No número de fevereiro
de 1861 da REVISTA ESPÍRITA,
Allan
Kardec responde: - Há médiuns escreventes; médiuns videntes; médiuns
audientes; médiuns intuitivos; isto é, médiuns que escrevem – os mais numerosos
e os mais úteis; médiuns que veem os Espíritos; que os ouvem e conversam com
eles como com os vivos – estes são raros; outros recebem em seu cérebro o
pensamento do Espírito evocado e o transmitem pela palavra. Raramente um médium
possui todas essas faculdades ao mesmo tempo. Existem ainda médiuns de outro
gênero, cuja simples presença num lugar qualquer permite a manifestação dos
Espíritos, quer por meio de golpes vibrados, quer pelo movimento dos corpos,
tal como o deslocamento de uma mesinha de três pés, o levantamento de uma
cadeira, de uma mesa ou de qualquer outro objeto. Foi por esse meio que os
Espíritos começaram a manifestar-se e a revelar a sua existência. Ouviste falar
das mesas girantes e da dança das mesas; como eu, também riste delas. E daí?
Foram os primeiros meios de que os Espíritos se serviram para chamar a atenção;
assim foi reconhecida a sua presença, depois do que, com o auxílio da
observação e do estudo, chegou-se a descobrir no homem faculdades até então
ignoradas, por intermédio das quais ele pode entrar em comunicação. Não é
maravilhoso tudo isto? Entretanto é apenas natural; somente repito que à nossa
época estava reservada a descoberta e a aplicação desta ciência, como de muitos
outros segredos admiráveis da Natureza. Agora, para nos pormos em relação com
os Espíritos, ou, pelo menos, para ver se estamos aptos a fazê-lo pela escrita,
toma-se de uma folha de papel e de um lápis em boas condições, posicionando-se
para escrever. É sempre bom começar por dirigir uma prece a Deus; em seguida
evoca-se um Espírito, isto é, pede-se que tenha a bondade de vir comunicar-se
conosco e de nos fazer escrever; por fim espera-se, sempre na mesma posição. Há
pessoas que têm a faculdade mediúnica de tal forma desenvolvida que já começam
a escrever logo de início; outras, ao contrário, só veem essa faculdade
desenvolver-se com o tempo e a perseverança. Neste último caso, repete-se a
sessão todos os dias, para o que basta um quarto de hora; é inútil gastar mais
tempo; mas, tanto quanto possível, deve-se repeti-la diariamente, sendo a
perseverança uma das primeiras condições de sucesso. Também é necessário fazer
sua prece e sua evocação com fervor; mesmo repeti-la durante o exercício; ter
vontade firme, um grande desejo de ser bem-sucedido e, sobretudo, nada de
distração. Uma vez obtida a escrita, essas últimas precauções tornam-se
inúteis. Quando se está para escrever, sente-se em geral um ligeiro
estremecimento na mão, às vezes precedido de uma leve dormência na mão e no
braço e, até mesmo, de discreta dor nos músculos do braço e da mão; são sinais
precursores e, quase sempre, indicativos de que o momento do sucesso está
próximo. Algumas vezes é imediato; outras, porém, se faz esperar ainda um ou
vários dias, mas nunca tarda em demasia. Apenas para chegar nesse ponto é
preciso mais ou menos tempo, que pode variar de um instante a seis meses; mas,
repito, basta um quarto de hora de exercício por dia. Quanto aos Espíritos que
podem ser evocados para tais tipos de exercícios preparatórios, é preferível
dirigir-se ao nosso Espírito familiar, que sempre está próximo e jamais nos
deixa, ao passo que os outros podem estar ali apenas momentaneamente, ou não se
encontrarem no instante em que os evocamos, ou, ainda, estarem
impossibilitados, por uma causa qualquer, de atender ao nosso apelo, como por
vezes acontece. O Espírito familiar, que até certo ponto confirma a teoria
católica do anjo-da-guarda, não é, entretanto, exatamente aquilo que nos
apresenta o dogma católico. É simplesmente o Espírito de um mortal, que viveu
como nós, mas que é muito mais adiantado que nós e, consequentemente, nos é
infinitamente superior em bondade e em inteligência; que realiza uma missão
meritória para si, proveitosa para nós, desse modo nos acompanhando neste mundo
e no outro, até ser chamado a uma nova encarnação, ou até que nós mesmos,
chegados a um certo grau de superioridade, sejamos chamados a realizar, na
outra vida, missão semelhante junto a um mortal menos evoluído do que nós. Como
bem vês, meu caro amigo, tudo isto entra maravilhosamente nas nossas ideias de
solidariedade universal.
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