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quarta-feira, 14 de março de 2018

A PALAVRA DE DEUS

O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) oferece um pouco mais de entendimento a duvida levantada por um leitor. Por que os espíritas não consideram a Bíblia como palavra de Deus? As religiões bíblicas, como o próprio nome está dizendo, têm na Bíblia a autoridade maior, a última palavra, ou seja, a palavra de Deus; elas se conduzem, portanto, apenas pela fé. É por isso que, para elas, a Bíblia é um objeto sagrado, perfeito, santificado: daí o nome de Bíblia Sagrada que costumam utilizar. Entretanto, o Espiritismo tem por princípio que somente a fé simples e pura, por ser ingênua, não é suficiente para se encontrar a verdade, nem na Bíblia nem em qualquer outro livro, “sagrado” ou não: é necessária a razão. Aliás, a razão é que ilumina o caminho da fé, porque, como ponderou Kardec, “para se crer, é necessário compreender” e “fé verdadeira é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da Humanidade”. Desse modo, antes de aceitar qualquer verdade, venha de onde vier ( mesmo que seja das obras do próprio Allan Kardec), o método espírita recomenda um estudo mais seguro, mais cuidadoso, um exame mais apurado dessa verdade, para se verificar até que ponto ela atende aos imperativos da lógica, da razão, para, em seguida, poder ser aceita ou não. Por isso, a leitura da Bíblia, feita por um evangélico, por exemplo, é muito diferente da leitura da Bíblia feita por um espírita: o evangélico vai apenas aceitar o que está lendo ( geralmente ao pé da letra), enquanto que o espírita vai procurar analisar e julgar a validade do texto. Quanto a ser palavra de Deus, também é uma questão de julgamento. Assim, para o Espiritismo “palavra de Deus” é tudo aquilo que corresponde ao Bem e à Verdade, ou seja, às leis naturais ou leis divinas. Os ensinamentos morais de Jesus, que estão no Novo Testamento da Bíblia, são vistos pelos espíritas como “palavra de Deus”; mas os espíritas não podem considerar “palavra de Deus” as chacinas que Deus mandava executar ao tempo de Moisés (principalmente nos 5 primeiros livros do Velho Testamento), e outras atrocidades hediondas que se perpetrava em nome de Iavé e que estão muito bem claras na Bíblia. “Palavra de Deus” é o “amai-vos uns aos outros”, é compreender, é perdoar, é socorrer o semelhante, mas jamais o ódio nem tampouco a vingança; não pode ser o conluio de Deus com seus protegidos, muitas vezes desonestos e violentos, que faziam e desfaziam à sua vontade, prejudicando pessoas, sacrificando inocentes, sempre acobertados pelo poder opressor da divindade.

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