Nestes tempos de tanta
disponibilidade de informações alguns religiosos se valem das limitações
culturais e de acesso a tecnologia para propalar informações erradas. É o caso
da que será esclarecida pelo professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA,
eme) na sequencia. É verdade que Jesus foi o fundador da Igreja
Católica e Pedro seu primeiro papa? Esta é, pelo menos, a versão que a
Igreja passa para seus fiéis e proclama para o Mundo todo, mas não corresponde
precisamente ao que se passou na História. Jesus, na verdade, não fundou
religião alguma. Muitos estudiosos da religião o consideram um moralista e não
um religioso. Isto porque iniciou um movimento de moralização da sociedade,
através da transformação do homem; tratava-se de uma visão nova de religiosidade,
onde a relação do homem com Deus (religião) devia ser precedida da relação do
homem com o homem (moral) através da fraternidade: "Um novo mandamento
vos dou, que vos ameis uns aos outros". Segundo Mateus (16:18), ele
teria delegado a Pedro a liderança na continuidade dessa missão, mas Will
Durant, in "CESAR E CRISTO",
afirma que "essa passagem é tida como enxerto", posteriormente
acrescentada ao Evangelho de Mateus por motivos óbvios. A propósito, Pinheiro Martins,
in "HISTÓRIA DA FORMAÇÃO DO NOVO TESTAMENTO", vê com estranheza o fato de Marcos, autor do Evangelho mais
antigo, não fazer nenhuma referência a essa suposta delegação de Jesus a Pedro,
uma vez que Marcos (João Marcos) fora íntimo de Pedro e servira como intérprete
do Apóstolo, quando este pregava aos Gentios. Quanto ao movimento moralizador,
iniciado por Jesus, em nada se parecia com as religiões formais da época, nem
mesmo com o judaísmo (ele combatia ardorosamente os religiosos, principalmente
os fariseus) , pois sua doutrina era de cunho estritamente moral, simples e
direta, sem dogmas, cultos, sacerdotes, templos ou qualquer tipo de adoração
exterior. No entanto, quem, de fato, assumiu a liderança do movimento depois
chamado cristão, após a sua morte, foi Saulo de Tarso (depois, Paulo,
considerado por muitos como o fundador do Cristianismo, face às novas
características que o movimento foi tomando), antigo perseguidor de seus
adeptos. Jesus, certamente, buscou Paulo, na falta de alguém mais preparado e
arrojado, por causa de sua cultura e de seu caráter íntegro. Todavia, o
movimento, que se seguiu a Jesus, passou a tomar características religiosas
comuns, por influência dos próprios cristãos, que vinham do Judaísmo, e de
outras religiões da época. Foi quando se consolidou o Cristianismo propriamente
dito, marcado por implacáveis perseguições e cruéis martírios, em face da
intolerância dos romanos e também por aguerridos conflitos internos, até porque
os próprios cristãos não se entendiam sobre vários pontos da religião., principalmente
em relação à natureza do Cristo. Nos dois primeiros séculos, esse movimento se
organizou com muita dificuldade e sacrifícios, formando as igrejas locais
(ekklesía, ecclesia = assembleia) com seus padres e bispos, e assumindo a
feição de religião sacerdotal com ofícios litúrgicos, no que se assemelhava ao
Judaísmo. Houve tentativas de organização e centralização do comando do
movimento, em face da existência de vários bispos, que assumiam indiscutíveis
lideranças. "A palavra papa (pai) era, nos primeiros séculos, aplicada a
qualquer bispo cristão, como ao papa Clemente, que aparece como autor de uma
carta, escrita em 96, à Igreja de Corinto". Contudo, a Igreja Católica
Romana, com a estrutura dogmática que ela tem hoje, só se consolidou
posteriormente, no século IV, a partir
do Concílio de Nicéia, no ano 325 depois de Cristo, com o Imperador
Constantino, já na fase de declínio do império. Depois de declarar o
Cristianismo crescente como religião oficial, estabeleceu sua sede definitiva
em Roma, determinando-lhe uma estrutura adaptada do Estado e da religião
romana, como o próprio título de Sumo Pontífice, "que era usado para
designar a autoridade do Imperador como chefe da religião cívica", segundo
o historiador Edward M. Burns, in "HISTÓRIA DA CIVILIZAÇÃO
OCIDENTAL". Com o Imperador Constantino
ficaram assentadas as bases de uma igreja única e universal (católica), ao
mesmo tempo em que eram declaradas heresias todas as ideias que não se
coadunassem com os pontos estabelecidos no "CREDO DE NICÉIA". A partir de então, os cristãos, de
dominados, passaram a dominadores e a Igreja Romana passou a exercer a sua
grande hegemonia.
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