No número de abril de 1862 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec desenvolve um
interessante artigo intitulado Uma Paixão De Além-Túmulo, baseando-se
em notícia do jornal SÉCULO, de 13 de janeiro daquele ano
sobre o suicídio de um menino de 12 anos de nome Maximiliano V. Residindo
com os pais, aprendiz de tapeceiro, tinha o hábito de ler romances-folhetins,
dedicando-se com incomum interesse aos seus conteúdos, o que lhe superexcitava
a imaginação e lhe inspirava ideias acima de sua idade. Assim, imaginou que
sentia paixão por uma criatura que tinha ocasião de ver algumas vezes e que
estava longe de pensar que tivesse inspirado tal sentimento. Desesperado por
não ver a realização dos sonhos produzidos pelas leituras, resolveu matar-se.
Foi encontrado pelo porteiro do prédio onde trabalhava, enforcado numa corda
que prendera numa viga existente levaram-no na sala. Comenta Kardec
que as circunstâncias de tal morte, levaram-no a pensar que a evocação desse
menino poderia resultar num ensino útil. Sendo assim, na reunião da Sociedade Espírita de Paris, de 24 de
janeiro, procedeu-se à tentativa através de um médium chamado E.
Véry, alcançando-se um resultado bastante interessante. Inicialmente
procurou-se ouvir o Guia Espiritual do médium sobre a possibilidade de evocar-se o
Espírito do menino, obtendo-se a informação que sim, que cuidaria
de trazê-lo pois o mesmo estava sofrendo, contudo sua manifestação serviria de
exemplo e lição para os que do resultado tomassem conhecimento.
Apresentando-se o Espírito de Maximiliano, afirmou não saber bem onde estava,
percebendo
como que um véu à sua frente, que falava sem saber como e como
o escutavam, salientando que aquilo que até há pouco ainda era obscuro,
já podia ver; sofria, mas sentindo-se naquele momento
aliviado. Perguntado se lembrava das circunstâncias de sua morte, respondeu
parecerem
muito vagas, sabendo que se suicidara sem motivo, atribuindo sua
personalidade sonhadora a uma espécie de intuição de sua vida passada,
em que fora poeta. Solicitado a descrever a sensação que experimentou
quando se reconheceu no mundo dos Espíritos, contou que via seu corpo, inerte e frio,
e, ele, planava em volta dele; chorava lágrimas quentes, por ter acabado
de reconhecer a enormidade de seu erro; não tendo certeza morte; pensando
que seus olhos fossem abrir”. Consultado sobre o se poderia fazer útil
por ele, respondeu que orar. Na sequência, Kardec buscou
esclarecimentos com o Guia do médium sobre a possível punição para este Espírito
por haver suicidado, especialmente, considerando sua idade, se sua ação fora
tão grave quanto a de outros suicidas, colhendo as seguintes explicações: -“ A
punição será terrível, porque foi mais culpado que os outros visto possuir
grandes faculdades como a força de amar a Deus de maneira poderosa e de fazer o
Bem”, acrescentando que “os suicidas sofrem longos padecimentos”;
que Maximiliano “experimenta a sensação de um fogo que o consume e devora”; o
que somente “seria atenuado orando-se por ele, sobretudo se ele se unisse a essas
preces”. O Espírito revelaria ainda que sua existência anterior como
poeta, se dera ao tempo do reinado de Luiz XV, que fora pobre e desconhecido,
que amara
a uma mulher que vira passar num dia de primavera num parque, revendo-a,
posteriormente, somente em seus sonhos que lhe prometiam que a possuiria um dia”.
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