Em reunião de junho de 1865, foi lida em reunião da Sociedade Espírita de Paris, notícia
sobre a existência desde o início do século 19, de uma comunidade próximo à Villingen,
na Floresta Negra, Alemanha, caracterizada por um estilo de vida que se
aproximava da sociedade ideal. Segundo a
nota, “composta por cerca de 400 habitantes, no meio século de existência,
jamais aconteceu que um só habitante tivesse tido que ver com a polícia; jamais
houve casos de delitos ou de crimes; jamais foi aberto um processo nessa
comuna. Também ali não se encontram mendigos”. No número seguinte da REVISTA ESPÍRITA, após reproduzir breve
manifestação espontânea do Espírito Lamennais, Allan Kardec comenta: -“Qual
a causa da maior parte dos males da Terra, senão o contato incessante dos
homens maus e perversos? O egoísmo mata a benevolência, a condescendência, a
indulgência, o devotamento, a afeição desinteressada, e todas as qualidades que
fazem o encanto e a segurança das relações sociais. Numa sociedade de egoístas
não há segurança para ninguém, porque cada um, só buscando o próprio interesse,
sacrifica sem escrúpulo o do vizinho. Muitas pessoas se creem perfeitamente
honestas porque são incapazes de assassinar e assaltar pelas estradas. Mas será
que aquele que, por cupidez e dureza, causa a ruína de um indivíduo e o leva ao
suicídio, que reduz toda uma família à miséria., ao desespero, não é pior que
um assassino e um ladrão? Assassina em fogo lento, e porque a lei não o
condena, porque os seus semelhantes aplaudem a sua maneira de agir e a sua
habilidade, ele se julga isento de censuras e marcha de fronte erguida! Assim
os homens estão sempre em desconfiança uns contra os outros; sua vida é uma
ansiedade perpétua; se não temem o ferro, nem
veneno, estão às voltas com as chicanas, a inveja, o ciúme, a calúnia,
numa palavra, com o assassinato moral. Que seria preciso para fazer cessar esse
estado de coisas? Praticar a caridade(...). A comunidade em foco, nos oferece
em miniatura o que será o mundo quando for regenerado. O que é possível em
pequena escala se-lo-á em grande? Duvidar seria negar o progresso. Dia virá em
que os homens, vencidos pelos males gerados pelo egoísmo, compreenderão que
seguem rota errada, e Deus quer que eles o aprendam à sua custa, porque lhes
deu o livre arbítrio. O excesso do mal lhes fará sentir a necessidade do Bem, e
eles se voltarão para este lado, como para a tábua de salvação. Quem os levará
a isto? A fé séria no futuro e não a crença no nada após a morte; a confiança
num Deus bom e misericordioso, e não o medo dos suplícios eternos. Tudo
está submetido à Lei do Progresso; os mundos também progridem física e
moralmente; mas se a transformação da Humanidade deve esperar o resultado da
melhora individual, se nenhuma causa vier apressar essa transformação, quantos
séculos, quantos milhares de anos não serão ainda possíveis? Tendo a Terra
chegado a uma dessas fases progressivas, basta que não seja mais permitido aos
Espíritos atrasados de aqui encarnar e que, à medida das extinções,
Espíritos mais adiantados venham tomar o lugar dos que partem, para que em uma
ou duas gerações o caráter geral da Humanidade seja mudado. Suponhamos, pois, que em vez de Espíritos
egoístas, a Humanidade seja, num dado tempo, formada de Espíritos imbuídos de
sentimentos de caridade, em vez de procurarem prejudicar-se, eles se
entreajudarão mutuamente; viverão felizes e em paz. Não mais ambição de povo a
povo e, portanto, não mais guerras; não mais soberanos governando ao seu
talante, a justiça em vez do arbítrio, portanto, não mais revoluções; não mais
os fortes, esmagando e explorando o fraco; equidade voluntária em todas as
transações, portanto não mais querelas nem chicanas. Tal será o estado do mundo
depois de sua transformação. De um mundo de expiação e provas, de um lugar de
exílio para os Espíritos imperfeitos, tornar-se-á um mundo feliz, um lugar de
repouso para os bons Espíritos; de um mundo de punição será um mundo de
recompensa (...). Suponhamos que alguns Espíritos embrulhões, egoístas e
malévolos aí venham a encarnar-se. Em breve semearão a perturbação e a
confusão; ver-se-ão reviverem, como alhures, as querelas, os processos, os
delitos e os crimes. Assim seria a Terra, após sua transformação, se Deus a
abrisse ao acesso dos maus Espíritos. Progredindo a Terra, aí estariam
deslocados e por isso expiarão seu endurecimento e refazendo sua educação moral
em mundos menos adiantados”.
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