O Professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) comparece com mais esclarecimentos aos leitores.Por
que, mesmo sabendo que estamos errados, continuamos errando, censurando os
defeitos dos outros, e ferindo a nossa consciência? Não existe uma maneira de
evitar tudo isso? Existe, com certeza. Mas é que, mesmo
sabendo que estamos errados, continuamos errando, censurando os defeitos dos
outros, e ferindo a nossa consciência? Não existe uma maneira de evitar tudo
isso? Existe, com certeza. Mas é difícil, muito difícil. Se fosse fácil
mudarmos as nossas disposições intimas, não teríamos tantos problemas, mas
também não haveria tanto mérito. Porém, uma mudança interior requer muito
esforço e muita perseverança. Vemos isso nas insistentes recomendações de
Jesus. Ninguém melhor que ele conhecia o limite e as fraquezas de seus
discípulos. No entanto, ele soube compreendê-los nos momentos cruciais. Veja
que, apesar da presença física de Jesus – um privilégio que bem poucos puderam
gozar – seus discípulos tiveram muita dificuldade em seguir seus ensinamentos e
se transformar interiormente. E eles não eram pessoas quaisquer! Foi o próprio
Jesus que os escolheu. Judas o traiu, Pedro o negou e, quando ele foi preso,
todos fugiram. Só retornaram quando, depois de morto, Jesus apareceu anunciando
a imortalidade. Aí perceberam que, de fato, Jesus tinha razão. A respeito
disso, Chico Xavier exalta a personalidade de Jesus, que jamais exigiu nada de
alguém. Para a mulher adúltera, Jesus simplesmente recomendou: “Vai e não
peques mais...” Não fez sermão, não censurou, não perguntou com quem ela havia
caído... Simplesmente recomendou. “No Evangelho – diz o Chico – não existe um
moralismo farisaico; a mensagem do Cristo é de elevação, de compreensão do
erro, de incentivo a quem deseja melhorar”. E completa o Chico: “ Quem olhar
para dentro de si não terá coragem de olhar alguém na condição de pecador.
Precisamos destacar o valor daqueles que estão ao nosso lado...” Logo, quem
está interessado em melhorar-se moralmente, e tem plena consciência disso, não
tem tempo para censurar ou julgar alguém. A mudança interior exige de todos nós
um esforço descomunal e constante. Mudar a roupa é simples. Mudar de casa ou de
automóvel pode custar dinheiro, mas não se compara à cirurgia espiritual que
temos de fazer para mudar nossas atitudes e comportamento diante dos outros, a
luta que temos a empreender todos os dias contra o nosso egoísmo e contra o
nosso orgulho. Entretanto, cabe a nós tornar essa mudança mais fácil ou mais
difícil. Seguindo os passos de Jesus, o Espiritismo afirma o seguinte: o único
caminho para a mudança é a ação no bem. Não há outro. Como você aprende a
nadar? – nadando. Como você aprende a andar de bicicleta? – andando... Se você
quiser ser bom, faça o bem; mas faça-o bem feito, constantemente, todos os
dias. Só nossos atos nos transformam. Nem orações, nem promessas, nem
aspirações, nem tampouco sonhos, contribuirão para que mudemos. Para isso, só a
ação, só o esforço para fazer algo de bom. Para a Doutrina Espírita, Jesus
ensinou-nos três pontos fundamentais que nos
ajudarão na transformação moral: a benevolência, a compreensão para com os
defeitos alheios e o perdão. A benevolência é o mais fácil degrau da evolução
moral: basta você ajudar alguém, basta você exercitar a ação estendendo um bem
material ou um bem moral em favor de alguém: isso é benevolência, ou seja,
fazer o bem, ajudar, ser companheiro, ser solidário. Por incrível que pareça, é
esta a caridade mais fácil, acessível a todos nós. Podemos fazer o bem todos os
dias – um gesto, uma palavra, uma presença, uma ajuda material, seja o que for:
o bem é inerente às nossas ações. O segundo degrau da transformação espiritual
é um pouco mais difícil: é a indulgência ou a compreensão para com os erros
alheios. Geralmente, temos muita dificuldade de ver alguém errar, sem censurar,
sem comentar seu erro. Muitas vezes, parece que gostamos que os outros errem,
porque assim podemos criticá-los e, ao mesmo tempo, podemos proclamar ao mundo
a nossa superioridade. Mesmo não tendo nada com a vida dos outros, nos
comprazemos na censura, na maledicência, porque, de certa forma, sentimo-nos
numa condição privilegiada em relação a quem erra e a quem a hipocrisia social
critica e condena. Entretanto, o degrau mais alto da caridade é o perdão. O
perdão é a compreensão na sua expressão mais elevada, mais divina. Perdoar é
compreender os motivos do ofensor, é ser ofendido por ele e compreendê-lo, é
pensar no ofensor antes de pensar em si mesmo, é sair um pouco de si para
observar o ato infeliz daquele que errou, de um ângulo mais alto. “Pai,
perdoai-lhes porque não sabem o que fazem” – disse Jesus. E, com esse ato
extremo de compreensão e amor, ele encerra a sua missão.
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