“A pluralidade das existências, da qual o Cristo
colocou o princípio no Evangelho, sem, contudo, defini-lo mais do que muitos
outros, é uma das Leis mais importantes reveladas pelo Espiritismo, no sentido
que lhe demonstra a realidade e a necessidade para o progresso. Por esta Lei, o
homem explica todas as anomalias aparentes que a vida humana apresenta; as
diferenças de posições sociais; as mortes prematuras que, sem a reencarnação,
tornariam inúteis para a alma as vidas precocemente interrompidas; a
desigualdade das aptidões intelectuais e morais, explicadas pela antiguidade do
Espírito, que mais ou menos viveu, mais ou menos aprendeu e progrediu, e que
traz, em renascendo, a aquisição de suas existências anteriores”. Vejamos outros dos argumentos levantados por Allan Kardec no número de setembro de 1866 da REVISTA ESPÍRITA: 1-
Com a doutrina da criação da alma em cada
existência, cai-se no sistema das criações privilegiadas; os homens são
estranhos uns aos outros, nada os religa, os laços de família são puramente
carnais; não são solidários de um passado em que não existiam; com a do nada
depois da morte, toda relação cessa com a vida; eles não são solidários do
futuro. 2- Pela reencarnação, são
solidários do passado e no futuro; suas relações se perpetuam no Mundo Espiritual
e no Mundo Corpóreo, a fraternidade tem por base as próprias leis da Natureza;
o Bem tem um objetivo, o mal as suas consequências inevitáveis. 3- Com a reencarnação caem os preconceitos de
raças e de castas, uma vez que o próprio Espírito pode renascer rico ou pobre,
grande senhor ou proletário, senhor ou subordinado, livre ou escravo, homem ou
mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da
escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, não há nenhuma que
prepondere em lógica o fato material da reencarnação se, pois, a reencarnação
funda-se sobre uma lei da Natureza, o princípio da Fraternidade Universal,
funda-se sobre a mesma lei no da igualdade dos Direitos Sociais, e, consequentemente
no da Liberdade. Os homens não nascem inferiores e subordinados senão pelo
corpo; pelo Espírito, eles são iguais e livres. Daí o dever de tratar os inferiores
com bondade, benevolência e humanidade, porque aquele que é nosso subordinado
hoje pode ter sido nosso igual ou nosso superior, talvez um parente ou um
amigo, e que podemos nos tornar, por nossa vez, o subordinado daquele ao qual
comandamos. (...) 4- Tirai ao homem o
Espírito livre, independente, sobrevivente à matéria, dele fareis uma máquina
organizada, sem objetivo, sem responsabilidade, sem outro freio que o da lei
civil, e bom para explorar como um animal inteligente. Nada esperamos depois da
morte, nada nos detém para aumentar os gozos do presente; se sofre, não tem em
perspectiva senão o desespero e o nada por refúgio. Com a certeza do futuro, a
de reencontrar com aqueles a quem amou, o medo de rever aqueles a quem ofendeu,
todas as suas ideias mudam. (...) 5- Sem
a preexistência da alma, a doutrina do pecado original não é somente
irreconciliável com a Justiça de Deus, que torna todos os homens responsáveis
pela falta de um único, ela seria um contra-senso, e tanto menos justificável
quanto a alma não existia na época em que se pretende fazer remontar a sua
responsabilidade. Com a preexistência e a reencarnação, o homem traz, em
renascendo, o germe de suas imperfeições passadas, as faltas das quais não pôde
se corrigir e que se traduzem por seus instintos natos, suas propensões a tal
ou tal vício. Está aí o seu verdadeiro pecado original, do qual sofre muito
naturalmente as consequências; mas com a diferença capital de que carrega a
pena de suas próprias faltas, e não as da falta de outro; e esta outra
diferença, ao mesmo tempo consoladora, encorajadora, e soberanamente equitativa,
que cada existência lhe oferece os meios de resgatar pela reparação, e de
progredir, seja em se despojando de alguma imperfeição, seja adquirindo novos
conhecimentos, até que, estando suficientemente purificado, não tenha mais
necessidade da vida corpórea, e possa viver exclusivamente da Vida Espiritual,
eterna e feliz. Pela mesma razão, aquele que progrediu moralmente, traz em
renascendo, qualidades inatas, assim como, o que progrediu intelectualmente
traz ideias inatas; está identificado com o Bem; pratica-o sem esforços, sem intenções
secundárias, e, por assim dizer, sem nele pensar. Aquele que está obrigado a
combater as suas más tendências, nisto ainda está em luta; o primeiro já
venceu, o segundo está em vias de vencer. A mesma causa produz o pecado
original e a virtude.
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