Tiptologia é uma forma de comunicação obtida pela sucessão de
pancadas ou batidas curtas feitas em algum material rígido, usualmente madeira,
produzindo ruídos. Os fenômenos que abriram caminho para o desenvolvimento das
pesquisas encetadas por aquele que conhecemos como Allan Kardec, evoluíram dela para uma forma mais elaborada chamada tiptologia
alfabética, na qual certo número de pancadas significava determinada
letra do alfabeto ou determinado algarismo, de acordo com acerto prévio entre
as duas partes comunicantes. No número de maio de 1868 da REVISTA ESPÍRITA, Kardec
incluiu interessante material resultante dessa modalidade de intercâmbio entre
duas Dimensões, que, como é obvio, dificulta sobremaneira fraudes ou
charlatanismo. A matéria intitulada Impressões de Um Médico Materialista no
Mundo dos Espíritos, contém oportunas e interessantes revelações, visto
que, a todo momento desencarnam milhares de pessoas em nosso Plano Existencial,
deparando-se com realidade inimaginada ou intencionalmente ignorada enquanto
por aqui permanecem .No introito da sua abordagem, o editor explica: -“Numa
reunião íntima de família, em que se ocupavam de comunicações pela tiptologia,
dois Espíritos conversavam, manifestando-se espontaneamente, sem nenhuma
evocação prévia, e sem que pensassem neles: um era um médico, que designaremos
pelo nome Phillippeau, morto recentemente e que, em vida tinha se declarado
abertamente o mais absoluto materialista; o outro era o de uma mulher que
assinou Saint Victoire. É esse diálogo que reproduziremos a seguir. É preciso
destacar que as pessoas que obtiveram essa manifestação não conheciam o médico
senão por sua reputação, mas não tinham qualquer ideia de seu caráter, de seus
hábitos, nem de suas opiniões; desse modo a comunicação, de maneira nenhuma, poderia ser o reflexo do
pensamento delas, e isto tanto menos quanto, obtida pela tiptologia, era
inteiramente inconsciente. Vamos ao diálogo entre os dois Espíritos: Perguntas
do médico: -“O
Espiritismo me ensina que é preciso esperar, amar, perdoar; eu faria tudo isso
se soubesse como me haver para começar. É preciso esperar o que? Perdoar o que
e a quem? Amar a quem? Respondei-me”. Resposta de Saint
Victoire: -“Há que esperar na Misericórdia de Deus, que
é infinita; há que perdoar aos que vos ofenderam; há que amar ao próximo como a
si mesmo; há que amar a Deus, a fim de que Deus vos ame e vos perdoe; há que
orar e lhe render graças por todas as suas bondades, por todas as vossas
misérias, porque miséria e bondade tudo nos vem dele, isto é, tudo nos vem dele
conforme o que tenhamos merecido. Aquele que expiou, mais tarde terá a sua
recompensa: cada coisa tem a sua razão de ser, e Deus, que é soberanamente bom
e justo, dá a cada um segundo as suas obras”. O médico: -“Eu
queria, de toda minha alma, vos satisfazer, senhora, mas temo muito não o poder
inteiramente; contudo, vou tenta-lo. Uma vez morto, materialmente falando,
pensava que tudo estivesse acabado; então, quando minha matéria ficou inerte,
fui tomado de espanto, ao me sentir ainda vivo. Vi homens a me carregar e disse
de mim para comigo: Mas, entretanto, eu não estou morto! Então esses médicos
imbecis não veem que eu vivo, respiro, ando, olho-os, sigo-os, a eles que vem
ao meu enterro!...Que é então que enterram?...Então não sou eu...Escutava uns e
outros: Esse Phillipeau, diziam eles, fez muitas curas; matou alguns; hoje é a
sua vez; quando a morte chega nós ignoramos o tempo”. Por mais que eu gritasse:
-“Mas Phillipeau não morre assim; não estou morto!”; não me escutavam, não me
viam. Assim se passaram três dias; eu estava desaparecido do mundo, e me sentia
mais vivo que nunca. Seja acaso, seja Providência, meus olhos
caíram sobre uma brochura de Allan Kardec; li suas descrições sobre o
Espiritismo, e me disse: Seria eu, por acaso, um Espírito? Li, reli e então
compreendi a transformação de meu Ser; eu não era mais um homem, mas um
Espírito!. Sim, mas então que tinha que fazer nesse mundo novo? Nessa nova Esfera?
Eu vagava, procurava: encontrei o vazio, o sombrio, enfim o abismo. Então que
tinha feito eu, ao deixar o mundo, para vir habitar essas trevas? Então o
inferno é negro e foi nesse negro que caí? Porque? Porque trabalhei toda a
vida? Por que empreguei minha vida a cuidar de uns e outros, a salvá-los quando
minha ciência o permitia? Não! Não! Porque, então? Por que? Procura! Procura!..
Nada; não encontro nada”. Mergulhando em mais profundas reflexões, o
médico, reconhece-se em “meio a longos combates em sua mente”.
Admite que, no exercício de sua profissão, “a ambição era seu único propósito”
Conclui, por fim, ter feito “ tudo
ao contrário do que devia. Aprendeu, cursou a ciência, não por amor à ciência,
mas por ambição, para ser mais que os outros, para que falassem de mim. Tratei
do próximo, não para o aliviar, mas para me enriquecer. Numa palavra, fui todo
para a matéria, quando se deve ser todo
para o Espírito. Quais são hoje as minhas obras? A riqueza, a ciência; nada!
Nada!. Tudo está para refazer”.
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