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sábado, 21 de abril de 2018

O ESPIRITISMO PERANTE OUTRAS RELIGIÕES


A divulgação do Espiritismo deve ser intensificada, atraindo seguidores de outras escolas religiosas? Allan Kardec se pronuncia em artigo incluído na edição de fevereiro de 1862 da REVISTA ESPÍRITA. Escreveu: - Há duas coisas no Espiritismo: o fato da existência dos Espíritos e de suas manifestações, e a doutrina daí resultante. O primeiro ponto não pode ser posto em dúvida senão pelos que não viram ou não quiseram ver. Quanto ao segundo, a questão é de saber se essa doutrina é justa ou falsa. É uma questão de apreciação. Se os Espíritos só manifestassem a sua presença por meio de ruídos, movimentos, ou seja, por movimentos físicos, isto não provaria grande coisa, pois não saberíamos se são bons ou maus. O que, sobretudo, é característico nesse fenômeno, o que é capaz de convencer os incrédulos, é poder reconhecer parentes e amigos entre os Espíritos. Mas como podem os Espíritos atestar a sua presença, a sua individualidade e permitir o julgamento de suas qualidades, senão falando? Sabe-se que a escrita pelos médiuns é um dos meios que eles empregam. Desde que têm um meio de exprimir suas ideias, podem dizer tudo o que querem; conforme o seu adiantamento, dirão coisas mais ou menos boas, justas e profundas. Deixando a Terra, não abdicaram do livre-arbítrio; como todos os seres pensantes têm suas opiniões; como entre os homens, os mais adiantados dão ensinamentos de alta moralidade, conselhos marcados pela mais profunda sabedoria. São esses ensinamentos e conselhos que, recolhidos e ordenados, constituem a Doutrina Espírita, ou dos Espíritos. Se quiserdes, considerai essa doutrina não como uma revelação divina, mas como a expressão de uma opinião pessoal de tal ou qual Espírito; a questão é saber se é boa ou má, justa ou falsa, racional ou ilógica. A quem recorrer para isto? Ao julgamento de um indivíduo? Mesmo de alguns indivíduos? Não; porque, dominados pelos preconceitos, pelos juízos antecipados ou pelos interesses pessoais, eles podem enganar-se. O único, o verdadeiro juiz é o público, porque aí não há interesse de camarilha, e porque nas massas há um bom-senso inato que não se engana. Diz a lógica sadia que a adoção de uma ideia, ou de um princípio, pela opinião geral é uma prova de que repousa sobre um fundo de verdade. Os espíritas nunca dizem: “Eis uma Doutrina saída da boca do próprio Deus, revelada a um só homem por meios prodigiosos e que deve ser imposta ao gênero humano.” Ao contrário, dizem: “Eis uma doutrina que não é nossa e cujo mérito não reivindicamos. Adotamo-la porque a achamos racional. Atribuí-lhe a origem que quiserdes: de Deus, dos Espíritos, ou dos homens; examinai-a; se ela vos convier, adotai-a; caso contrário, ponde-a de lado.” Impossível ser menos absoluto. O Espiritismo, pois, não vem usurpar a religião; ele não se impõe; não vem forçar as consciências, quer dos católicos, quer dos protestantes ou dos judeus. Apresenta-se e diz: “Aceitai-me, se me achais bom.” É culpa dos espíritas se o acham bom? Se nele encontram a solução do que em vão procuravam alhures? Se dele extraímos consolações que nos tornam felizes, que dissipam os terrores do futuro, acalmam as angústias da dúvida e dão coragem para o presente? Ele não se dirige àqueles a quem bastam as crenças católicas, ou outras, mas àqueles aos quais elas não satisfazem completamente, ou que delas desertaram. Em vez de não crer mais em nada, ele os leva a crer em alguma coisa, e a crer com fervor. O Espiritismo não quer ser posto de lado: reconduz, pelos meios que lhe são próprios, os que se afastam. Se os repelirdes, eles serão forçados a ficar de fora. No íntimo da vossa alma e da vossa consciência, dizei se para eles seria preferível serem ateus. Perguntam em que milagre nos apoiamos para julgarmos boa a Doutrina Espírita. Julgamo-la boa, não só porque é nossa opinião, mas também a de milhões de outros, que pensam como nós; porque leva a crença àqueles que não acreditavam; porque torna boas as pessoas que eram más; porque dá coragem nas misérias da vida. O milagre? É a rapidez de sua propagação, inaudita nos fastos das doutrinas filosóficas; é ter feito em poucos anos a volta ao mundo e se haver implantado em todos os países e em todas as classes da sociedade; é ter progredido, a despeito de tudo quanto foi feito para detê-la; é ter derrubado as barreiras que lhe opõem e encontrar um acréscimo de força nessas mesmas barreiras.

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