Abrindo a pauta da REVISTA ESPÍRITA de novembro de 1859,
Allan Kardec apresenta interessante matéria intitulada “DEVEMOS PUBLICAR TUDO QUANTO OS ESPÍRITOS DIZEM?” que se mostra
atualíssima, especialmente diante da profusão de títulos que disputam lugar nos
expositores das livrarias ou catálogos de editoras e distribuidoras,
demonstrando acirrada disputa por qual apresenta “revelações” ou “novidades”
mais originais. Como livros espíritas se tornaram até meio de vida, revisões
doutrinárias ou fundamentadas no bom senso, inexistem. O alvo é um público
ávido por contéudos que chegam a ser estapafúrdios. As ponderações de Kardec sugerem
reflexões. Diz ele: “- Esta pergunta nos foi dirigida por um dos
nossos correspondentes. Respondemo-la da maneira seguinte: Seria bom publicar
tudo quanto dizem e pensam os homens? Quem quer que possua uma noção do
Espiritismo, por superficial que seja, sabe que o mundo invisível é composto de
todos aqueles que deixaram na Terra o envoltório visível. Despojando-se, porém,
do homem carnal, nem todos se revestiram, por isso mesmo, da túnica dos anjos.
Há Espíritos de todos os graus de conhecimento e de ignorância, de moralidade e
de imoralidade – eis o que não devemos perder de vista. Não esqueçamos que
entre os Espíritos, assim como na Terra, há seres levianos, desatentos e
brincalhões; falsos sábios, vãos e orgulhosos, de um saber incompleto;
hipócritas, malévolos e, o que nos parecia inexplicável, se de algum modo não
conhecêssemos a fisiologia desse mundo, há sensuais, vilões e crapulosos que se
arrastam na lama. Ao lado disto, sempre como na Terra, temos seres bons,
humanos, benevolentes, esclarecidos, de sublimes virtudes. Como, entretanto, nosso
mundo não está na primeira nem na última posição, embora mais vizinho da última
que da primeira, disso resulta que o mundo dos Espíritos abrange seres mais
avançados intelectual e moralmente que nossos homens mais esclarecidos, e
outros que ainda estão abaixo dos homens mais inferiores. Desde que esses seres
têm um meio patente de comunicar-se com os homens, de exprimir seus pensamentos
por sinais inteligíveis, suas comunicações devem ser um reflexo de seus
sentimentos, de suas qualidades ou de seus vícios. Serão levianas, triviais,
grosseiras, mesmo obscenas, sábias, científicas o sublimes, conforme seus
caráter e sua elevação. Revelam-se por sua própria linguagem. Daí a
necessidade de não aceitar cegamente tudo quanto vem do mundo oculto, e
submetê-lo a controle severo. Com as comunicações de certos Espíritos, do
mesmo modo que com os discursos de certos homens, poder-se-ia fazer uma
coletânea muito pouco edificante(...). Ao lado dessas comunicações francamente
más, e que chocam qualquer ouvido um pouco delicado, outras há que são
simplesmente triviais ou ridículas (...). O mal é dar como sérias, coisas que
chocam o bom senso, a razão e as conveniências. Nesse caso, o perigo é maior do
que se pensa. Para começar, tais publicações tem o inconveniente de induzir em
erro as pessoas que não estão em condições de examiná-las e discernir entre o
verdadeiro e o falso, principalmente numa questão tão nova como o Espiritismo.
Em segundo lugar, são armas fornecidas aos adversários que não perdem a
oportunidade para tirar deste fato argumentos contra a alta moralidade do
ensino espírita; porque, diga-se mais uma vez, o mal está em apresentar
seriamente coisas que são notórios absurdos (...). As pessoas que estudaram a
fundo a ciência espírita sabem qual a atitude que convêm a este respeito. Sabem
que os Espíritos zombeteiros não tem o menor escrúpulo de enfeitar-se com nomes
respeitáveis. Mas sabem também que esses Espíritos só abusam daqueles que
gostam de se deixar abusar, que não sabem ou não querem esclarecidas suas
astúcias pelos meios já conhecidos (...). Os Espíritos vão aonde acham
simpatia e onde sabem que serão ouvidos (...).Publicar sem exame, ou sem
correção, tudo quanto vem dessa fonte, seria, em nossa opinião, dar prova de
pouco discernimento”.
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