Na pauta de fevereiro
de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui um artigo motivado por
uma carta por ele recebida de um condenado detido numa penitenciária francesa,
exaltando as mudanças nele provocadas depois do conhecimento do Espiritismo. Em
numero anterior ele já havia incluído a de outro segregado de outra instituição
penal revelando reação semelhante. Alertando tê-la corrigido apenas quanto aos
erros ortográficos, reproduziu-a integralmente. Diz a missiva: -“Senhor,
há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação
de Além-Túmulo, ri, e disse que isto não era possível. Falava como ignorante,
que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível
posição em que me acho agora, vosso bom e excelente LIVRO DOS ESPÍRITOS. A
princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não
crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei
gosto; depois levei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez o vosso livro
mas, então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca
inteligência que Deus me deu. Senti então despertar essa velha fé que minha mãe
me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me
esclarecer sobre o Espiritismo. A partir deste momento tive um pensamento muito
decidido, o de me dar conta, aprender,
ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda crença que se pode ter e que é
preciso ter em Deus e seu poder; desejava ver a verdade; orei com fervor e
comecei as experiências. As primeiras foram nulas, sem resultado algum. Não me
desencorajei, perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas
preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e me remeti ao trabalho com
toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite,
senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve
sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna,
que parava no punho. Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé.
Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante
corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei
então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências e, desta
vez agradeci a Deus, de todo o coração, pois tinha obtido mais do que ousava
esperar. Desde então, de duas ou duas noites entretenho-me com os Espíritos,
que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos,
respondem sempre com caridade. Escrevo meias-páginas e páginas inteiras, que
minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados
filosófico-religiosos em que jamais pensei nem pus em prática. Porque, dizia-me
aos primeiros resultados: Não será joguete de uma alucinação ou da tua
vontade? E a reflexão e o exame me
provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas
linhas. Baixei a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que
estivesse inteiramente louco. Remeti duas ou três mensagens à pessoa que tinha
feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se
estou certo. Venho perdir-vos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, de
ter a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas palestras
de além-túmulo, se, todavia, achardes bom”. Adicionando alguns
apontamentos ao teor da carta, comenta Kardec: -“As consequências morais deste
fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e
que ferido pela Lei, se acha confundido com o rebotalho da sociedade; e este
homem, no meio do pântano moral, voltou à fé; vê o abismo em que caiu,
arrepende-se, ora e, digamo-lo, ora com mais fervor que muita gente que exibe
devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé
que a sua razão pode admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram
compreender o futuro. Além disso, o que é para notar, é que a princípio leu com
prevenção e sua incredulidade foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados
são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o
que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais! (...)
Uma outra consequência a tirar do fato referido é que os Espíritos não são
detidos pelos ferrolhos e que vão até o fundo das prisões levar suas
consolações. Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem
de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição; eles
enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos
os cordões. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?”
