Ao responder na
questão 459 d’O LIVRO DOS ESPÍRITOS que a ação dos desencarnados sobre
os encarnados é maior do que eles supõem, Allan Kardec abriu
campo para o desenvolvimento da realidade da obsessão explicada anos depois n’O
LIVRO DOS MÉDIUNS. Na sequencia, algumas respostas de Kardec a
perguntas que naturalmente surgem. Os Espíritos desencarnados
tomam parte ativa em nossas vidas? Muito
comumente os Espíritos são vistos assim pelos videntes: os veem ir, vir,
entrar, sair, circular em meio aos vivos, dando a impressão – pelo menos os
Espíritos comuns – de tomar parte ativa no que se passa em seu redor e
interessar-se conforme o assunto, escutando o que se diz. Por vezes, vê-se que se
aproximam das pessoas, soprando-lhes ideias, influenciando-as, consolando-as. (RE,4/1861) De que forma? Em todos os tempos os bons e os sábios
ajudaram os intelectualmente desenvolvidos por inspirações, ao passo que outros
se limitam a nos guiar nos atos ordinários da vida; mas essas inspirações, que ocorrem
pela transmissão de pensamento a pensamento, são imperceptíveis, discretas e
não podem deixar qualquer traço material. Se o Espírito quiser
manifestar-se ostensivamente, é preciso que aja sobre a matéria; se quer que
seu ensino, em vez de ter o vago e incerto pensamento, tenha precisão e
estabilidade, precisa de sinais materiais e para tanto – deixam passar a
expressão – serve-se de tudo que lhe cai às mãos, desde que nas condições
apropriadas à sua natureza. Serve-se de uma pena, de um lápis, se quiser
escrever, de um objeto qualquer, mesa ou panela, se quiser bater, sem que por
isso seja humilhado. (RE; 4/1861) Mesmo ignorando a realidade da influência espiritual seremos
responsabilizados por efeitos advindos dela? Se sucumbirmos não nos poderemos queixar senão
de nós mesmos, porque a ignorância não nos servirá de desculpa. O perigo está
no império que os maus Espíritos exercem sobre as pessoas, o que não é apenas
uma coisa funesta, do ponto de vista dos erros de princípios que aqueles podem
propagar, como ainda do ponto de vista dos interesses da vida material. (RE;
7/1859) Tal influência é constante
e permanente ? É preciso não perder de vista que os Espíritos constituem
todo um mundo, toda uma população que enche o espaço, circula ao nosso lado,
mistura-se em tudo quanto fazemos. Se se viesse a levantar o véu que nô-los
oculta, vê-los-íamos em redor de nós, indo e vindo, seguindo-nos, ou nos
evitando segundo o grau de simpatia; uns indiferentes, ocultos, outros muito
ocupados quer consigo mesmos, quer com os homens, aos quais se ligam, com um
propósito mais ou menos louvável, segundo as qualidades que os distinguem. Numa
palavra veríamos uma réplica do gênero humano, com suas boas e más qualidades,
com suas virtudes e com seus vícios. Este acompanhamento, ao qual não podemos
escapar, porque não há recanto bastante oculto para se tornar inacessível aos
Espíritos, exerce sobre nós, queiramos ou não, uma influência permanente. Uns
nos impelem para o Bem, outros para o mal; muitas vezes as nossas decisões são
resultado de sua sugestão; felizes quando temos juízo bastante para discernir o
bom e o mau caminho, por onde nos procuram arrastar. (RE;
8/1859) Os Espíritos mal
intencionados podem se servir de qualquer encarnado para produzir o mal que
intencionam? Quando os
Espíritos imperfeitos solicitam alguém a fazer uma coisa má, sabem eles muito
bem a quem se dirigem e não vão perder tempo onde veem que serão mal recebidos;
eles nos excitam conforme nossas inclinações ou conforme os germens que em nós
veem e segundo as nossas disposições para os escutar. Eis porque o homem firme
nos princípios do Bem, não lhes dá oportunidade. (RE;
1/1859)
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