Filósofo iluminista, escritor
e ensaísta francês, Francois Marie Arouet nasceu e viveu em Paris entre 1694 e
1778. Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades
civis, religiosa e livre comércio foi um dos autores do iluminismo cujas obras
e ideias influenciaram tanto na Revolução Francesa quanto na Americana. Autor
de 70 obras em variadas formas literárias é reconhecido como um polemista
satírico tendo usado suas obras para criticar a Igreja Católica e as
instituições francesas de seu tempo. No número de abril de 1862 da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec inclui
uma comunicação obtida pelo Grupo Faucherand na Sociedade Espírita de
Paris, através do médium Sr. E. Vézy, assinada justamente
pelo Espírito que tanto influenciou mentes e corações através de sua forma de
pensar. A mudança de Dimensão existencial, contudo, abriu suas ideias em
direções mais amplas como demonstrado em seu texto. Escreveu ele: -“Sou
eu mesmo, mas não aquele Espírito trocista e cáustico de outrora; o reizinho do
século 18, que dominava pelo pensamento e pelo gênio a tantos soberanos, hoje
não mais tem nos lábios aquele sorriso mordaz, que fazia tremer os inimigos e
os próprios amigos!. Meu cinismo desapareceu diante da revelação das grandes
coisas que eu queria tocar e que só as conheci no Além-túmulo. Pobres cérebros
demasiado estreitos para conterem tantas maravilhas!. Humanos, calai-vos,
humilhai-vos ante o poder supremo; admirai e contemplai – é o que podeis fazer.
Como quereis aprofundar Deus e o seu próprio trabalho? Apesar de todos os seus
recursos, a vossa razão não se quebra diante do átomo e do grão de areia, que
não pode definir? Eu empreguei a minha vida a procurar conhecer a Deus e seu
princípio; minha razão se enfraqueceu e eu cheguei não a negar Deus, mas a sua
glória, o seu poder e a sua grandeza. Eu o explicava desenvolvendo-se no tempo.
Uma intuição celeste me dizia que rejeitasse tal erro, mas eu não escutava e me
fiz apóstolo de uma doutrina mentirosa...Sabeis por que? Porque, no tumulto e
na confusão de meus pensamentos, num entrechoque incessante, eu só via uma
coisa: meu nome gravado no frontão de um templo de memória das Nações! Só via a
glória que me prometia essa juventude universal que me cercava e parecia
saborear com suave delícia o suco da doutrina que eu lhe ensinava. Entretanto,
empurrado não sei por que remorso de minha consciência, quis parar, mas era
tarde. Como toda utopia, todo sistema que abraçamos nos arrasta; a princípio
segue a torrente, depois nos arrasta e nos quebra, tão rápida e violenta é por
vezes a sua queda. Crêde-me, vós que aqui estais à procura da verdade,
encontra-la-eis quando tiverdes destacado de vosso coração o amor às lantejoulas,
que um tolo amor-próprio e um falso orgulho fazem brilhar aos vossos olhos. Na
nova via por onde marchais, não temais combater o erro e o desafiar, quando se
erguer à vossa frente. Não é uma monstruosidade preconizarmos uma mentira,
contra a qual ninguém ousa defender-se, pelo fato de saber-se que fizemos
discípulos que ultrapassaram as nossas crenças? Vêde, meus amigos. O Voltaire
de hoje não é mais aquele do século 18. Eu sou mais cristão, porque venho
fazer-nos esquecer a minha glória e vos lembrar o que fui na juventude e o que
amava em minha infância. Oh! Como eu gostava de me perder no mundo dos
pensamentos! Minha imaginação ardente e viva percorria os vales da Ásia à busca
daquele que chamais Redentor.. Eu gostava de percorrer os caminhos que ele
tinha percorrido. E como me parecia grande e sublime esse Cristo em meio à
multidão!.. Julgava ouvir a sua voz poderosa, instruindo os povos da Galiléia,
das bordas do Tiberíades e da Judéia!.. Mais tarde, nas minhas noites de
insônia, quantas vezes me ergui para abrir uma velha Bíblia e reler suas
páginas santas! Então minha fronte se inclinava diante da cruz, esse sinal
eterno da redenção, que une a Terra ao Céu, a criatura ao Criador!... Quantas
vezes admirei esse poder de Deus, por assim dizer se subdividindo, e cuja
centelha se encarna para fazer-se tão pequena, vindo render a alma no Calvário
em expiação!.. Vítima augusta cuja divindade eu negava, e que, entretanto, me
fez dizer: -Teu Deus que tu traíste, teu Deus que tu brasfemas, Para ti,
para o Universo, morreu nestes lugares!. Sofro, mas espio a resistência que
opus a Deus. Tinha a missão de instruir e esclarecer. A princípio o fiz, mas o
meu facho se extinguiu nas minhas mãos, na hora marcada para a luz!...Felizes
filhos do século 19 e do século 20, a vós é que é dado ver luzir o facho da
Verdade. Fazei que vossos olhos vejam bem a sua luz, porque para vós ela terá
radiações celestes e sua claridade será Divina!”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário