A
seção Questões E Problemas da edição de agosto de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, dedicou-se a analisar
uma mensagem de Erasto recebida SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS, reunião de
8 de julho, atendendo leitor da cidade de Bordeaux que, perguntara “onde
o progresso, e que benefício moral foi colhido de tanto sangue derramado quando
das ações dos conquistadores espanhóis no estado do México”? Descrito
nas cartas de Cristóvão Colombo como
“povo
infinitamente superior, não só aos seus invasores, mas ainda hoje, se comparados
a países civilizados”, leva o corresponde a pergunta ainda: –“Não
teria sido melhor que a velha Europa tivesse ignorado o Novo Mundo, tão feliz
antes dessa descoberta?”. O Instrutor Espiritual explica que “sob
as aparências de uma certa bondade natural, e com costumes mais doces que
virtuosos, os Incas viviam despreocupadamente, sem progredir nem se elevar. A
essas raças primitivas faltava a luta; e, se batalhas sangrentas não os
dizimavam; se uma ambição individual ali não exercia uma pressão soberana para
lançar aquelas populações a conquistas, elas não eram menos atingidas pelo
perigoso vírus que conduzia sua raça à extinção. Era preciso retemperar as
fontes vitais desses Incas abastardados, dos quais os Aztecas representavam a
decadência fatal, que deveria ferir todos aqueles povos. Se a essas causas
inteiramente fisiológicas, juntarmos as causas morais, notaremos que o nível
das ciências e das artes ali tinha igualmente ficado em prolongada infância.
Havia, pois, utilidade de por esses países pacíficos no nível das raças
Ocidentais. (...).. Que resta de tanto sangue derramado?, perguntam de
Bordeaux. Para começar, o sangue derramado não foi tão considerável quanto se
poderia crer. Ante as armas de fogo e alguns soldados de Pizarro, toda a região
invadida submete-se como ante semideuses, saídos das águas. É quase um episódio
da Mitologia antiga e essa raça indígena é, sob vários aspectos, semelhante às
que defendiam o Tosão de Ouro”. Desenvolvendo algumas reflexões sobre a
questão, Allan Kardec diz: -“Do ponto de vista antropológico, a
extinção das raças é um fato positivo. Do ponto de vista da filosofia, ainda é
um problema. Do ponto de vista da religião,
o fato é inconciliável com a justiça da Deus, se se admitir para o homem
uma única existência corpórea para decidir seu futuro para a Eternidade. Com
efeito, as raças que se extinguem são sempre raças inferiores às que as
sucedem; podem ter na vida futura uma posição idêntica a das raças mais
aperfeiçoadas? O simples bom senso repele esta ideia, pois, do contrário, o
trabalho que fazemos para nos melhorarmos seria inútil, e valeria o mesmo para
ficarmos selvagens. A não pré-existência da alma forçosamente implica, para
cada raça, a criação de novas almas, mais perfeitas, ao saírem das mãos do
Criador, hipótese inconciliável com o princípio de toda justiça. Ao contrário,
se admitirmos um mesmo ponto de partida para todas e uma sucessão de
existências progressivas, tudo se explica. Na extinção das raças, geralmente
não se leva em conta senão o Ser material, único que se destrói, enquanto se
esquece o Ser espiritual, que é indestrutível e apenas muda de vestimenta,
porque a primeira não estava mais em relação com seu desenvolvimento moral e
intelectual(...). Assim, não se deve perder de vista que a extinção das raças
só atinge o corpo e em nada afeta o Espírito. Longe de sofrer com isto, ganha o
Espírito um instrumento mais aperfeiçoado(...). O Espírito de um selvagem,
encarnado no corpo de um sábio europeu não seria mais sábio e não saberia o que
fazer de seu instrumento, cujas cordas inativas atrofiar-se-iam; o Espírito de
um sábio, encarnado no corpo de um selvagem, aí seria como um grande pianista
ante um piano ao qual faltassem cordas(...). O desaparecimento das raças
opera-se de duas maneiras: numas, pela extinção natural, em consequência de
condições climatéricas e do abastardamento, quando ficam isoladas; outras,
pelas conquistas e pela dispersão, que determinam cruzamentos(...). Quanto aos
indígenas do México, diremos como Erasto que não havia entre eles costumes
antes doces do que virtuosos e acrescentaremos que, sem dúvida, muito poetizada
sua pretensa idade do ouro. Ensina-nos a história da conquista que guerreavam
entre si, o que não indica um grande respeito pelos direitos dos vizinhos. Sua
idade de ouro era a da infância (...). São necessários séculos para a educação
dos povos; ela não se opera senão pela transformação de seus elementos
constitutivos. A França seria o que é hoje sem a conquista dos Romanos? E os
bárbaros ter-se-iam civilizado se não tivessem invadido a Gália? A sabedoria
gaulesa e a civilização romana, unidas ao vigor dos povos do Norte fizeram o
povo francês atual. Sem dúvida é penoso pensar que o progresso, por vezes,
precisa da destruição. Mas é preciso destruir as velhas cabanas,
substituindo-as por casa novas, mais belas e cômodas. Alias, é preciso levar em
conta o estado atrasado do Globo, onde a Humanidade está apenas no progresso
material e intelectual. Quando entrar no do progresso moral e espiritual, as
necessidades morais ultrapassarão as necessidades materiais(...). Ensinando-lhe
a participação do elemento espiritual em todas as coisas do mundo, o
Espiritismo alarga seu horizonte e muda o curso de suas ideias. Abre a Era do Progresso
Moral”.
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