No número de agosto de 1860 da REVISTA ESPÍRITA,
Allan Kardec insere estudo feito sobre um caso noticiado pelo jornal Le Droit sob o título Cenas de Feitiçaria no século XIX. Na
matéria, o relato de inusitados fatos verificados no apartamento em que residia
um alto funcionário do Palácio da Justiça, em que “projéteis, vindos não se sabe de onde, quebravam vidraças, por vezes,
atingindo os que se encontravam em casa, ferindo-os. Geralmente fragmentos
consideráveis de tições meio carbonizados, pedaços de carvão de pedra muito
pesados e até dos chamados carvões de Paris. A criada da moradia, recebeu
diversos no peito, ficando com fortes contusões. A vitima de tais fenômenos
acabou pedindo a assistência da polícia que colocou agentes de vigia, tendo
sido os mesmos atingidos pela artilharia invisível, sendo-lhes impossível saber
a origem de tais golpes. Tendo-se tornado insuportável a permanência numa moradia
onde nunca se sabe o que acontecerá, o locatário solicitou a rescisão do
contrato junto ao proprietário. Concedida esta, quando o funcionário
ministerial redigia o documento, um pedaço enorme de carvão, lançado com
extrema força, entrou pela janela e foi bater na parede, fazendo-se pó”. Na
reunião da SOCIEDADE ESPÍRITA DE PARIS de 29 de junho de 1860, Kardec procurou,
primeiro ouvir o dirigente espiritual das atividades mediúnicas ali realizadas,
colhendo as seguintes informações: 1- Os
fatos havidos eram verdadeiros, aumentados, porém, pela imaginação dos homens,
por medo ou ironia, sendo tais manifestações provocadas por um Espírito que se
divertia um pouco, à custa dos moradores do local; 2- As ocorrências eram causadas pela presença da pessoa atacada,
apegando-se o Espírito perturbador ao habitante do lugar onde se acha com a
intenção de perturbá-lo com suas maldades ou fazê-lo mudar-se; 3- Os fenômenos somente eram possíveis pela
presença no local de uma pessoa com certa disposição física entre os
encarnados, sem o que o fato não ocorreria; 4- Tendências demasiadamente materiais dos moradores facilitavam as manifestações, visto que quanto mais elevado
se for moralmente, mais se atraem os bons Espíritos, que necessariamente
afastam os maus; 5- Os projéteis de
que se servia a entidade, na maioria das vezes eram colhidos nos próprios
lugares, movimentados por uma força que vem do Espírito que os lança no espaço,
caindo no lugar por ele designado, podendo, quando não existem nesses lugares
pedras, carvões, etc, podem muito facilmente ser por eles fabricados. Por
fim, indagado sobre se seria útil evocá-lo para obter maiores explicações, o
Diretor Espiritual respondeu, “se o
quiserdes, mas que só se obteriam respostas insignificantes, por ser um
Espírito inferior”. Kardec registra também que recebeu a visita do
locatário que não só confirmou os fatos noticiados, mas os completou e
retificou em vários pontos. Encaminhadas as providências para evocar o Espírito
perturbador, este respondeu a 17
perguntas, obtendo vários esclarecimentos dentre os quais destacamos: 1-
Que encontrara no ambiente um bom instrumento e nenhum Espírito douto, sábio e
importante para o impedir de produzir os efeitos físicos com os quais se
divertia; 2- Dito instrumento era uma criada que o servia inconscientemente,
sendo a mais apavorada diante das manifestações; 3- Sobre se haveria meios de
provocar os fenômenos no recinto da reunião
de que participava, afirmou que sim, através de um membro presente o
qual apontou, não lhe sendo porém permitido por haver um guarda que vela pelos
participantes; 4- Que em suas ações não tinha objetivo hostil, procurando
apenas divertir-se, fornecendo aos estudiosos um fato que comprova a existência
dos Espíritos; 5- Que a origem dos objetos que atirava eram o pátio e os
jardins vizinhos ao prédio em que localizava o apartamento; 6- Sobre como era
possível produzir os fenômenos, disse ser difícil para ele explicar,
esclarecendo apenas que era ajudado pela natureza elétrica daquela moça, junto
à dele, menos material, permitindo o transporte dos diversos materiais 7-
Revelou que seu nome era Jeannet,
tendo desencarnado há bem uns 50 anos,
tendo sido uma pessoa comum, que sobrevivia de catar molambos pelo
bairro em que vivera.; 8- Que em suas respostas fora auxiliado pelo Orientador
daqueles trabalhos. Em observação ao final da entrevista, Allan Kardec
considera que essa ajuda é um fato comum, no caso em questão, evidenciando-se “pela mudança da letra observada na comunicação,
percebidos facilmente esses momentos, visto que a do comunicante era angulosa,
grossa, irregular, por vezes, pouco legível, mostrando um caráter diverso, ao
passo que quando auxiliado, ela se tornava mais regular e corrente”.
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