Tema sempre oportuno, devidamente esclarecido por Allan Kardec: o
esquecimento do passado. Na sequencia alguns dos argumentos por ele oferecidos
para nossa compreensão e reflexão. No esquecimento das
existências transcorridas, sobretudo quando marcadas por erros, dores e
fracassos, não há qualquer coisa de providencial revelando a Sabedoria Divina? Gravíssimos inconvenientes teria o nos
lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em certos casos,
humilhar-nos-ia sobremaneira. Em outros nos exaltaria o orgulho, peando-nos, em
consequência, o livre-arbítrio. Para nos melhorarmos, dá-nos Deus
exatamente o que nos é necessário e basta: a voz da consciência e os pendores
instintivos. Priva-nos do que nos prejudicaria. Acrescentemos que, se nos
recordássemos dos nossos precedentes atos pessoais, igualmente nos
recordaríamos dos outros homens, do que resultariam talvez os mais desastrosos
efeitos para as relações sociais. Nem sempre podendo honrar-nos do nosso
passado, melhor é que sobre ele um véu seja lançado. Isto concorda
perfeitamente com a Doutrina dos Espíritos acerca dos mundos superiores à
Terra. (LE; 394) Mantermos vivos registros de erros cometidos em encarnação passada não
funcionaria como um alerta para não reincidirmos nos mesmos? . Nos perturbaria, nos humilharia aos
nossos próprios olhos e aos do próximo; trariam uma perturbação nas relações
sociais e, por isto mesmo, travaria nosso livre arbítrio. Por outro lado,
o esquecimento não é tão absoluto quanto o supõem. Ele só se dá na vida
exterior de relação, no interesse da Humanidade; mas, a Vida Espiritual não
sofre solução de continuidade. Essa lembrança deixa uma intuição que
se traduz na voz da consciência, que adverte do que se deve, ou não deve fazer.
Se não a escuta, então é culpa sua. Além disso, o Espiritismo dá ao homem
um meio de remontar ao seu passado, se não aos atos precisos, ao menos aos
caracteres gerais desses atos que ficaram mais ou menos desbotados na sua vida
atual. É
possível termos uma ideia de como éramos em vida passada? Tendes
essa intuição no pensamento, no desejo criminoso que frequentemente vos assalta
e a que instintivamente resistis, atribuindo, as mais das vezes, essa
resistência aos princípios que recebestes de vossos pais, quando é a voz da
consciência que vos fala. Essa voz, que é a lembrança do passado, vos adverte
para não recairdes nas faltas de que já vos fizestes culpados. Na nova
existência, se sofre com coragem aquelas provas e resiste, o Espírito se eleva
e ascende na hierarquia dos Espíritos, ao voltar para o meio deles. Não temos,
é certo, durante a vida corpórea, lembrança exata do que fomos e do que fizemos
em anteriores existências; mas temos de tudo isso a intuição, sendo as nossas
tendências instintivas uma reminiscência do passado. E a nossa consciência, que
é o desejo que experimentamos de não reincidir nas faltas já cometidas, nos
concita à resistência àqueles pendores. (LE;
393) Existem outros indicadores para termos uma
ideia sobre os enganos que trouxeram o Espírito a nova reencarnação? Das tribulações que suporta, das
expiações e provas deve concluir que foi culpado; da natureza dessas tribulações,
ajudado pelo estudo de suas tendências instintivas, apoiando-se no princípio
que a mais justa punição é a consequência da falta, pode deduzir seu passado
moral. Suas
tendências más lhe ensinam o que resta de imperfeito a corrigir em si. A vida atual é
para ele um novo ponto de partida: aí chega rico ou pobre de boas qualidades;
basta-lhe, pois, estudar-se a si mesmo para ver o que lhe falta e dizer: -‘Se
sou punido, é porque errei’. E a mesma punição lhe dirá o que fez. Citemos uma
comparação. Suponhamos um homem condenado a tantos anos de prisão, sofrendo um
castigo especial, mais ou menos rigoroso conforme sua falta: suponhamos, ainda,
que ao entrar na prisão perca a lembrança dos atos que para lá o conduziram.
Poderá dizer: -‘Se estou nesta prisão, é que fui culpado, pois não se condena
gente virtuosa. Tratemos, pois, de nos tornarmos bons, para não voltarmos
quando daqui sairmos’. Quer ele saber o que fez? Estudando a lei penal, saberá
quais os crimes que para ali conduzem, porque não se é posto a ferros por uma
maluquice; da duração e severidade da pena, concluirá o gênero do que deve ter
cometido. Para ter uma ideia mais exata, terá apenas que estudar os artigos
para os quais irá sentir-se instintivamente arrastado. Saberá, então, o que daí
em diante deverá evitar para conservar a liberdade e a isso será ainda excitado
pelas exortações dos homens de Bem, encarregados de o dirigir e instruir no bom
caminho. Se não aproveitar, sofrerá as consequências. Tal a situação do homem na Terra onde,
como condenado, não pode ter sido posto por suas perfeições, desde que é
infeliz e obrigado a trabalhar. Deus lhe multiplica os ensinamentos
proporcionais ao seu adiantamento. Adverte-o incessantemente e o fere, até,
para o despertar de seu torpor; e o que permanece no endurecimento não pode
desculpar-se com a arrogância. (RE;1863)
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