O professor
José
Benevides Cavalcante (FUNDAMENTOS DA DOUTRINA
ESPÍRITA, eme), esclarece mais duas duvidas de leitores. MANIFESTAÇÕES DO
ESPIRITO SANTO Como o Espiritismo vê a
manifestação do Espírito Santo nas igrejas? Essa manifestação seria realmente
do Espírito de Deus ou um outro Espírito que se comunica? Como saber se se trata
de um Espírito bom, em que se pode confiar? A
questão é delicada. Não pretendemos criticar ou
ferir a fé de nossos irmãos evangélicos e
carismáticos, que merecem o maior respeito. As
igrejas todas são boas quando as pessoas que delas participam estão bem intencionadas. Mesmo que essas pessoas não tenham um conhecimento mais profundo daquilo que se passa durante seus cultos, o importante e fundamental é o que elas trazem no coração - a sua crença, a sua fé em Deus e as suas elevadas intenções. O mais importante, certamente, é a espiritualidade que elas buscam. Quando nos alimentamos, o importante é o teor nutritivo do alimento, seja lá qual for o nome que se dê a esse alimento. Do mesmo modo, o fato de conhecermos ou não a composição química do alimento que estamos ingerindo, não modifica suas propriedades nutritivas. Assim é em relação à nossa relação com Deus, quando estamos movidos de boas intenções. Para a Doutrina Espírita, quem se
comunica através das pessoas são Espíritos.
Muitas vezes, Espíritos protetores e amigos, que
se preocupam em alimentar espiritualmente os
fiéis, de acordo com suas necessidades e o seu nível de compreensão diante da vida. Dêem a eles o nome de Espírito Santo ou outros nomes, isso não importa. O mesmo acontecia nos primeiros tempos do Cristianismo, quando Paulo estava à frente do movimento. Na sua primeira carta aos Coríntios, por exemplo, a partir
do capítulo 12, ele fala dos
dons espirituais (para nós, dons mediúnicos) e diz que esses dons são dádivas
de Deus às
criaturas. Não é por outra
razão que Paulo se mostra tão preocupado se os Espíritos são de Deus (ou seja,
se eles são verdadeiros ou dignos de confiança), porque, por vezes, muitos são enganadores,
como acontece também
com os encarnados que, muitas
vezes, usam o nome de Deus, exploram a fé simples do povo, para tirarem
proveito em benefício próprio. O essencial, nesse caso, é saber se o que
recebemos das comunicações está de acordo com o
princípio do amor ao
próximo, ensinado por Jesus, para evitarmos o que o Evangelho chama de “falsos
cristos” e
“falsos profetas”. O único
meio de podermos verificar se há honestidade e verdade na comunicação é pelo
valor moral de que ela vem revestida. PAULO: FÉ E OBRAS
Na Bíblia, Paulo ensina que somos justificados pela fé e não pelas obras. Em
Gálatas, capítulo 2, versículo, 16, ele diz: ‘ Sabendo que o homem não é justificado
pelas obras da Lei, mas pelaMfé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus
Cristo, e não pelas obras da Lei, porquanto pelas obras da Lei nenhuma carne
será justificada’. Se o Espiritismo diz seguir Jesus e acreditar somente no
valor das obras, como explica essa afirmação? Cremos que há uma pequena
confusão na forma de interpretar esse versículo. Na verdade, esse versículo
pertence a uma carta que Paulo dirigiu aos Gálatas, preocupado que estava com a
questão da circuncisão. A circuncisão é a retirada do prepúcio - uma pele que
envolve o pênis dos meninos e que pode, muitas vezes, causar-lhes uma série de
problemas. Os judeus, desde Moisés, consideravam a retirada do prepúcio - ou
seja, a circuncisão - como um preceito da lei de Deus, como um mandamento
divino, uma obrigação sagrada a que os pais não podiam se omitir de forma
alguma. Paulo não via essa questão como fundamental e achava mesmo que ela nada
tinha a ver com os ensinamentos de Jesus, que estava preocupado com o Espírito
e não com o corpo. Todavia, muitos judeus ortodoxos, que pretendiam seguir
Jesus, sem abrir mão das práticas tradicionais do judaísmo, também não abriam
mão desse preceito, considerando que a circuncisão deveria continuar sendo um
mandamento divino e, portanto, uma prática obrigatória também entre os
seguidores de Jesus. Jesus não se referira ao assunto. Embora hoje nos pareça
uma questão de pouca importância sob o ponto de vista religioso, naquele
momento ela foi fundamental, porque se transformou numa discussão tão acalorada,
que dividiu os primeiros cristãos - até mesmos seus líderes - abalando a fé de
muita gente. Isso porque os que seguiam Jesus eram quase todos judeus e, muitos
deles eram fiéis à tradição da lei de Moisés. Portanto, quando Paulo fala em
“obras da lei” nesse versículo, essa expressão diz respeito às práticas recomendadas
por Moisés - e ele (Paulo) está se referindo à circuncisão, dizendo que essa
prática não tem importância alguma para os que seguem Jesus, que ela nada tem
ver com a fé em Jesus, pois esta, sim, a fé em Jesus, é que identifica seu
verdadeiro seguidor. Veja o que vem mais adiante, já no capítulo 5º da mesma carta
aos Gálatas, precisamente no versículo 6, quando Paulo diz: “Porque em Jesus
Cristo nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude ( ou seja, têm valor),
mas, sim, a fé que opera por caridade”. E, no versículo 14, ele complementa:
“Porque toda a lei se cumpre numa só palavra: Amarás ao teu próximo como a ti
mesmo”. Paulo está mostrando, aqui, que praticar ou não praticar a circuncisão
não tem importância alguma sob o ângulo da crença, se não houver verdadeiro
amor, porque, onde existe verdadeiro amor, existe a caridade - ou seja, a prática
do bem. Tanto assim que no versículo 22, ele conclui: “ Mas o fruto do Espírito
é, caridade, gozo, paz,
longanimidade, benignidade,
bondade, fé, mansidão, temperança.” Portanto, prezado leitor, não podemos tirar conclusões apenas de
versículos isolados, mas ler e saber o contexto de toda a carta para sabermos
de que assunto está tratando e o objetivo a que ele pretende chegar.
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