Notícia publicada em
periódico de grande circulação na França, foi objeto de análise de Allan
Kardec no número de fevereiro de 1864 da REVISTA ESPÍRITA por envolver fato de extrema gravidade: um suicídio. “Eis a história. Ele era um velho de setenta
e dois anos; ela, uma jovem de vinte. Haviam casado há três anos... Não vos
revolteis! o velho Conde, originário de Viterbo, era absolutamente sem família,
o que é muito estranho para um milionário! Amália não era sem família, mas
antes sem milhões. Para compensar as coisas, quase a tendo visto nascer,
sabendo-a de bom coração e de espírito encantador, ele tinha dito à mãe:
‘Deixai-me paternalmente casar com Amália; durante alguns anos ela cuidará de
mim; e depois...’ “Fez-se o casamento. Amália compreende os seus deveres; cerca
o velho dos mais assíduos cuidados e lhe sacrifica todos os prazeres de sua
idade. Tendo o Conde ficado cego e quase paralítico, ela passava longas horas
do dia a lhe fazer companhia, leituras, a lhe contar tudo quanto o podia
distrair e encantar. ‘Como sois boa, minha cara filha!’, exclamava ele muitas
vezes, tomando-lhe as mãos e atraindo-a para depor sobre sua fronte o casto e
doce beijo da ternura e do reconhecimento. “Entretanto, um dia notou que Amália
se afasta de sua pessoa; que, embora sempre assídua e cheia de solicitude,
parece temer sentar-se ao seu lado. Uma suspeita lhe atravessa o Espírito. Uma
noite, quando ela fazia a leitura, ele lhe agarra o braço, a atrai para si e
enlaça-lhe a cintura; então, soltando um grito terrível, cai desmaiado aos pés
da jovem! Amália perde a cabeça; lança-se para a escada, atinge o andar mais
alto da casa, precipita-se pela janela e cai despedaçada. O velho não
sobreviveu mais que seis horas a esta catástrofe”. Partindo do relato,
Kardec pondera: - Haverão de perguntar que relação pode ter esta história com o
Espiritismo. Vê-se aí a intervenção de alguns Espíritos maliciosos? (...) O
Espiritismo vê duas vítimas. (...) Vê um suicídio; e como sabe que esse crime é
sempre punido, pergunta qual o grau de responsabilidade em que incorre aquele
que o cometeu. O Espiritismo toca em
todas as questões morais. (...) Já que o fato foi tornado público, é permitido
apreciá-lo. (...) Para o espírita, ela tem um lado mais sério, pois aí busca um
ensinamento. Então perguntaremos se, na ação do velho, não haveria mais egoísmo
que generosidade ao submeter uma moça, quase criança, à sua caducidade, por
laços indissolúveis, numa idade em que, antes, deveria pensar no recolhimento,
e não nos prazeres da vida? Se, impondo-lhe esse duro sacrifício, não era
fazê-la pagar bem caro a fortuna que ele lhe prometera? Não há verdadeira
generosidade sem desinteresse. Quanto à jovem, não podia aceitar esses laços
senão com a perspectiva de os ver rompidos em breve, já que nenhum motivo de
afeição a ligava ao velho. Havia, pois, cálculo de ambos os lados e esse
cálculo foi frustrado; Deus não permitiu que nenhum deles o aproveitasse,
infligindo a desilusão a um e a vergonha ao outro, que os mataram a ambos.
Resta a responsabilidade do suicídio, que jamais fica impune, mas que, muitas
vezes, encontra circunstâncias atenuantes. A mãe da moça, para a encorajar a
aceitá-lo, havia dito: “Com esta grande fortuna farás a felicidade do homem pobre
que amares. Enquanto esperas, honra e respeita esse grande coração que quis
fazer-te sua herdeira, durante o tempo que lhe restar de vida.” Era tomá-la
pelo lado sensível; mas, para fruir dos benefícios desse grande coração, que
teria sido muito maior se a tivesse dotado sem interesse, era preciso especular
sobre a duração de sua vida. A jovem errou ao ceder, mas a mãe errou mais em
excitá-la e certamente é a ela que incorrerá a maior parte da
responsabilidade do suicídio da filha. Assim, aquele que se mata para
escapar à miséria é culpado da falta de coragem e de resignação, mas, muito
mais culpado ainda, é o causador primário desse ato de desespero. Eis o que
o Espiritismo ensina, pelos exemplos que põe aos nossos olhos e aos daqueles
que estudam o mundo invisível..
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