O professor e estudioso da
Doutrina Espírita José Benevides Cavalcante autor do livro FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA (eme), prossegue analisando temas
propostos por interessados na visão derivada do conhecimento do ESPIRITISMO. Desta
vez, esclarece sobre JESUS NEGRO, SALVAÇÃO, ESTUDO DA DOUTRINA, CONCEPÇÃO DE
DEUS 1- Achei extraordinário e
criativo o fato de Ariano Suassuna apresentar um Jesus negro na peça “O Auto da
Compadecida”, porque acredito que o preconceito de raça também existe no seio
da religião, que sempre quis mostrar um Jesus branco, até mesmo loiro, num povo
de raça semita, que não podia comportar essas características físicas. A
maioria das pessoas ainda não se deu conta disso e se submetem ingenuamente ao
preconceito... Não resta dúvida de que o
dramaturgo nordestino quis também chamar a atenção, principalmente dos
católicos, para a questão racial e discriminação de cor, quando apresenta Jesus
e sua mãe em corpos de negros. A cena pode ter parecido estranha para muitos
espectadores e pode, até mesmo, ter chocado outros. Seria interessante um estudo
dessas reações!...Na história, quem primeiramente pintou Jesus (e sua mãe) nas
telas e nos afrescos, foram os artistas da Idade Média, que eram europeus, e
que atendiam a encomendas dos religiosos, ainda comprometidos com o conceito de
superioridade de raça. Acrescente-se a isso o fato de que Jesus, para os
católicos, é o próprio Deus, que deveria ostentar as características de uma
raça superior. Os europeus (dominadores) sempre viram os demais povos (
dominados) como inferiores e assim os têm tratado, de modo que só podiam
conceber Jesus revestido de um porte europeu com todas as características da
raça ariana, até mesmo como um homem loiro, alto e de olhos azuis. Nós,
espíritas, com muito mais responsabilidade, precisamos tomar cuidado com isso e
não embarcarmos nessa mesma onda de raça superior que tanto mal já causou e tem
causado à Humanidade, pois sabemos que a superioridade do indivíduo não está na
raça ou no corpo que lhe serve de instrumento na Terra, mas nas qualidades de
seu Espírito. Por outro lado, Kardec é muito feliz quando afirma em sua obra
que a reencarnação destrói todos os motivos de preconceito, pois o Espírito
pode renascer em qualquer raça de qualquer povo e em qualquer época. 2- O que é melhor:
pensar que estamos salvos ou pensar que estamos perdidos? Quando a religião
promete salvação aos seus adeptos, ela não está ajudando- a viver melhor? De fato, entre pensar que estamos perdidos e
pensar que estamos salvos, é melhor ficar com a segunda postura, pois o
pensamento pessimista ou derrotista nos arrasa e nos enfraquece, roubando o
sentido da vida. Mas devemos considerar também que cada caso é um caso, uma vez
que os indivíduos reagem diferentemente diante da mesma situação. Há pessoas
que, alimentadas pelo otimismo, fazem coisas boas, praticam bons atos, mas há
aquelas que, com a certeza da salvação, acomodam-se no seu egoísmo ou se
prevalecem dessa condição para exibir uma pretensa superioridade, perseguindo e
esmagando aqueles que não pensam como ela. Ademais, o otimismo é sempre
perigoso quando assentado na ignorância, porque não sabe o que faz. Imagine uma
pessoa que, entra num compartimento, pensando que ali dorme um gato, quando, na
verdade, o que a espera é um leão faminto! A ignorância costuma nos cobrar
muito caro pelos erros de cálculo e imaginação. Pensar que seremos salvos é
bom, desde que consideremos que essa felicidade depende de nosso esforço e do
Bem que pudermos fazer pelo próximo. 3- Gostaria de saber se uma pessoa pode ser espírita sem estudar o
Espiritismo. A princípio, podemos considerar espírita a
pessoa que aceita como verdade, ao mesmo tempo, todos os princípios
fundamentais do Espiritismo, como a existência de Deus, a imortalidade da alma,
a comunicabilidade dos Espíritos, a reencarnação, a fé racional, a pluralidade
dos mundos habitados e as leis morais. Há pessoas, que mesmo analfabetas ou
semi-alfabetizadas, demonstram enorme disposição para compreender e aceitar o
Espiritismo, como se já trouxessem no íntimo suas ideias e ideais. Mas , não
podemos esquecer que o Espiritismo pede estudo e aprimoramento sempre, porque a
doutrina em si é um campo de conhecimentos que tem uma finalidade educativa;
ela mesma está aberta às novas descobertas, atualizando-se constantemente. O
espírita consciente, portanto, é aquele que não se isola, que procura
participar de um grupo idôneo, onde tenha a oportunidade de aprimorar seus
conhecimentos, acompanhar a evolução da doutrina, aprendendo sempre mais, além
de dedicar-se ativamente a atividades culturais ou assistenciais que o grupo
porventura desenvolva. 4- Li com interesse o primeiro capítulo d’O LIVRO DOS ESPIRITOS,
que fala sobre Deus. Achei interessante a visão espírita de Deus como
inteligência perfeita, mas acho que, no conceito de Deus, primeira questão, os
Espiritos deveriam incluir também os outros atributos, como bondade, justiça,
misericórdia, etc. para ficar mais completo. Você está se referindo aos atributos de
Deus, que vêm na questão 13, mas nada impede que você mesmo construa o seu
próprio conceito de Deus. O problema, que os Espíritos colocam, está na
dificuldade natural que temos de conceituar a Perfeição. Por sermos
imperfeitos, qualquer conceito que podemos construir a respeito de Deus será
inevitavelmente imperfeito. A ideia, que podemos fazer de Deus, é mais
intuitiva e, quando falamos ou escrevemos a seu respeito, percebemos o quanto
as palavras limitam a intuição. Para mais profundidade no tema, leia “CONCEPÇÃO
EXISTENCIAL DE DEUS” de J. Herculano
Pires, “QUE É DEUS?” de Elizeu F. da
Mota Junior e “DEUS É O ABSURDO”, de
Luciano dos Anjos.
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