Uma dúvida que paira entre
os que se aproximam do Espiritismo é quanto à possibilidade demonstrada pelos
fatos de acontecimentos serem antecipados nas visões de algumas pessoas. É possível?
Allan
Kardec desenvolveu uma Teoria da Presciência em que explica isso.
Reproduzida na REVISTA ESPÍRITA de maio
de 1864, depois seria incluída na obra A GÊNESE lançada em 1868. De seus argumentos, destacamos um trecho
para avaliação: - De conformidade com o grau de sua perfeição, pode um Espírito abarcar
um período de alguns anos, de alguns séculos, mesmo de muitos milhares de anos,
porquanto, que é um século em face do Infinito? Diante dele, os acontecimentos
não se desenrolam sucessivamente, como os incidentes da estrada diante do
viajor: ele vê simultaneamente o começo e o fim do período; todos os eventos
que, nesse período, constituem o futuro para o homem da Terra são o presente
para ele, que poderia então vir dizer-nos com certeza: Tal coisa acontecerá em
tal época, porque essa coisa ele a vê como o homem da montanha vê o que espera
o viajante no curso da viagem. Se assim não procede, é porque poderia ser
prejudicial ao homem o conhecimento do futuro, conhecimento que lhe pearia o livre
arbítrio, paralisá-lo-ia no trabalho que lhe cumpre executar a bem do seu
progresso. O se lhe conservarem desconhecidos o bem e o mal com que topará
constitui para o homem uma prova. Se tal faculdade, mesmo restrita, se pode
contar entre os atributos da criatura, em que grau de potencialidade não
existirá no Criador, que abrange o infinito? Para o Criador, o tempo não
existe: o princípio e o fim dos mundos lhe são o presente. Dentro desse
panorama imenso, que é a duração da vida de um homem, de uma geração, de um
povo? Entretanto, como o homem tem de concorrer para o progresso geral, como
certos acontecimentos devem resultar da sua cooperação, pode convir que, em
casos especiais, ele pressinta esses acontecimentos, a fim de lhes preparar o
encaminhamento e de estar pronto a agir, em chegando a ocasião. Por isso é que
Deus, às vezes, permite se levante uma ponta do véu; mas, sempre com fim útil,
nunca para satisfação da vã curiosidade. Tal missão pode, pois, ser conferida,
não a todos os Espíritos, porquanto muitos há que do futuro não conhecem mais
do que os homens, porém a alguns Espíritos bastante adiantados para
desempenhá-la. Ora, é de notar-se que as revelações dessa espécie são sempre
feitas espontaneamente e jamais, ou, pelo menos, muito raramente, em resposta a
uma pergunta direta. Pode também semelhante missão ser confiada a certos
homens, desta maneira: Aquele a quem é dado o encargo de revelar uma coisa
oculta recebe, à sua revelia e por inspiração dos Espíritos que a conhecem, a
revelação dela e a transmite maquinalmente, sem se aperceber do que faz. É
sabido, ao demais, que, assim durante o sono, como em estado de vigília, nos
êxtases da dupla vista, a alma se desprende e adquire, em grau mais ou menos
alto, as faculdades do Espírito livre. Se for um Espírito adiantado, se,
sobretudo, houver recebido, como os profetas, uma missão especial para esse
efeito, gozará, nos momentos de emancipação da alma, da faculdade de abarcar,
por si mesmo, um período mais ou menos extenso, e verá, como presente, os
sucessos desse período. Pode então revelá-los no mesmo instante, ou conservar
lembrança deles ao despertar. Se os sucessos hajam de permanecer secretos, ele
os esquecerá, ou apenas guardará uma vaga intuição do que lhe foi revelado, bastante
para o guiar instintivamente. É assim que em certas ocasiões essa faculdade se
desenvolve providencialmente, na iminência de perigos, nas grandes calamidades,
nas revoluções, e é assim também que a maioria das seitas perseguidas adquire
numerosos videntes.
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