O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) responde a seguir a duas dúvidas de nossos
leitores: 1- CAUSA E EFEITO - O Espiritismo diz que
aquele que matar um homem com um tiro de revolver no coração, na sua própria
existência será portador de um grave problema do coração. Eu pergunto: aquele
que fizer o mesmo, porém matar em legítima defesa, também será portador dessa
grave doença? Primeiro,
vamos fazer um pequeno reparo nessa afirmação. A Doutrina Espírita reafirma o
que a ciência sempre disse: existe uma Lei de Causa e Efeito. Mas essa lei,
aplicada à nossa vida moral, tanto quanto à vida biológica, não funciona
segundo um modelo matemático preciso. Essa relação, que você estabelece, entre
matar com um tiro no coração e sofrer uma doença cardíaca na próxima
existência, pode acontecer, mas é apenas uma probabilidade, e não um fato
certo, inevitável. Existem uma infinidade de efeitos provenientes de uma mesma
causa: isso quer dizer que a doença cardíaca é apenas um dos possíveis efeitos
daquela causa. Assim, quando falamos que "todo
efeito tem uma causa" ou que "toda
causa deriva de um efeito", trata-se de uma regra geral, pois, uma
causa pode gerar vários efeitos ou vários efeitos podem decorrer de uma única
ou de uma série de causas. Cada caso é um caso. Feito o reparo, voltamos a
afirmar o seguinte: nenhum de nossos atos escapa à lei natural; bom ou mal, ele
sempre tem retorno, que não é o mesmo para todas pessoas ou para todas as
situações. Mas, quando praticamos um ato danoso - ou seja, um ato que traz
prejuízo para alguém - podemos sofrer dois tipos de consequências para o ato
cometido. A primeira consequência deriva da natureza do próprio ato; por
exemplo, matar alguém. Claro, que isso tem um custo para nós, uma consequência
ou uma repercussão em nossa vida futura - e nem poderia ser de outro modo. A
segunda consequência é de ordem moral, ou seja, em que circunstâncias cometemos
o ato? O crime foi premeditado? Matamos porque queríamos matar? Ou matamos por
mero acidente? ou apenas para nos defender? Esta questão de ordem moral é a
mais importante para o nosso mundo íntimo. Como todo ato traz consequência,
claro que o simples fato de matar ou provocar a morte de alguém terá consequência
em nossa vida. Mas, a consequência será mais drástica se o fizemos com a
intenção de matar, se o praticamos consciente e deliberadamente para provocar
aquela morte, se matamos porque queríamos matar, porque odiamos a pessoa
naquele momento e desejamos a sua morte. No entanto, se o resultado que
provocamos, ainda que seja a morte de alguém, não dependeu de nossa vontade; se
o fizemos porque não havia outra alternativa, se não pudemos ou não conseguimos
evitar porque estava além de nossas forças, com certeza, não ter uma atenuante
a nosso favor. O mecanismo responsável pelas chamadas "doenças carmicas"
(doenças derivadas de atos praticados em encarnações anteriores) decorre da
condição moral do Espírito. É ele que, atormentado pelo ódio ou pelo sentimento
de culpa diante do mal que fez, volta-se contra si mesmo, como numa espécie de
autopunição, provocando enfermidades ou deficiências no próprio corpo. São as
doenças mais difíceis, muitas vezes incuráveis, porque elas emergem do fundo da
alma, maculando o perispírito e deixando uma marca profunda na consciência.
Portanto, as condições de quem praticou o crime deliberadamente e quem o fez
apenas por uma determina circunstância da vida são completamente diferentes.
Não podemos saber, evidentemente, quais serão suas consequências, mas podemos
assegurar que elas terão consequências diferentes. 2- CIENTOLOGIA E ESPIRITISMO Existe alguma relação entre o Espiritismo e a
Cientologia? O que vem a ser Cientologia? Com certeza, muitos
leitores ainda não ouviram falar dessa doutrina, porque ela só surgiu em 1955,
nos Estados Unidos; portanto, tem apenas 49 anos. Trata-se de um sistema
filosófico-religioso baseado na obra do escritor L.Ron Hubbard, que viveu de
1911 a 1986. A Igreja da Cientologia originou-se de uma psicoterapia chamada
dianética. Seus ensinamentos mesclam elementos de psicoterapia com aspectos do
cristianismo, do hinduismo e do budismo. A Cientologia ensina a imortalidade da
alma e a evolução espiritual através do mecanismo na reencarnação. Neste ponto
específico, ela se parece com o Espiritismo. Mas difere em outros pontos que o
Espiritismo não aceita. Por exemplo: a fim de descobrir o seu Ser imortal interior,
seus adeptos se submetem a um rigoroso processo de entrevistas, que inclui
testes com detector de mentira, visando aumentar seu autoconhecimento. A igreja
também exige de seus adeptos altas somas como contribuição financeira. Muitos
astros do cinema americano pertencem a essa igreja, conforme já tivemos ocasião
de constatar pelos seus próprios pronunciamentos. Embora a Cientologia tenha a
reencarnação como ponto comum com o Espiritismo, ela nada tem a ver com o
Espiritismo e nem o Espiritismo com ela. A Doutrina Espírita não está voltada
apenas e tão somente para solução de problemas particulares, mas, sobretudo,
para os grandes problemas da Humanidade. Por isso, busca sua base moral na
doutrina de Jesus e entende que os problemas humanos serão equacionados, pouco
a pouco, à medida que o homem, independente de religião, for se adequando aos
padrões de comportamento ensinado por Jesus de Nazaré.
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