O tema é sempre
atual e o professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS
DA DOUTRINA ESPÍRITA,eme) apresenta a seguir sua
visão sobre o mesmo a partir do questionamento de um leitor::“Porque a religião
e a política se parecem tanto? Há guerra entre os partidos e como as guerras
entre as diversas religiões, cheia de paixão e ódio e acusações...” Porque elas têm praticamente a mesma origem e sempre
estiveram lutando pelo poder. Aliás numa retrospectiva da História, vamos
perceber que a religião antecedeu em muito a política. Na pré-história, o poder
está nas mãos do “feiticeiro”, o homem que fala com os Espíritos ou Deuses e
que pode ter acesso ao conhecimento do sobrenatural, que conhece o futuro das
pessoas e da própria tribo, os métodos de cura e os ministérios da natureza:
ele tem o poder (porque tem o conhecimento) e por isso, é sempre ouvido
respeitado e temido, mesmo pelo chefe que lhe atende as mais absurdas
recomendações. As grandes nações da História antiga são teocracias, visto que
governadas por homens que se intitulam Deuses ou se arvoram em detentores da
ordenação divina, como os faraós do Egito rodeados pelos sacerdotes. Ou mesmo
Moisés, o chefe dos hebreus, escolhido pelo seu deus Iavé. O absolutismo, poder
político concentrado na vontade do homem, o rei, por largo tempo passa a noção
de que o soberano representa a própria vontade de Deus. A Igreja Católica desde
a oficialização do Cristianismo como religião do Estado Romano no século IV,
sempre exerceu esse poder de forma opressora, tendo nas mãos soberanos QUE LHE
PRESTAM CEGA OBEDIÊNCIA. O triste episódio da Santa Inquisição, verdadeiro
holocausto em nome da fé, mostra quanto foi opressor o poder da religião
intolerante, que perseguiu torturou e matou durante séculos, milhares de
pessoas que discordavam de sua linha de pensamento ou ousavam desagradar o
clero. Tão forte é o poder político da religião que ainda hoje, ano 2000, temos
estados governados por chefes religiosos, caso do Irã (governado pelo Aiatolá),
onde a intolerância é marca indispensável desse poder, promovendo verdadeiro
regime do terror. O Brasil até antes da república tinha como religião oficial o
Catolicismo Romano (como Portugal o tem até hoje), onde uma religião gozava de
todos os privilégios em prejuízo das outras, exercendo sozinha decisiva
influência em todas as questões de interesse social. Mesmo em nosso dias,
quando a Constituição Federal nos caracteriza como um País democrático, onde há
lugar para todas as crenças e cultos, por causa desse atavismo religioso
arraigado em nossas estruturas arcaicas, o Brasil ainda depende muito da
posição da Igreja para resolver seus mais graves problemas. Kardec, em OBRAS PÓSTUMAS, tem um artigo
intitulado “AS ARISTOCRACIAS”, em que faz rápido comentário sobre o caminhar da
Humanidade em matéria do poder político, assinalando as conquistas democráticas
que vem sendo alcançadas ao longo do tempo para a solução dos problemas
humanos. Desse modo, você percebe que a política é filha das religiões e
instituições humanas que sempre se impuseram por meios escusos e métodos
opressores, sonegando a verdade, esclarecendo conflitos e promovendo guerras de
conquistas em torno de interesses exclusivamente materiais, tudo em nome de Deus,
do Bem e da Verdade. As religiões do presente herdam esse triste caráter da
religião do passado instigando-se os adeptos ao desprezo e ao ódio em relação
as outras crenças. Nem mesmo as que se dizem adeptas de Jesus, levam em conta
que o carpinteiro de Nazareth, pregava o amor para com os adversários, porque
isso simplesmente não lhes interessa. Elas querem um Jesus politicamente
agressivo, tão intolerante como elas mesmas, estabelecendo divisões,
preferências, privilégios e condenações, porque isso lhes garante o poder. A
Doutrina Espírita, saída das mãos de Allan Kardec, nos meados do século
passado, veio justamente combater esse estado de coisas recusando-se
terminantemente a ser uma adversá- ria a mais na saturada arena da competição
religiosa, estruturada em conceitos científicos e filosóficos com conseqüências
morais inatacáveis, ela não é uma instituição religiosa salvacionista, nem se
proclama dona exclusiva da Verdade, mas representa a síntese de uma evolução do
pensamento humano, que defende a liberdade de crença como condição para o
próprio progresso da Humanidade. Deve-se colocar acima das questiúnculas que
dividem as pessoas ou os grupos religiosos, para proclamar a verdadeira
religião. Não está nesta ou naquela denominação, na utilização deste ou aquele
culto, na freqüência deste ou daquele tempo, mas na conduta do homem e das
coletividades ante os valores universais do amor e da solidariedade humana
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