O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) esclarece duvida dos leitores. DOAÇÃO DE ORGÃOS
Segundo a Doutrina Espírita, a gente não pode fazer doação de órgãos, porque
dizem que, na outra vida, a gente vai nascer sem aquele órgão? Não é bem assim. Muito
pelo contrário. A Doutrina Espírita – que ensina a caridade – não poderia se
contradizer nesse sentido. A doação de órgãos é um ato de amor, em favor de
alguém que ainda pode continuar encarnado. A vida na Terra é muito preciosa
para o Espírito, de modo que devemos contribuir sempre para a defesa e
preservação da vida, até quanto pudermos. Aquele que doa um órgão está,
portanto, se prestando a uma causa nobre, elevada, do ponto de vista
espiritual. Assim, como a Doutrina Espírita nos estimula a fazer o bem, em qualquer
circunstância, atendendo aquele que precisa de nós, também ela estimula a
doação de órgãos – quer a doação ocorra enquanto o doador está vivo ou quando
ele já desencarnou. Com certeza, terá a assistência da Espiritualidade para
isso. Mas, a sua preocupação é se a doação de um determinado órgão pode
prejudicar o Espírito do doador em algum momento. Na verdade, em
relação à doação, existe apenas e tão somente uma pequena preocupação. A pessoa
que doa deve estar muito consciente do que está fazendo para não se arrepender
depois e ficar angustiada diante de sua atitude. O fato de doar implica em se
desprender totalmente daquilo que se doou, a fim de que o Espírito não se
perturbe depois, porque acha que não devia ter feito isso, que vai sentir falta
daquele órgão. É um problema que pode acontecer com alguns Espíritos ainda
muito presos à vida material, principalmente ao seu corpo. A repercussão é,
portanto, de ordem psicológica. Mas esse tipo de problema não se restringe
apenas à doação de órgãos, mas de qualquer coisa que possamos doar a alguém.
Por isso, Jesus disse: “Não saiba a vossa mão esquerda o que faz a direita”. O
que quer dizer isso? Quer dizer, sobretudo, que o ato de doar tem que ser
plenamente consentido pela nossa consciência,tem que ser uma doação íntima,
para que nos sintamos bem com ela, para que ela nos torne mais felizes conosco
mesmos. Dar agora e arrepender-se, depois, não é dar. Neste caso, o doador
sofre. Por isso, repetimos, a doação deve ser consciente. Somente o doador é
que deve dar o seu próprio consentimento, porque só ele sabe medir o valor de
seu gesto e o significado que esse gesto tem para ele mesmo. Além do mais, há
doações em vida – há pessoas que doam órgãos para seus parentes (como o rim,
por exemplo) e que salvam vidas. Acompanhando a vida dos doadores, vamos
perceber que, na grande maioria das vezes, eles se sentem felizes, por terem
preservado uma vida e suas consciências, com certeza, se elevam a uma condição
de plena realização, porque contribuíram para a felicidade de alguém. Não há,
efetivamente, ato de mais elevado desprendimento e abnegação. Mas, no caso do
órgão, retirado do cadáver, a doação é mais fácil, porque o corpo já morreu e o
órgão, se não fosse doado, poderia ser comparado a um alimento jogado fora, e
que não fora aproveitado para matar a fome de alguém. Logo, Maria Regina, não
vemos por que a doação de um órgão possa prejudicar o doador. Nada de bom, que
possamos fazer pelos outros, nos prejudica. Pelo contrário, nos ajuda. Devemos,
portanto, incentivar essa prática, porque ela faz parte da Lei da Natureza. Se
você já observou, a natureza não desperdiça nada, aproveita tudo. E o homem,
que tem aprendido com a natureza, pode ajudá-la a preservar-se ainda mais,
utilizando seus recursos em seu próprio benefício. O fato de uma pessoa se
negar a doar um órgão é problema particular dela, mas não deve se constituir em
regra geral. Não sei se você já pensou nisso, mas se você for realista, vai
verificar que todos os nossos órgãos, que vão para o tumulo um dia, serão
devorados pelos vermes, para consolo da própria natureza. Se não dermos a eles
um destino mais elevado, vamos optar pela alimentação dos vermes e não pela
vida de outro Ser humano. Pense nisso.
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