O professor José Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA ESPÍRITA, eme) com a sobriedade e competência de sempre esclarece
duas dúvidas levantadas por nosso leitores. Por que, mesmo
sabendo que estamos errados, continuamos errando, censurando os defeitos dos
outros, e ferindo a nossa consciência? Não existe uma maneira de evitar tudo
isso? Existe, com certeza. Mas é
difícil, muito difícil. Se fosse fácil mudarmos as nossas disposições intimas,
não teríamos tantos problemas, mas também não haveria tanto mérito. Porém, uma
mudança interior requer muito esforço e muita perseverança. Vemos isso nas
insistentes recomendações de Jesus. Ninguém melhor que ele conhecia o limite e
as fraquezas de seus discípulos. No entanto, ele soube compreendê-los nos
momentos cruciais. Veja que, apesar da presença física de Jesus - um privilégio
que bem poucos puderam gozar - seus discípulos tiveram muita dificuldade em
seguir seus ensinamentos e se transformar interiormente. E eles não eram
pessoas quaisquer! Foi o próprio Jesus que os escolheu. Judas o traiu, Pedro o
negou e, quando ele foi preso, todos fugiram. Só retornaram quando, depois de
morto, Jesus apareceu anunciando a imortalidade. Aí perceberam que, de fato,
Jesus tinha razão. A respeito disso, Chico Xavier exalta a personalidade de Jesus,
que jamais exigiu nada. Sobre a doação de
órgãos. Aquele que tem um órgão extraído de seu corpo físico não está sendo
prejudicado espiritualmente? Não é bem assim. Muito pelo contrário.
A Doutrina Espírita - que ensina a caridade - não poderia se contradizer nesse sentido.
A doação de órgãos é um ato de amor, em favor de alguém que ainda pode continuar
encarnado. A vida na Terra é muito preciosa para o Espírito, de modo que devemos
contribuir sempre para a defesa e preservação da vida, até quanto pudermos. Aquele
que doa um órgão está, portanto, se prestando a uma causa nobre, elevada, do ponto
de vista espiritual. Assim, como a Doutrina Espírita nos estimula a fazer o bem,
em qualquer circunstância, atendendo aquele que precisa de nós, também ela estimula
a doação de órgãos - quer a doação ocorra enquanto o doador está vivo ou quando
ele já desencarnou. Com certeza, terá a assistência da Espiritualidade para
isso. Mas, a sua preocupação é se a doação de um determinado órgão pode prejudicar
o Espírito do doador em algum momento. Na verdade, em relação à doação, existe apenas
e tão somente uma pequena preocupação. A pessoa que doa deve estar muito consciente
do que está fazendo para não se arrepender depois e ficar angustiada diante de
sua atitude. O fato de doar implica em se desprender totalmente daquilo que se
doou, a fim de que o Espírito não se perturbe depois, porque acha que não devia
ter feito isso, que vai sentir falta daquele órgão. É um problema que pode
acontecer com alguns Espíritos ainda muito presos à vida material,
principalmente ao seu corpo. A repercussão é, portanto, de ordem psicológica.
Mas esse tipo de problema não se restringe apenas à doação de órgãos, mas de qualquer
coisa que possamos doar a alguém. Por isso, Jesus disse: "Não saiba a
vossa mão esquerda o que faz a direita". O que quer dizer isso? Quer
dizer, sobretudo, que o ato de doar tem que ser plenamente consentido pela
nossa consciência, tem que ser uma doação íntima, para que nos sintamos bem com
ela, para que ela nos torne mais felizes conosco mesmos. Dar agora e
arrepender-se, pois, não é dar. Neste caso, o doador sofre. Por isso,
repetimos, a doação deve ser consciente. Somente o doador é que deve dar o seu
próprio consentimento, porque só ele sabe medir o valor de seu gesto e o significado
que esse gesto tem para ele mesmo. Além do mais, há doações em vida - há pessoas
que doam órgãos para seus parentes (como o rim, por exemplo) e que salvam
vidas. Acompanhando a vida dos doadores, vamos perceber que, na grande maioria
das vezes, eles se sentem felizes, por terem preservado uma vida e suas consciências,
com certeza, se elevam a uma condição de plena realização, porque contribuíram
para a felicidade de alguém. Não há, efetivamente, ato de mais elevado desprendimento
e abnegação. Mas, no caso do órgão, retirado do cadáver, a doação é mais fácil,
porque o corpo já morreu e o órgão, se não fosse doado, poderia ser comparado a
um alimento jogado fora, e que não fora aproveitado para matar a fome de alguém.
Logo não vemos por que a doação de um órgão possa prejudicar o doador. Nada de
bom, que possamos fazer pelos outros, nos prejudica. Pelo contrário, nos ajuda.
Devemos, portanto, incentivar essa prática, porque ela faz parte da Lei da Natureza.
Se você já observou, a natureza não desperdiça nada, aproveita tudo. E o homem,
que tem aprendido com a natureza, pode ajudá-la a preservar-se ainda mais, utilizando
seus recursos em seu próprio benefício. O fato de uma pessoa se negar a doar um
órgão é problema particular dela, mas não deve se constituir em regra geral.
Não sei se você já pensou nisso, mas se você for realista, vai verificar que
todos os nossos órgãos, que vão para o tumulo um dia, serão devorados pelos
vermes, para consolo da própria natureza. Se não dermos a eles um destino mais
elevado, vamos optar pela alimentação dos vermes e não pela vida de outro Ser
humano. Pense nisso.
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