Como se depreende
percorrendo as páginas da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec apresentava sinais de progressivo desgaste físico
desde alguns anos antes de sua desencarnação. Alguns desses episódios foram
comunicados em números anteriores, contudo, na edição de janeiro de 1867, ele
manifestava seu reconhecimento aos leitores que se preocupavam com o futuro do
trabalho por ele conduzido até ali em caso de sua ausência física. Apesar dos
conselhos espirituais através de vários médiuns, o incansável pesquisador das
coisas relacionadas à Doutrina nascente não se permitiu diminuir o ritmo de
suas atividades vindo a desencarnar em 31 de março de 1869 em meio aos
preparativos para sua mudança para outro endereço. Do texto elaborado por ele,
uma amostra para nossas reflexões: - Aos que têm a bondade de fazer votos pelo
prolongamento de nossa permanência na Terra, no interesse do Espiritismo,
diremos que ninguém é indispensável para a execução dos desígnios de Deus; o
que fizemos outros o poderiam ter feito e o que não pudermos fazer, outros o
farão; assim, quando lhe aprouver chamar-nos, ele saberá prover à continuação
de sua obra. Aquele que for chamado a lhe tomar as rédeas cresce na sombra e se
revelará quando for o tempo, não por sua pretensão a uma supremacia qualquer,
mas por seus atos, que o assinalarão à atenção de todos. Neste momento, ele
próprio o ignora e é útil, por enquanto, que se mantenha à margem. O Cristo
disse: “Aquele que se exaltar será rebaixado.” É, pois, entre os humildes de
coração que será escolhido, e não entre os que quiserem elevar-se por sua
própria autoridade e contra a vontade de Deus; esses apenas colherão vergonha e
humilhação, porque os orgulhosos e os presunçosos serão confundidos. Que cada
um traga a sua pedra ao edifício e se contente com o papel de simples obreiro.
Deus, que lê no fundo dos corações, saberá dar a cada um o justo salário de seu
trabalho. A todos os nossos irmãos em crença diremos: “Coragem e perseverança,
porque se aproxima o momento das grandes provas. Fortalecei-vos nos princípios
da doutrina e deles penetrai-vos cada vez mais; alargai as vossas vistas;
elevai-vos pelo pensamento acima do círculo limitado do presente, de maneira a
abarcar o horizonte do infinito; considerai o futuro e, então, a vida presente,
com seu cortejo de misérias e decepções, vos aparecerá como um ponto
imperceptível, como um minuto doloroso que logo não deixará mais traços na
lembrança; as preocupações materiais parecem mesquinhas e pueris, ao lado dos
esplendores da imensidade.” Ditosos os que colherem na sinceridade de sua fé a
força de que necessitarão: esses bendirão a Deus por lhes ter dado a luz;
reconhecerão sua sabedoria nas suas vistas insondáveis e nos meios, sejam quais
forem, que emprega para sua realização. Marcharão através dos escolhos com a
serenidade, a firmeza e a confiança que dá a certeza de atingir o porto, sem se
deter nas pedras que machucam os pés. É nas grandes provas que se revelam as
grandes almas; é, também, quando se revelam os corações verdadeiramente
espíritas, pela coragem, a resignação, o devotamento, a abnegação e a caridade
sob todas as suas formas, de que dão exemplo.
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