O professor José Benevides Cavalcante ( FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) nos ajuda a entender uma dúvida
interessante. Se Deus criou os Espíritos
simples e ignorantes, o que os levou a seguir o caminho do mal? Eles não
poderiam ter escolhido o caminho do Bem? A
questão parece simples, mas não é. Tudo que se refere a Deus e às origens da
vida e do Universo ainda está muito longe da nossa compreensão, por falta de
parâmetros mais seguros que nos sirvam de referencial. Mas, isso não quer dizer
que não devamos buscar uma resposta para nossas indagações. Quando a doutrina
fala que os Espíritos foram criados simples e ignorantes, ela quer dizer que,
na sua criação, o “ser inteligente” era apenas potencialidade, ou seja, “
promessa para o futuro” , todas as suas capacidades ainda estavam latentes,
estavam por se manifestar e por se desenvolver, assim como numa simples semente
todas as capacidades da planta ainda dormitam. A simplicidade, de que o
Espiritismo fala, refere-se ao seu potencial de moralidade; no princípio, o Ser
era amoral, ele não demonstrava nenhuma tendência, nem para o que chamamos de
Bem, nem para o que reputamos como mal. A ignorância diz respeito ao seu
potencial intelectivo, ou seja, à sua capacidade de conhecer, de saber, de
raciocinar. Assim como a semente que, colocada em condições favoráveis, busca
realizar-se na germinação, transformando sua potência em ato, o Espírito,
através de suas primeiras manifestações na matéria, busca a sua sobrevivência,
luta por ela, iniciando, assim, num longo processo na inconsciência, sua
jornada evolutiva. Os animais, que hoje conhecemos na Terra, são o resultado de
uma evolução ainda no campo da experiência amoral, pois eles não desenvolveram
a capacidade de fazer julgamento de valor sobre certo e errado, sobre bem e
mal, por exemplo. Os animais são, por conseguinte, seres simples e ignorantes.
Logo, o despertar da consciência moral vai se verificar quando o Espírito
assume a sua condição de Ser humano, na Terra, momento em que já é capaz de
pensar e fazer juízo de valores. É nesse momento, que ele sai da simplicidade e
da completa ignorância, e quando experimenta a sensação de poder decidir sobre
seus atos e julgá-los. Potencialmente o Espírito é bom, ou seja, ele foi criado
para a sua plena realização como criatura perfeita, mas, para tanto, deve
desenvolver-se por si mesmo, empregando suas capacidades intrínsecas de
intelectualidade e moralidade. Essa condição é que lhe dá a possibilidade de
construir o seu próprio caminho, nascendo, então, o seu livre-arbítrio. Cada
qual, nesse objetivo, vai buscar a sua realização pelas metas que julga
(capacidade de decidir) as mais convenientes, nascendo assim a experiência do
Espírito, que pode levá-lo a praticar toda sorte de ações, tanto as que venham
a retê-lo ou dificultar o seu desenvolvimento, quanto às que lhe permitirão
caminhar mais depressa para sua plena realização. Dessa forma, a busca da
felicidade é a meta de todos os Espíritos; mas os caminhos são próprios de cada
um, como os rios que abrem seus leitos, contornam as montanhas, enfrentam os
obstáculos, à procura do mar. Se o caminho de cada um estivesse determinado e
lhe fosse imposto para sua simples obediência, ele não conheceria realização
pessoal ( felicidade) – portanto, nem culpa, nem mérito, nem livre-arbítrio,
porque não foi ele que escolheu e decidiu por si mesmo – e, em consequência,
não haveria também vida moral. Não há moralidade sem liberdade de escolha. Não
há felicidade sem espírito de conquista
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