Lembrando
a passagem do dia 18 de abril de 1857, um sábado de manhã em Paris, data em que
materializava-se para a Humanidade do Planeta Terra a primeira edição de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, o início do cumprimento da
promessa de Jesus no capítulo 14, versículo 26 do EVANGELHO DE JOÃO, reunimos a
seguir informações sobre o método utilizado pelo Codificador do Espiritismo
para validar o conteúdo da pioneira obra. As informações são daquele que se
ocultaria no pseudônimo Allan Kardec, nome que utilizara em remota encarnação
como sacerdote Celta. Conta ele: -Numa das reuniões da Sra. Plainemaison,
travei conhecimento com a família Baudin, que residia então à rua Rochechouart.
O Sr. Baudin me convidou para assistir às sessões hebdomadárias que se
realizavam em sua casa e às quais me tornei desde logo muito assíduo. Eram
bastante numerosas essas reuniões; além dos frequentadores habituais,
admitiam-se todos os que solicitavam permissão para assistir a elas. Os médiuns
eram as duas senhoritas Baudin, que escreviam numa ardósia com o auxílio de uma
cesta, chamada carrapeta e que se encontra descrita em O
Livro dos Médiuns. Esse processo, que exige o
concurso de duas pessoas, exclui toda possibilidade de intromissão das ideias
do médium. Aí, tive ensejo de ver comunicações
contínuas e respostas a perguntas formuladas, algumas vezes, até, a perguntas
mentais, que acusavam, de modo evidente, a intervenção de uma inteligência
estranha. Eram geralmente frívolos os assuntos tratados. Os assistentes se
ocupavam, principalmente, de coisas respeitantes à vida material, ao futuro,
numa palavra, de coisas que nada tinham de realmente sério; a curiosidade e o
divertimento eram os móveis capitais de todos. Dava o nome de Zéfiro o
Espírito que costumava manifestar-se, nome perfeitamente acorde com o seu
caráter e com o da reunião. Entretanto, era muito bom e se dissera protetor da
família. Se com frequência fazia rir, também sabia, quando preciso, dar
ponderados conselhos e manejar, se ensejo se apresentava, o epigrama,
espirituoso e mordaz. Relacionamo-nos de pronto e ele me ofereceu constantes
provas de grande simpatia. Não era um Espírito muito adiantado, porém, mais
tarde, assistido por Espíritos superiores, me auxiliou nos meus trabalhos.
Depois, disse que tinha de reencarnar e dele não mais ouvi falar. Foi nessas reuniões que comecei os
meus estudos sérios de Espiritismo, menos, ainda, por meio de revelações, do
que de observações. Apliquei a essa nova
ciência, como o fizera até então, o método experimental; nunca elaborei teorias
preconcebidas; observava cuidadosamente, comparava, deduzia conseqüências; dos
efeitos procurava remontar às causas, por dedução e pelo encadeamento lógico
dos fatos, não admitindo por válida uma explicação, senão quando resolvia todas
as dificuldades da questão. Foi assim
procedi sempre em meus trabalhos anteriores, desde a idade de 15 a 16 anos.
Compreendi, antes de tudo, a gravidade da exploração que ia empreender;
percebi, naqueles fenômenos, a chave do problema tão obscuro e tão
controvertido do passado e do futuro da Humanidade, a solução que eu procurara
em toda a minha vida. Era, em suma, toda uma revolução nas ideias e nas
crenças; fazia-se mister, portanto, andar com a maior circunspeção e não
levianamente; ser positivista e não idealista, para não me deixar iludir. Um dos primeiros resultados que colhi das minhas observações
foi que os Espíritos, nada mais sendo do que as almas dos homens, não possuíam
nem a plena sabedoria, nem a ciência integral; que o saber de que dispunham se
circunscrevia ao grau, que haviam alcançado, de adiantamento, e que a opinião
deles só tinha o valor de uma opinião pessoal. Reconhecida desde o
princípio, esta verdade me preservou do grave escolho de crer na infalibilidade
dos Espíritos e me impediu de formular teorias prematuras, tendo por base o que
fora dito por um ou alguns deles. O simples fato da
comunicação com os Espíritos, dissessem eles o que dissessem, provava a
existência do mundo invisível ambiente. Já era um ponto essencial, um
imenso campo aberto às nossas explorações, a chave de inúmeros fenômenos até
então inexplicados. O segundo ponto, não menos
importante, era que aquela comunicação permitia se conhecessem o estado desse
mundo, seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Vi logo que cada
Espírito, em virtude da sua posição pessoal e de seus conhecimentos, me
desvendava uma face daquele mundo, do mesmo modo que se chega a conhecer o
estado de um país, interrogando habitantes seus de todas as classes, não
podendo um só, individualmente, informar-nos de tudo. Compete
ao observador formar o conjunto, por meio dos documentos colhidos de diferentes
lados, colecionados, coordenados e comparados uns com outros.
Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com homens. Para mim,
eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores
predestinados. Tais as disposições com que empreendi meus estudos e neles
prossegui sempre. Observar, comparar e julgar, essa
a regra que constantemente segui. Até ali, as sessões em casa do Sr.
Baudin nenhum fim determinado tinham tido. Tentei lá obter a resolução dos
problemas que me interessavam, do ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e
da natureza do mundo invisível. Levava para cada sessão uma série de questões
preparadas e metodicamente dispostas. Eram sempre respondidas com precisão,
profundeza e lógica. A partir de então, as sessões assumiram caráter muito
diverso. Entre os assistentes contavam-se pessoas sérias, que tomaram por elas
vivo interesse e, se me acontecia faltar, ficavam sem saberem o que fazer. As
perguntas fúteis haviam perdido, para a maioria, todo atrativo. Eu, a
princípio, cuidara apenas de instruir-me; mais tarde, quando vi que aquilo
constituía um todo e ganhava as proporções de uma doutrina, tive a ideia de
publicar os ensinos recebidos, para instrução de toda a gente. Foram aquelas
mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, constituíram a
base de O LIVRO DOS ESPÍRITOS. No ano seguinte, em 1856, frequentei ao mesmo
tempo as reuniões espíritas que se celebravam à rua Tiquetone, em casa do Sr.
Roustan e Srta. Japhet, sonâmbula. Eram sérias essas reuniões e se realizavam
com ordem. As comunicações eram transmitidas por intermédio da Srta. Japhet,
médium, com auxílio da cesta de bico. Estava concluído,
em grande parte, o meu trabalho e tinha as proporções de um livro. Eu, porém,
fazia questão de submetê-lo ao exame de outros Espíritos, com o auxílio de
diferentes médiuns. Lembrei-me de fazer dele objeto de estudo nas reuniões do
Sr. Roustan. Ao cabo de algumas sessões, disseram os Espíritos que preferiam
revê-lo na intimidade e marcaram para tal efeito certos dias nos quais eu
trabalharia em particular com a Srta. Japhet, a fim de fazê-lo com mais calma e
também de evitar as indiscrições e os comentários prematuros do público. Não me
contentei, entretanto, com essa verificação; os Espíritos assim mo haviam
recomendado. Tendo-me as circunstâncias posto em relação com outros médiuns,
sempre que se apresentava ocasião eu a aproveitava para propor algumas das
questões que me pareciam mais espinhosas. Foi assim que mais de dez médiuns
prestaram concurso a esse trabalho. Da comparação e da fusão de todas as
respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes retocadas no silêncio da
meditação, foi que elaborei a primeira edição de O Livro dos Espíritos,
entregue à publicidade em 18 de abril de 1857. Pelos fins desse mesmo
ano, as duas Srtas. Baudin se casaram; as reuniões cessaram e a família se dispersou.
Mas, então, já as minhas relações começavam a dilatar-se e os Espíritos me
multiplicaram os meios de instrução, tendo em vista meus ulteriores trabalhos. INSTRUMENTO “É pela mediunidade efetiva,
consciente e facultativa, que se chegou a constatar a existência do mundo
invisível e, pela diversidade das manifestações obtidas ou provocadas, que foi
possível esclarecer a qualidade dos seres que o compõem e o papel que
representam na natureza. O médium fez pelo mundo
invisível o mesmo que o microscópio pelo mundo dos infinitamente pequenos”. CAMPO DE PESQUISA Reuniões
da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, muitas das quais resumidas ou
relatadas nos números da REVISTA ESPÍRITA, bem
como contribuições de correspondentes em várias partes da França e Europa que
se mantinham em contato com Allan Kardec, dirimindo dúvidas ou relatando
experiências.
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