Na edição de Julho de 1866 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec
incluiu uma matéria que certamente esclarece
duvidas levantadas por pessoas que se aproximam do Espiritismo e estranham o
fato de, sobretudo nas OBRAS BÁSICAS
encontrarem textos assinados por Espíritos que se identificam como Santos.
Sabendo-se que tal título é atribuído pela Igreja Católica a personagens que se
destacaram no meio em que viveram por ações que os diferenciavam da maioria
dominante, reproduzimos a seguir o material a seguir para avaliação dos
interessados: - Num grupo de província, tendo-se apresentado um Espírito sob o nome de
“São José, santo, três vezes santo”, isto deu ensejo a que se fizesse a
seguinte pergunta: Um Espírito, mesmo canonizado em
vida, pode dar-se a qualificação de santo, sem faltar à humildade, que é um dos
apanágios da verdadeira santidade e, invocando-o, permite que lhe deem esse
título? O Espírito que o toma deve, por esse fato, ser tido por suspeito? Um
outro Espírito respondeu: “Deveis rejeitá-lo imediatamente, pois equivaleria a
um grande capitão que se vos apresentasse exibindo pomposamente seus numerosos
feitos de armas, antes de declinar o seu, ou a um poeta que começasse por se
gabar de seus talentos. Veríeis nessas palavras um orgulho despropositado.
Assim deve ser com homens que tiveram algumas virtudes na Terra e que foram
julgados dignos de canonização. Se se apresentarem a vós com humildade, crede
neles; se vierem se fazendo preceder de sua santidade, agradecei e nada
perdereis. O encarnado não é santo porque foi canonizado: só Deus é santo,
porque só ele possui todas as perfeições. Vede os Espíritos superiores, que
conheceis pela sublimidade de seus ensinamentos: eles não ousam dizer-se
santos; qualificam-se simplesmente de Espíritos de verdade.” Esta resposta
demanda algumas retificações. A canonização não implica
a santidade no sentido absoluto, mas simplesmente um certo grau de perfeição.
Para alguns a qualificação de santo tornou-se uma espécie de título banal,
fazendo parte integrante do nome, para os distinguir de seus homônimos, ou que
lhes dão por hábito. Santo Agostinho, São Luís, São Tomé, podem, pois, antepor
o nome santo à sua assinatura, sem que o façam por um sentimento de orgulho,
que seria tanto mais descabido em Espíritos superiores que, melhor que os
outros, não fazem nenhum caso das distinções dadas pelos homens. Dar-se-ia o mesmo
com os títulos nobiliárquicos ou as patentes militares. Seguramente aquele que
foi duque, príncipe ou general na Terra não o é mais no mundo dos Espíritos e,
no entanto, assinando, poderão tomar essas qualificações, sem que isto tenha
consequência para o seu caráter. Alguns assinam: aquele que, quando vivo na
Terra, foi o duque de tal. O sentimento do Espírito se revela pelo conjunto de
suas comunicações e por sinais inequívocos em sua linguagem. É assim que não
nos podemos enganar sobre aquele que começa por se dizer: “São José, santo,
três vezes santo.” Só isto bastaria para revelar um Espírito impostor,
adornando-se com o nome de São José. Assim, ele pôde ver, graças ao
conhecimento dos princípios da doutrina, que sua velhacaria não encontrou
ingênuos no círculo onde quis introduzir-se. O Espírito que ditou a comunicação
acima é, pois, muito absoluto no que concerne à qualificação de santo e não
está certo quando diz que os Espíritos superiores se dizem simplesmente
Espíritos de verdade, qualificação que não passaria de um orgulho disfarçado
sob outro nome, e que poderia induzir em erro, se tomado ao pé da letra, porque
nenhum se pode vangloriar de possuir a verdade absoluta, nem a santidade
absoluta. A qualificação de Espírito de verdade não pertence senão a um só, e
pode ser considerada como nome próprio; está especificada no Evangelho. Aliás,
esse Espírito se comunica raramente e apenas em circunstâncias especiais.
Devemos pôr-nos em guarda contra os que se adornam indevidamente com esse
título: são fáceis de reconhecer, pela prolixidade e pela vulgaridade de sua
linguagem
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