O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA
DOUTRINA ESPÍRITA, eme) oferece
um pouco mais de entendimento a duvida levantada por um leitor. Por que os espíritas não consideram a Bíblia
como palavra de Deus? As
religiões bíblicas, como o próprio nome está dizendo, têm na Bíblia a
autoridade maior, a última palavra, ou seja, a palavra de Deus; elas se
conduzem, portanto, apenas pela fé. É por isso que, para elas, a Bíblia é um
objeto sagrado, perfeito, santificado: daí o nome de Bíblia Sagrada que
costumam utilizar. Entretanto, o Espiritismo tem por princípio que somente a fé
simples e pura, por ser ingênua, não é suficiente para se encontrar a verdade,
nem na Bíblia nem em qualquer outro livro, “sagrado” ou não: é necessária a
razão. Aliás, a razão é que ilumina o caminho da fé, porque, como ponderou
Kardec, “para se crer, é necessário compreender” e “fé verdadeira é somente
aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da
Humanidade”. Desse modo, antes de aceitar qualquer verdade, venha de onde vier
( mesmo que seja das obras do próprio Allan Kardec), o método espírita
recomenda um estudo mais seguro, mais cuidadoso, um exame mais apurado dessa
verdade, para se verificar até que ponto ela atende aos imperativos da lógica,
da razão, para, em seguida, poder ser aceita ou não. Por isso, a leitura da Bíblia,
feita por um evangélico, por exemplo, é muito diferente da leitura da Bíblia
feita por um espírita: o evangélico vai apenas aceitar o que está lendo (
geralmente ao pé da letra), enquanto que o espírita vai procurar analisar e
julgar a validade do texto. Quanto a ser palavra de Deus, também é uma questão
de julgamento. Assim, para o Espiritismo “palavra de Deus” é tudo aquilo que
corresponde ao Bem e à Verdade, ou seja, às leis naturais ou leis divinas. Os
ensinamentos morais de Jesus, que estão no Novo Testamento da Bíblia, são
vistos pelos espíritas como “palavra de Deus”; mas os espíritas não podem
considerar “palavra de Deus” as chacinas que Deus mandava executar ao tempo de
Moisés (principalmente nos 5 primeiros livros do Velho Testamento), e outras
atrocidades hediondas que se perpetrava em nome de Iavé e que estão muito bem
claras na Bíblia. “Palavra de Deus” é o “amai-vos uns aos outros”, é
compreender, é perdoar, é socorrer o semelhante, mas jamais o ódio nem tampouco
a vingança; não pode ser o conluio de Deus com seus protegidos, muitas vezes
desonestos e violentos, que faziam e desfaziam à sua vontade, prejudicando
pessoas, sacrificando inocentes, sempre acobertados pelo poder opressor da
divindade.
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