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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

A MISSÃO DO ESPIRITISMO

O artigo abre a edição de abril de 1859 da REVISTA ESPÍRITA com Allan Kardec oferecendo aos leitores argumentos sobre a missão do Espiritismo. Diz ele: - Todos nós, sem exceção, mais cedo ou mais tarde atingiremos o termo fatal da vida; nenhuma força nos poderá subtrair a essa necessidade, eis o que é positivo. As preocupações do mundo muitas vezes nos desviam o pensamento daquilo que se passa além-túmulo; quando, porém, chega o momento supremo, poucos são os que não se perguntam em que se transformarão, pois a idéia de deixar a existência sem possibilidade de retorno tem algo que corta o coração. Realmente, quem poderia encarar com indiferença a hipótese de uma separação absoluta e eterna de tudo quanto amou? Quem poderia ver sem pavor abrir-se à sua frente o imenso abismo do nada, em que iriam desaparecer para sempre todas as nossas faculdades, todas as nossas esperanças? “Quê! depois de mim o nada; nada mais que o vazio; tudo acabado e sem retorno; mais alguns dias e a minha lembrança se apagará na memória dos que me sobreviverem; em breve não restará nenhum traço de minha passagem na Terra; o próprio bem que fiz será esquecido pelos ingratos a quem obsequiei; e nada compensará tudo isso, nenhuma outra perspectiva a não ser meu corpo sendo roído pelos vermes.” Este quadro do fim de um materialista, traçado por um Espírito que tinha vivido esses pensamentos, não tem algo de horrível, de glacial? Ensina-nos a religião que não pode ser assim, e a razão no-lo confirma. Mas essa existência futura, vaga e indefinida, nada tem que satisfaça o nosso amor do que é positivo. É isso que gera a dúvida em muitas pessoas. Consideremos que tenhamos uma alma. Mas o que é a nossa alma? Terá uma forma, uma aparência qualquer? É um ser limitado ou indefinido? Dizem uns que é um sopro de Deus; outros que é uma centelha; outros, que é uma parte do grande todo, o princípio da vida e da inteligência. Mas o que significa tudo isso? Diz-se, ainda, que é imaterial. Mas uma coisa imaterial não poderia ter propriedades definidas; para nós isto nada representa. Ensina-nos ainda a religião que seremos felizes ou infelizes, conforme o bem ou o mal que houvermos feito. Mas o que é essa felicidade que nos espera no seio de Deus? Será uma beatitude, uma contemplação eterna, sem outro objetivo além de cantar louvores ao Criador? Serão as chamas do inferno uma realidade ou uma ficção? A própria Igreja o entende nesta última acepção, mas quais são esses sofrimentos? Onde o lugar do suplício? Em suma, o que se faz e o que se vê nesse mundo que nos espera a todos? Diz-se que ninguém voltou até agora para nos dar informações. Eis aí um erro, e a missão do Espiritismo é precisamente esclarecer-nos sobre esse futuro, fazendo-nos, até certo ponto, tocá-lo e vê-lo, não mais pelo raciocínio, mas pelos fatos. Graças às comunicações espíritas isso já não é uma presunção, uma probabilidade, sobre a qual cada um imagina à vontade, os poetas embelezam com as suas ficções ou semeiam de imagens alegóricas e enganadoras; é a própria realidade que nos aparece, pois são os próprios seres de além-túmulo que nos vêm descrever a sua situação e dizer-nos o que fazem, permitindo-nos, por assim dizer, assistir a todas as peripécias de sua nova vida e mostrando-nos, desse modo, a sorte inevitável que nos aguarda, conforme nossos méritos e deméritos. Haverá nisso algo de anti-religioso? Muito ao contrário, pois os incrédulos nele encontram a fé e os tíbios uma renovação do fervor e da confiança. O Espiritismo é, pois, o mais poderoso auxiliar da religião. Se existe é porque Deus o permite, para reanimar nossas esperanças vacilantes e nos reconduzir à senda do bem, pela perspectiva do futuro que nos aguarda.

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