Surgido em meados do século
19, o Espiritismo foi seguido no século 20 por grande quantidade de
alternativas espiritualistas que por sua vez atendem anseios e necessidades
de grande número de pessoas em várias regiões do Planeta. Diante disso, surge
naturalmente a pergunta: qual o real papel a ser cumprido pela Doutrina
Espírita. Allan Kardec na edição de agosto de 1865, da REVISTA ESPÍRITA oferece alguns
elementos para reflexões. Diz ele: -O Espiritismo contribui para a regeneração
da Humanidade: isto é um fato constatado. Ora, não podendo essa regeneração
operar-se senão pelo progresso moral, resulta que seu objetivo essencial,
providencial, é o melhoramento de cada um; os mistérios que pode nos revelar
são a parte acessória, porquanto, ao nos abrir o santuario de todos os
conhecimentos só estaremos mais adiantados para o nosso estado futuro se formos
melhores. Para nos admitir no banquete da suprema felicidade, Deus não pergunta
o que sabemos, nem o que possuímos, mas o que valemos e o bem que fizemos.
Portanto, é acima de tudo pelo seu melhoramento individual que todo espírita
sincero deve trabalhar. Só aquele que dominou suas más tendências aproveitou
realmente o Espiritismo e receberá a sua recompensa. É por isto que os
Espíritos bons, por ordem de Deus, multiplicam suas instruções e as repetem até
à saciedade; só um orgulho insensato pode dizer: não preciso de mais. Só Deus
sabe quando serão inúteis, e só a ele cabe dirigir o ensino de suas mensagens e
de o proporcionar ao nosso adiantamento. Contudo, vejamos se, fora do
ensinamento puramente moral, os resultados do Espiritismo são tão estéreis
quanto pretendem alguns. 1– Antes de mais ele dá, como todos sabem, a prova
patente da existência e da imortalidade da alma. Não é uma descoberta, é
verdade, mas é por falta de provas sobre este ponto que há tantos incrédulos ou
indiferentes quanto ao futuro; é provando o que não passava de teoria que ele
triunfa sobre o materialismo e previne suas funestas consequências para a
sociedade. Tendo mudado em certeza a dúvida quanto ao futuro, o Espiritismo
opera toda uma revolução nas ideias, cujos resultados são incalculáveis. Se aí
se limitasse exclusivamente o resultado das manifestações, quão imensos seriam
esses resultados! 2 – Pela firme crença que desenvolve, exerce poderosa ação
sobre o moral do homem; impele-o ao bem, consola-o nas aflições, dá-lhe força e
coragem nas provações da vida e lhe desvia do pensamento o suicídio. 3–
Retifica todas as ideias falsas que se tivessem sobre o futuro da alma, sobre o
céu, o inferno, as penas e recompensas; destrói radicalmente, pela irresistível
lógica dos fatos, os dogmas das penas eternas e dos demônios; numa palavra,
descobre-nos a vida futura e no-la mostra racional e conforme à justiça de
Deus. É ainda uma coisa que tem muito valor. 4 – Dá a conhecer o que se passa
no momento da morte; este fenômeno, até hoje insondável, não mais tem
mistérios; as menores particularidades dessa passagem tão temível são hoje
conhecidas. Ora, como todos morrem, este conhecimento interessa a todo o mundo.
5 – Pela lei da pluralidade das existências, abre um novo campo à filosofia; o
homem sabe de onde vem, para onde vai e com que objetivo está na Terra. Explica
a causa de todas as misérias humanas, de todas as desigualdades sociais; dá as
próprias leis da Natureza como base dos princípios de solidariedade universal,
de fraternidade, de igualdade e de liberdade, que só se assentavam na teoria.
Enfim, projeta luz sobre as mais árduas questões da metafísica, da psicologia e
da moral. 6 – Pela teoria dos fluidos perispirituais, torna conhecido o
mecanismo das sensações e das percepções da alma; explica os fenômenos da dupla
vista, da vista a distância, do sonambulismo, do êxtase, dos sonhos, das
visões, das aparições, etc.; abre novo campo à Fisiologia e à Patologia. 7 –
Provando as relações existentes entre o mundo corporal e o mundo espiritual,
mostra neste último uma das forças ativas da Natureza, um poder inteligente e
dá a razão de uma porção de efeitos atribuídos a causas sobrenaturais, e que
alimentaram a maior parte das idéias supersticiosas. 8 – Revelando o fato das
obsessões, faz conhecer a causa, até aqui desconhecida, das numerosas afecções,
sobre as quais a Ciência se havia enganado em prejuízo dos doentes, e dá os
meios de os curar. 9 – Dando-nos a conhecer as verdadeiras condições da prece e
seu modo de ação; revelando-nos a influência recíproca dos Espíritos encarnados
e desencarnados, ensina-nos o poder do homem sobre os Espíritos imperfeitos
para os moralizar e os arrancar aos sofrimentos inerentes à sua inferioridade. 10
– Tornando conhecida a magnetização espiritual, que era desconhecida, abre novo
caminho ao magnetismo e lhe traz um novo e poderoso elemento de cura. O mérito
de uma invenção não está na descoberta de um princípio, quase sempre conhecido
anteriormente, mas na aplicação desse princípio. Sem dúvida a reencarnação não
é uma ideia nova, como o perispírito descrito por São Paulo sob o nome de corpo
espiritual também não o é, e nem mesmo a comunicação com os Espíritos.
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