O professor José
Benevides Cavalcante( FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA,
eme) retorna para fazer luz sobre questões propostas por leitores."Não acho que sou diferente de ninguém. Não sou santa, mas
também não me acho um demônio. Leio o Evangelho todos os dias e admiro os
ensinos de Jesus e a coragem que ele teve de enfrentar seus inimigos sem um
pensamento de revolta. E aquela parte do Sermão da Montanha em que ele manda
amar os inimigos ainda está longe de minhas forças. Não consigo perdoar uma
pessoa, pelo que ela me fêz e pelo que ela continua fazendo para mim e para meu
marido. Tento rezar por ela, mas, na verdade, não consigo. Não quero ser
hipócrita diante de Deus e de mim mesma: eu não gosto dela e não a quero por
perto; caso contrário, a nossa vida vai se transformar num inferno!... E o pior
de tudo isso é que eu sofro porque não quero perdoá- la, e sofro também porque
não a perdôo. Não entendo o que está acontecendo comigo." Certamente
você está vivenciando grande conflito íntimo. Embora o desconforto que sofre, a
mulher velha que havia em você paulatinamente está cedendo lugar à mulher nova
que ameaça se impor. Você está crescendo, e a batalha interior que arde em seu
coração é a comprovação disso. Você acredita no perdão, já tem o perdão como um
valor moral, mas ainda não conseguiu incorporá-lo por inteiro, precisando
apenas de um pouco mais de amadurecimento para torná-lo parte integrante de sua
vida. Não obstante, você já conquistou uma virtude: a sinceridade. Não quer
fingir e não sabe fingir: por isso, a dificuldade em querer perdoar e não
reunir ainda os requisitos básicos para o perdão, fato que, no íntimo, não quer
admitir para você mesma. Essa crise de crescimento você precisa enfrentar com coragem
e determinação. Confie na sua consciência e evite agir por simples impulso,
repetindo para si mesma que a inteligência deve iluminar a emoção. Se a
situação é tão incômoda assim, procure mudar alguma coisa em sua vida, frequentando
um grupo espírita idôneo, que possa suscitar em você novos interesses e novas
metas, novas atividades e novas reflexões. Não se esqueça da prece. Mas saia um
pouco do âmbito limitado de suas preocupações familiares para buscar fora
recursos novos que lhe facilitarão a vida. Procure pensar e agir um pouco mais
em favor de quem tem problemas iguais ou piores que o seu. Nenhum de nós tem
capacidade de se transformar por inteiro de um dia para outro e nem podemos nos
mostrar muito ansiosos nesse sentido. Agindo no Bem, dê um tempo para si mesma,
pois todo aprendizado é um processo mais ou menos longo, exigindo de cada
pessoa um ritmo próprio. A DOR DOS ANIMAIS "Eu
tive um cachorro que morreu de câncer, depois de sofrer muito. Um ser humano
com câncer demonstra que ele está pagando dívidas do passado e, por isso,
sofre. Mas, como é que isso pode acontecer com um animal? Será que ele também
tem dívida para pagar como nós? Não.
O animal não tem nada a pagar, simplesmente porque ele não é um ser moral, não
tem consciência, mérito ou culpa de seus "atos". Segue apenas o curso
da natureza, agindo por impulso do instinto ou por simples adestramento.
Resgate, pagamento, ressarcimento, expiação, só acontece com os humanos, que
são inteligentes e conscientes em suas ações: estes têm mérito e culpa, porque
têm livre-arbítrio, isto é, sabem diferenciar o bem do mal. Os espíritas devemos
tomar cuidado para não generalizarmos conceitos, como é costume acontecer,
quando afirmamos que todo sofrimento decorre de um resgate ou de um pagamento
de dívida do passado. Não é bem assim. A ideia de que há uma relação direta
entre o erro e o sofrimento é correta e deve ser sempre lembrada. Mas disso não
resulta que todo sofrimento é resgate. Há várias causas para o sofrimento, e
uma delas é a que decorre de nossas necessidades evolutivas. A esse tipo de
sofrimento André Luiz chama de dor-evolução. Os animais, que nada têm a
"pagar", sofrem em decorrência de sua evolução, aceitam naturalmente
a morte, e sua dor é muito menor que a dor humana, porque eles não são
atormentados pelos sofrimentos morais ou problemas conscienciais, os que mais
nos torturam aqui e no além.
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