Passava das 20:30 horas
quando o interfone tocou. Do outro lado, o porteiro do edifício, visivelmente
alterado, perguntava se o filho da dona do apartamento estava em casa. Ante a
resposta afirmativa e a informação que havia beijado os pais, minutos antes,
desejando boa noite para ir dormir, a insistência do interlocutor, por via das
dúvidas, fez a mãe dirigir-se ao quarto para confirmar. Encontrando o quarto
vazio, voltou ao interfone, ouvindo a sugestão para que descesse ao térreo,
para, em meio à aflição e ansiedade, a terrível constatação: o rapaz atirara-se
do decimo oitavo andar do prédio, estatelando-se no solo. Único filho de um
casal bem sucedido e estável profissionalmente, o adolescente, deixara um
bilhete aos pais expressando seu amor por eles, acrescentando que “este
mundo” não era para ele.
Investigações encontraram em seu computador, mensagens trocadas com integrantes
de um grupo social, com conteúdo assustador dentro do que se poderia considerar
normal. O pior é que no decorrer da semana que se seguiu, outros três suicídios
na mesma faixa etária foram registrados na maior das metrópoles da América do
Sul. Tais acontecimentos, por sinal, tem aumentado sua incidência nos últimos
meses, segundo estatísticas nem sempre divulgadas. O interessante é que no
numero de outubro de 1866, da REVISTA
ESPÍRITA, Allan Kardec reproduziu uma mensagem obtida pelo método de
sonambulismo, em abril daquele ano, através de dois médiuns identificados
apenas por iniciais, em que foi feita uma projeção e prognóstico dos
acontecimentos que marcariam os desdobramentos futuros da etapa de transição pela
qual passa o Planeta e seus habitantes. Em meio às previsões, dizem: “- E
como se a destruição não marchasse bastante depressa, ver-se-ão os suicídios
multiplicando-se numa proporção incrível, inclusive em crianças”.
Tentando entender esse fato causador de tão lancinante dor moral no organismo
social, encontramos n’ O LIVRO DOS
ESPÍRITOS, na nota à questão 685, uma pergunta lançada por Kardec, cuja
resposta pode ajudar a entender a razão destes acontecimentos: “-Quando
se pensa na massa de indivíduos, diariamente lançados na corrente da população,
sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar
das consequências desastrosas desse fato?”. A predominância do materialismo,
a voracidade da sociedade de consumo; a falência, o descrédito e a falta de
espiritualidade das religiões, criaram a crise observável na estrutura
fundamental dos agrupamentos humanos: a família. Mesmo os seguidores do
Espiritismo, desconhecem o conteúdo específico de sua obra fundamental a
respeito de questões relacionadas à paternidade, maternidade, os elementos que
não podem ser esquecidos na formação das personalidades entregues a seus
cuidados, na condição de filhos. As Casas Espíritas e seus dirigentes enfatizam
muito mais temas distantes da educação moral fundamentadas na lógica dos
ensinos de Jesus, ele mesmo apontado como o guia e modelo mais perfeito para
nos inspirar os passos. Sem investimentos na infância, não se terá um
futuro melhor. Como escreveu o Espírito da Verdade, na resposta
à questão 800 d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS,
“as
ideias se modificam pouco a pouco, com os indivíduos, e são necessárias
gerações para que se apaguem completamente os traços dos velhos hábitos”.
Evidente que o poder de influenciação dos meios – circunscritos aos Centros Espíritas e algumas publicações - de
divulgação espiritas ainda é incipiente, em grande parte pelas dissimuladas
disputas internas entre lideranças que se outorgam a ilusória ideia de serem os
detentores dos conhecimentos mais precisos e acertados. Enquanto isso, campeiam
avassaladoramente a violência e a dor, que poderiam ser atenuadas ou evitadas,
não fosse a ignorância sobre conteúdos específicos da Terceira Revelação. E,
nesse sentido, a propagação do Espiritismo seria importante preventivo.
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