Na pauta de fevereiro
de 1864 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui um artigo motivado por
uma carta por ele recebida de um condenado detido numa penitenciária francesa,
exaltando as mudanças nele provocadas depois do conhecimento do Espiritismo. Em
numero anterior ele já havia incluído a de outro segregado de outra instituição
penal revelando reação semelhante. Alertando tê-la corrigido apenas quanto aos
erros ortográficos, reproduziu-a integralmente. Diz a missiva: -“Senhor,
há poucos dias, quando me falaram pela primeira vez de Espiritismo e de revelação
de Além-Túmulo, ri, e disse que isto não era possível. Falava como ignorante,
que sou. Alguns dias depois tiveram a bondade de me confiar, em minha horrível
posição em que me acho agora, vosso bom e excelente LIVRO DOS ESPÍRITOS. A
princípio li algumas páginas com incredulidade, não querendo, ou melhor, não
crendo nessa ciência. Enfim, pouco a pouco e sem me aperceber, por ele tomei
gosto; depois levei a coisa a sério; depois reli pela segunda vez o vosso livro
mas, então com um outro espírito, isto é, com calma e com toda a pouca
inteligência que Deus me deu. Senti então despertar essa velha fé que minha mãe
me tinha posto no coração e que dormitava há longo tempo. Senti o desejo de me
esclarecer sobre o Espiritismo. A partir deste momento tive um pensamento muito
decidido, o de me dar conta, aprender,
ver e depois julgar. Pus-me à obra com toda crença que se pode ter e que é
preciso ter em Deus e seu poder; desejava ver a verdade; orei com fervor e
comecei as experiências. As primeiras foram nulas, sem resultado algum. Não me
desencorajei, perseverei em minhas experiências e, palavra, redobrei minhas
preces, que talvez não fossem bastante fervorosas e me remeti ao trabalho com
toda a convicção de uma alma crente e que espera. Ao cabo de algumas noites, pois só posso fazer as experiências à noite,
senti, por cerca de dez minutos, frêmitos nas pontas dos dedos e uma leve
sensação no braço, como se tivesse sentido correr um riachinho de água morna,
que parava no punho. Eu estava então bem recolhido, todo atenção e cheio de fé.
Meu lápis traçou algumas linhas perfeitamente legíveis, mas não bastante
corretas para não crer que estivesse sob o peso de uma alucinação. Esperei
então com paciência a noite seguinte para recomeçar as experiências e, desta
vez agradeci a Deus, de todo o coração, pois tinha obtido mais do que ousava
esperar. Desde então, de duas ou duas noites entretenho-me com os Espíritos,
que são bastante bons para responder ao meu apelo e, em menos de dez minutos,
respondem sempre com caridade. Escrevo meias-páginas e páginas inteiras, que
minha inteligência não poderia fazer sozinha, porque, às vezes, são tratados
filosófico-religiosos em que jamais pensei nem pus em prática. Porque, dizia-me
aos primeiros resultados: Não será joguete de uma alucinação ou da tua
vontade? E a reflexão e o exame me
provavam que eu estava bem longe dessa inteligência que havia traçado aquelas
linhas. Baixei a cabeça, cria e não podia ir contra a evidência, a menos que
estivesse inteiramente louco. Remeti duas ou três mensagens à pessoa que tinha
feito a caridade de me confiar o vosso bom livro, para que ela sancione se
estou certo. Venho perdir-vos, senhor, vós que sois a alma do Espiritismo, de
ter a bondade de me permitir vos envie o que obtiver de sério em minhas palestras
de além-túmulo, se, todavia, achardes bom”. Adicionando alguns
apontamentos ao teor da carta, comenta Kardec: -“As consequências morais deste
fato se deduzem por si mesmas. Eis um homem que tinha abjurado toda crença e
que ferido pela Lei, se acha confundido com o rebotalho da sociedade; e este
homem, no meio do pântano moral, voltou à fé; vê o abismo em que caiu,
arrepende-se, ora e, digamo-lo, ora com mais fervor que muita gente que exibe
devoção. Para isto bastou a leitura de um livro onde encontrou elementos de fé
que a sua razão pode admitir, que reanimaram as suas esperanças e lhe fizeram
compreender o futuro. Além disso, o que é para notar, é que a princípio leu com
prevenção e sua incredulidade foi vencida pelo ascendente da lógica. Se tais resultados
são produzidos por uma simples leitura, feita, por assim dizer, às ocultas, o
que seria se a ela se pudesse juntar a influência das exortações verbais! (...)
Uma outra consequência a tirar do fato referido é que os Espíritos não são
detidos pelos ferrolhos e que vão até o fundo das prisões levar suas
consolações. Assim, não está no poder de ninguém impedir que eles se manifestem
de uma ou de outra maneira. Se não for pela escrita, será pela audição; eles
enfrentam todas as proibições, riem-se de todas as interdições, transpõem todos
os cordões. Que barreira podem, então, lhes opor os inimigos do Espiritismo?”
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