Na edição de maio
de 1859 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve argumentos sobre a
Ciência Espírita. Diz ele: - O Espiritismo está baseado na existência
de um mundo invisível, formado de seres incorpóreos que povoam o espaço e que
nada mais são do que as almas dos que viveram na Terra ou em outros globos,
onde deixaram os seus invólucros materiais. São esses seres que havíamos dado,
ou melhor, que se deram o nome de Espíritos. Esses seres, que nos rodeiam
incessantemente, exercem sobre os homens, mau grado seu, uma grande influência;
desempenham um papel muito ativo no mundo moral e, até certo ponto, no mundo
físico. O Espiritismo, pois, está em a Natureza e pode-se dizer que, numa certa
ordem de ideias, é uma força, como a eletricidade também o é sob diferente
ponto de vista, assim como a gravitação universal, igualmente. Ele nos desvenda
o Mundo dos Invisíveis, como o microscópio nos desvendou o mundo dos
infinitamente pequenos, cuja existência nem suspeitávamos. Os fenômenos cuja
fonte é esse mundo invisível devem ter-se produzido e se produziram em todos os
tempos, razão por que a história de todos os povos lhes faz menção. Apenas os
homens, em sua ignorância, os atribuíram a causas mais ou menos hipotéticas e,
a propósito, deram livre curso à imaginação, como o fizeram com todos os
fenômenos cuja natureza só imperfeitamente conheciam. O Espiritismo, melhor
observado desde que se vulgarizou, vem lançar luz sobre uma multidão de problemas
até aqui insolúveis ou mal resolvidos. Seu verdadeiro caráter é, pois, o de uma
ciência e não o de uma religião, e a prova disso é que conta, entre seus
aderentes, homens de todas as crenças, e que nem por isso renunciaram às suas
convicções: católicos fervorosos, que praticam todos os deveres de seu culto,
protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos e até budistas e
bramanistas. Há de tudo, exceto materialistas e ateus, porque essas ideias são
incompatíveis com as observações espíritas. O Espiritismo, pois, repousa sobre
princípios gerais, independentes de toda questão dogmática. É verdade que tem
consequências morais, como todas as ciências filosóficas. Essas consequências
são no sentido do Cristianismo, porque, de todas as doutrinas, o Cristianismo é
a mais esclarecida, a mais pura, razão por que, de todas as seitas religiosas
do mundo, são as cristãs as mais aptas a compreendê-lo em sua verdadeira
essência. (...)Em resumo, o Espiritismo se ocupa da observação dos fatos e não
das particularidades de tal ou qual crença, da pesquisa das causas, da
explicação que esses fatos podem dar de fenômenos conhecidos, assim na ordem
moral como na ordem física, e não impõe nenhum culto aos seus partidários, como
a astronomia não impõe o culto dos astros, nem a pirotecnia o culto do fogo.
Ainda mais: do mesmo modo que o sabeísmo nasceu da astronomia mal compreendida,
o Espiritismo, mal compreendido na Antigüidade, foi a fonte do politeísmo.
Hoje, graças às luzes do Cristianismo, podemos julgá-lo com mais critério. Ele
nos põe em guarda contra os sistemas errôneos, frutos da ignorância, e a
própria religião nele pode haurir a prova palpável de muitas verdades
contestadas por certas opiniões. Eis por que, contrariando a maior parte das
ciências filosóficas, um dos seus efeitos é reconduzir às ideias religiosas
aqueles que se extraviaram num cepticismo exagerado.
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