra parcialmente a liberdade e vai haurir no espaço, entre os outros
Espíritos, encarnados como ele, ou desencarnados, e naquilo que vê, ideias cuja
intuição traz ao despertar. Esta emancipação da alma frequentemente se dá no
estado de vigília, nos momentos de absorção, de meditação e de devaneio, em que
a alma parece não estar mais preocupada com a Terra; ocorre, sobretudo de
maneira mais efetiva e mais ostensiva, nas pessoas dotadas do que se chama
dupla vista ou visão espiritual. Ao lado das intuições pessoais do Espírito,
há que se colocar as que lhe são sugeridas por outros Espíritos, quer em
vigília, quer durante o sono, pela transmissão de pensamento de alma a alma. É
assim que muitas vezes se é advertido de um perigo, solicitado a tomar tal ou
qual direção, sem que por isto o Espírito deixe de ter o seu livre-arbítrio.
São conselhos, e não ordens, porque é sempre senhor de sua vontade. Os
pressentimentos têm, pois, a sua razão de ser e encontram a sua explicação
natural na Vida Espiritual, que não cessamos um instante de viver, porque é a
vida normal. Já não se dá o mesmo com os fenômenos físicos, considerados como
prognósticos de acontecimentos felizes ou infelizes. Em geral esses fenômenos
não têm nenhuma ligação com as coisas que parecem pressagiar. Podem ser os
precursores de efeitos físicos que são a sua consequência, como um ponto negro
no horizonte pode pressagiar ao marinheiro uma tempestade, ou certas nuvens
anunciar uma saraivada, mas a significação desses fenômenos para as coisas de
ordem moral deve ser classificada entre as crenças supersticiosas, que nunca
seriam combatidas com demasiada energia. Essa crença, que absolutamente não
repousa sobre nada de racional, faz que, quando chega um acontecimento, a gente
se lembre de algum fenômeno que o precedeu, e ao qual o Espírito impressionado
o liga, sem se importar com a possibilidade de relações que só existem na
imaginação. Não pensam que os mesmos fenômenos se repetem diariamente, sem que
daí resulte nada de azar, e que os mesmos acontecimentos chegam a cada instante
sem serem precedidos por nenhum pretenso sinal precursor. Se se tratar de
acontecimentos que digam respeito a interesses gerais, narradores crédulos ou,
no mais das vezes, oficiosos, para lhes exaltar a importância aos olhos da
posteridade, amplificam os prognósticos, que se esforçam por tornar mais
sinistros e mais terríveis, adicionando-lhes supostas perturbações da Natureza,
das quais os tremores de terra e os eclipses são os acessórios obrigatórios,
como fez o bispo de Rodez a propósito da morte de Henrique IV. Esses relatos
fantásticos, que muitas vezes tinham sua fonte nos interesses dos partidos,
foram aceitos sem exame pela credulidade popular que viu, ou à qual queriam
fazer ver, milagres nesses estranhos fenômenos. Quanto aos acontecimentos
vulgares, na maioria das vezes o homem é a sua primeira causa. Não querendo
confessar suas próprias fraquezas, busca uma desculpa pondo à conta da Natureza
as vicissitudes que são quase sempre o resultado de sua imprevidência e de sua
imperícia. É em suas paixões, em seus defeitos pessoais que deve buscar os
verdadeiros prognósticos de suas misérias, e não na Natureza, que não se desvia
da rota que Deus lhe traçou por toda a Eternidade. Explicando por uma lei
natural a verdadeira causa dos pressentimentos, o Espiritismo demonstra, por isso
mesmo, o que há de absurdo na crença nos prognósticos. Longe de dar crédito à
superstição, ele lhe tira seu último refúgio: o sobrenatural.
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