Genericamente
repetindo informações plantadas na memória por escolas religiosas tradicionais,
afirmam muitos a presença e ação de Deus em momentos cruciais das próprias
existências. Allan Kardec nas páginas da REVISTA ESPÍRITA oferece alguns conteúdos interessantes para nossas reflexões. 1- Como acreditar que Deus pode atender aos rogos da criatura humana? As flutuações que sua vontade pode imprimir
aos acontecimentos da própria vida de modo algum perturbam a harmonia
universal, pois essas mesmas flutuações faziam parte das provas que incumbem ao
homem na Terra. No limite das coisas que dependem da
vontade do homem, Deus pode, pois, sem derrogar suas leis, anuir a uma prece,
quando é justa, e cuja realização pode ser útil; mas acontece muitas vezes que
ele julga a sua utilidade e a sua oportunidade de modo diverso que nós, razão
por que nem sempre aquiesce. Se
lhe aprouver atendê-la, não é modificando seus decretos soberanos que o fará,
mas por meios que não saem da ordem geral, se assim nos podemos exprimir. Os Espíritos, executores de sua vontade,
são então encarregados de provocar as circunstâncias que devem levar ao
resultado desejado. Quase
sempre esse resultado requer o concurso de algum encarnado; é, pois, esse
concurso que os Espíritos preparam, inspirando os que devem nele cooperar o
pensamento de uma ação, incitando-os a ir a um ponto e não a um outro,
provocando encontros propícios que parecem devidos ao acaso. Ora, o acaso não existe nem na
assistência que se recebe, nem nas desgraças que se experimenta. Nas aflições, a prece não só é uma prova
de confiança e de submissão à vontade de Deus, que a escuta, se for pura e
desinteressada, mas ainda tem por efeito, como sabeis, estabelecer uma corrente
fluídica que leva longe, no espaço, o pensamento do aflito, como o ar leva os
acentos de sua voz. Este
pensamento repercute nos corações simpáticos ao sofrimento e estes, por um
movimento inconsciente e como atraídos por um poder magnético, dirigem-se para
o lugar onde sua presença pode ser útil. Deus, que quer socorrer aquele que o
implora, sem dúvida poderia fazê-lo por si mesmo, instantaneamente, mas, como
eu disse, ele não faz milagres, e as coisas devem seguir seu curso natural; ele
quer que os homens pratiquem a caridade, socorrendo-se uns aos outros. Por seus mensageiros, o lamento que
encontra eco é levado até ele e lá os Espíritos bons insuflam um pensamento
benévolo. Embora
provocado, este pensamento deixa ao homem toda a sua liberdade, por isto mesmo
que sua fonte é desconhecida; nada o constrange; ele tem, por conseguinte, todo
o mérito da espontaneidade, se ceder à voz íntima que nele faz apelo ao
sentimento do dever, e todo o demérito se resistir, porque dominado por uma
indiferença egoísta. (RE; 5/1865) Num perigo
iminente, em que a assistência deve ser imediata, como pode o socorro de Deus
chegar em tempo hábil ? Não deveis esquecer que os Anjos-da-Guarda, os Espíritos Protetores,
cuja missão é velar pelos que lhes são confiados, os seguem, a bem dizer, passo
a passo. Não lhes podem poupar as apreensões dos
perigos, que fazem parte de suas provações; mas se as consequências do perigo
podem ser evitadas, como o previram antes, não esperam o último momento para
preparar o socorro. Se,
por vezes, dirigem-se aos homens de má vontade, é visando procurar despertar
neles bons sentimentos, mas não contam com eles. Quando, numa posição crítica, uma pessoa
se acha, como que de propósito, para vos assistir, e exclamais que “é a
Providência que a envia”, dizeis uma verdade bem maior do que muitas vezes
supondes. Se há casos
prementes, outros que o são menos exigem certo tempo para trazer um concurso de
circunstâncias favoráveis, sobretudo quando é preciso que os Espíritos
triunfem, pela inspiração, da apatia das pessoas cuja cooperação é necessária
para o resultado a obter. Essas
demoras na realização do desejo são provas para a paciência e a resignação;
depois, quando chega a realização do que se desejou, é quase sempre por um
encadeamento de circunstâncias tão naturais que absolutamente nada denuncia uma
intervenção oculta, nada afeta a mais leve aparência de maravilhoso; as coisas
parecem arranjar-se por si mesmas. Isto deve ser assim pelo duplo motivo de
que os meios de ação não se afastam das leis gerais e, em segundo lugar, que se
a assistência dos Espíritos fosse muito evidente, o homem se fiaria neles e habituar-se-ia
a não contar consigo mesmo. Essa
assistência deve ser compreendida por ele por pensamento, pelo senso moral, e
não pelos sentidos materiais; sua crença deve ser o resultado de sua fé e de
sua confiança na bondade de Deus. Infelizmente, porque não viu o dedo de Deus
fazer um milagre para ele, muitas vezes esquece aquele a quem deve sua salvação
para glorificar o acaso. (RE; 5/1866)
Texto muito esclarecedor.
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