De volta o professor José Benevides
Cavalcante ( FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) esclarece um leitor sobre
duvida importante: O que havia de diferente entre
Jesus e Moisés em relação à ideia que eles faziam de Deus? Moisés e Jesus, dois grandes personagens da civilização
hebraica, viveram em épocas bem recuadas um do outro. Entre Moisés e Jesus há,
pelo menos, 12 séculos de diferença, Só esse fator - o largo tempo que os
separou - já é suficiente para determinar que entre eles houvesse uma visão bem
diferente de Deus. Não há verdade absoluta para o Ser humano, Junior. O tempo
muda a nossa maneira de ver as coisas, muda as concepções de vida das pessoas e
das coletividades, a respeito do que for, inclusive de Deus. Isso porque existe
uma lei natural de progresso, de evolução, e esse progresso significa, acima de
tudo, mudança. Assim, se Jesus viesse afirmando o mesmo que Moisés afirmou a respeito
de Deus, em 1.200 anos, não teria mudado nada e, portanto, Jesus nada teria que
acrescentar ao que Moisés havia dito. Mas, como você bem sabe, não foi o que
aconteceu. Jesus mudou muito a maneira de conceber Deus. Vamos fazer aqui uma
comparação para você entender melhor o que estamos querendo dizer. Analisando a
história da Humanidade e o desenvolvimento das ideias através dos tempos, vamos
perceber algo muito importante, que devemos levar sempre em consideração: na
essência, as coisas não mudam; o que muda é o nosso pensamento a respeito delas.
Por exemplo: o Sol, que iluminava a Terra na época de Moisés ( mais de 3.200 anos
atrás) é o mesmo Sol que nos ilumina hoje. No entanto, o que Moisés pensava a
respeito do Sol não é o que pensamos hoje. Por quê? Porque os conhecimentos,
que temos hoje, sobre o Sol são muito mais amplos e profundos do que os
conhecimentos que a Humanidade tinha naquele tempo. Aliás, Moisés acreditava
que o Sol girava em torno da Terra; hoje sabemos que é a Terra que gira em
torno do Sol. Por aí você percebe como o fator tempo é importante como elemento
de mudança. Moisés e Jesus pertenceram a um povo, que teve um grande papel da
história da Humanidade: os hebreus. Os hebreus se destacaram no mundo pela sua
contribuição ao pensamento religioso, porque eles sempre foram, acima de tudo,
um povo devotado à religião: fizeram de sua religião a razão e o objetivo da
vida. Se formos pesquisar a história desse povo, vamos perceber que a religião,
que começa no patriarca Abraão, veio passando, durante séculos, por várias fases
de desenvolvimento, ou seja, veio sofrendo mudanças significativas ao longo do
tempo. O historiador Edward MacNall Burns, na sua História da Civilização Ocidental,
divide a história religiosa desse povo em 5 principais fases: a pré-mosaica (antes
de Moises), a fase da monolatria nacional ( a de Moisés), a da revolução profética,
a fase do exílio ou do cativeiro da Babilônia e, finalmente, a fase pós exílio.
Cada uma dessas fases tem suas características próprias e aponta para significativas
mudanças na maneira de pensar sobre Deus e a sua relação como o homem. Mas, a
participação de Jesus no cenário religioso de seu tempo foi revolucionária,
porque Jesus, diferentemente dos profetas que o antecederam, veio com uma visão
muito própria, e tão diferente que ele não foi absorvido pela religião judaica,
que o rejeitou, pois seu pensamento não se enquadrava nas ideias de seus antecessores.
Moisés chamou Iavé ( o deus de Abraão) apenas para seu povo, como se seu povo
fosse exclusivo dele - um deus nacional - não descartando a existência de
outros deuses de outros povos. Sua religião estava voltada
exclusivamente para esta
vida - ele não cogitava de uma Vida Espiritual, além desta. Iavé era um
soberano poderoso e violento. Seus mandamentos, embora se fale que eram apenas
dez - na verdade, eram mais de 600, conforme está na Bíblia. Através deles,
estabelecia regras rígidas que deveriam ser seguidas à risca. O prêmio para os
obedientes era uma longa vida; o castigo, em muitos casos, era a morte. O
desobediente era condenado à morte sem direito à defesa, até mesmo por erros
mínimos como, por exemplo, fazer algum trabalho no sábado. É claro que passados
mais de 12 séculos depois, as coisas tinham mudado no panorama político e
social daquele povo. Os hebreus receberam muita influência de outros povos -
principalmente dos povos que o dominaram - como também de outras religiões. O
deus impiedoso e intolerante de Moisés não podia permanecer reinando durante
tanto tempo. Antes de Jesus, profetas, como Isaías, por exemplo, diferentemente
de Moisés, já viam em Deus bondade e misericórdia. O povo já não podia continuar
suportando, além dos sofrimentos da vida, uma impiedade tão grande e nenhuma
esperança para o futuro. Fazia-se necessária uma outra concepção, como foi a
que Jesus trouxe no justo momento, tentando apagar da mente do povo a ideia de
um Deus autoritário e violento. Explica-se, desse modo, a razão daqueles
conflitos de Jesus com os fariseus, com os escribas e com os saduceus, que
seguiam
rigidamente a tradição e e a
lei de Moisés. A discussão sobre o sábado – por exemplo, a intervenção de Jesus
em favor da mulher adúltera para que não fosse apedrejada, a aproximação
simpática com os hereges samaritanos, o novo mandamento que mandava amar até mesmo
os inimigos, a defesa da prostituta, a crítica aos ricos e poderosos, a postura
em defesa dos pobres e abandonados, o amor ao próximo e a certeza da
continuidade da vida após a morte - tudo isso, na verdade, traduzia uma nova
concepção da vida e de Deus. Deus, agora, não era mais um soberano poderoso e
prepotente, mas um Pai amoroso e compreensível; não era mais um aplicador de
penas, mas um Pai de amor e compreensão. Nisso a diferença entre as doutrinas
de Jesus e a de Moisés. Mas não estamos dizendo que Moisés estava errado e que
Jesus estava certo: apenas que Jesus aperfeiçoou a ideia de Deus - que, na
época de Moisés era uma, e no seu tempo passou a ser outra, conforme a lei de
evolução.
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