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segunda-feira, 1 de julho de 2019

FORMANDO UMA BASE DE DADOS E KARDEC - HOJE E SEMPRE 307


O laboratório de pesquisas em que se transformou a Sociedade Espírita de Paris, no sentido de obter uma amostragem significativa de informações sobre as realidades encontradas por aqueles que retornam ao Mundo Espiritual após o transe da chamada morte, não se prendia às evocações de personalidades destacadas da comunidade intelectual da França ou outros países. Servindo-se de diferentes médiuns – o equivalente ao microscópio para a realidade dos invisíveis do plano material, segundo Allan Kardec -, o dirigente das reuniões atendia também a pedidos a ele enviados por pessoas das mais diferentes regiões ou condições sociais. A propósito, na edição de junho de 1861 da REVISTA ESPÍRITA ele comenta que “é um erro supor que não haja nada a ganhar nas palestras com os Espíritos de homens comuns e que homens ilustres sejam os únicos dos quais podem sair ensinos proveitosos. Entre eles certamente há os muito insignificantes, mas, por vezes, também, daqueles dos quais menos se espera, saem revelações de grande importância para o observador sério. Há, aliás, um ponto que nos interessa muitíssimo, porque nos toca mais de perto: a passagem, a transição da vida atual à vida futura, passagem tão temida, que só o Espiritismo nos faz encarar sem pavor, e que não podemos conhecer senão estudando as suas atualidades, isto é, nos que acabam de a transpor, quer sejam ilustres, que não”. Após tal observação, Kardec reproduz o resultado de uma dessas evocações, ocorrida na reunião de 16 de maio de 1861, do Marques de Saint-Paul, que fora membro da Sociedade, morto em 1860. Atendia solicitação de sua irmã que, embora médium, não se sentia suficientemente treinada e segura para fazê-lo.
Informando que “tentaria responder do melhor modo possível”, o Espírito satisfazendo a curiosidade da irmã, explica ainda “sentir-se sob os efeitos da recente condição de errante, estado transitório que nunca traz felicidade nem o castigo absolutos”. Indagado se demorara para reconhecer-se na condição de desencarnado, disse “ter estado muito tempo em perturbação, da qual só saiu para agradecer a piedade dos que não o esqueciam e oravam por ele”, acrescentando “não ter condição de avaliar a duração dessa perturbação”. Revelou que os parentes que logo reconheceu foram “sua mãe e seu pai, que o receberam ao despertar, iniciando-o na nova vida”. Sobre o fato de, no fim da doença de que se via envolvido, parecer conversar com entes amados, explicou que isso se dera “porque, antes de morrer, teve a revelação do mundo que ia habitar, tornara-se vidente antes de morrer e seus olhos se velaram na passagem, na separação definitiva do corpo, porque os laços carnais ainda eram muito fortes”. A propósito, Kardec observa que “o fenômeno do antecipado desprendimento da alma é muito frequente; antes de morrer muitas pessoas entrevem o mundo dos Espíritos; é, sem dúvida, a fim de suavizar pela esperança o pesar de deixar a vida. Mas o Espírito acrescenta que seus olhos se velaram na passagem da separação. É um efeito que ocorre sempre. Nesse momento o Espírito perde a consciência de si mesmo, jamais testemunha o último suspiro do corpo e a separação se opera sem que a suspeite. As próprias convulsões da agonia são um efeito puramente físico, cuja sensação o Espírito quase nunca experimenta. Dizemos “quase”, porque pode acontecer que essas últimas dores lhe sejam infligidas como punição”. Confirma na sequência se lembrar de ter “revisto os anos jovens e puros da existência” que se encerrava –, detalhe observado por Kardec como, provavelmente, por um motivo providencial” -.Questionado sobre o porque nas referências a seu corpo, falava sempre na terceira pessoa, esclareceu que “o fato de ser vidente, como dissera, sentia nitidamente as diferenças existentes entre o físico e o espiritual. Essas diferenças, ligadas entre si pelo fluido da vida, tornam-se bem distintas aos olhos dos agonizantes videntes”. Kardec chama a atenção para essa particularidade apresentada pela morte desse senhor:-“ Nos seus últimos momentos dizia sempre: -“Ele tem sede”; “é preciso dar-lhe de beber”; “ele tem frio”; “é preciso aquecê-lo”; “ele sofre em tal parte”,etc. E quando lhe diziam: -“Mas sois vós que tendes sede, ele respondia: -“Não, é ele”. Aqui se desenham perfeitamente as duas existências; o EU pensante está no Espírito e não no corpo; já em parte despendido, o Espírito considerava seu corpo como uma outra individualidade, que, a bem dizer, não era ele. Era, pois, ao seu corpo que deviam dar de beber, e não a ele Espírito”. Finalizando, novamente perguntado sobre a ideia que passava de não estar feliz, ele elucida: -“Eu estou num estado transitório; as virtudes humanas aqui adquirem seu verdadeiro preço. Sem dúvida meu estado é mil vezes preferível ao da encarnação terrena”...











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