Anderson Lima, a participação de hoje. O Anderson pergunta o seguinte: “Quando a gente se arrepende de um erro que cometeu e nunca mais vem
a cometer esse mesmo erro mas, ao contrário, procuramos corrigir esse defeito,
essa mudança já não é suficiente para merecer o perdão de Deus?”
A Lei de Deus é perfeita e,
assim sendo, ela abarca cada um de nossos atos de uma forma plena,
considerando-o de todos os ângulos possíveis, e isso já não acontece com a lei
humana. Vamos dar um exemplo: Um homem agride violentamente outro homem e é
flagrado pela lei. Indiciado, julgado, a justiça o condena à a uma pena que ele
acaba cumprindo. Independente da pena sofrida, a vítima resolve processá-lo
judicialmente e ele terá que pagar uma soma em dinheiro pelo prejuízo causado.
Vamos supor que o autor do
delito realmente cumpra a pena que lhe foi imposta e pague a indenização que a
lei estabeleceu. Diante disso, ele fica quite com a lei humana e não tem mais o
que pagar. No entanto, o homem, que foi
vítima da agressão, apesar da aplicação da justiça humana, permanece odiando
seu agressor. Mesmo depois da morte, ele leva esse ódio consigo, pois não
consegue o esquecer o mal que o adversário lhe causou, por causa da dor moral
que atormenta sua alma. Mais cedo ou
mais tarde, ele resolver vingar-se ou fazer justiça com as próprias mãos.
Neste caso, embora tudo
tenha se revolvido à luz da justiça humana com o cumprimento da pena e o pagamento
da indenização, ainda restou muita coisa para ser resolvida ante a Justiça
Divina. Isso quer dizer que, no campo do sentimento, o caso não ficou
resolvido. Ainda há algo a fazer para que ocorra a chamada reconciliação entre
adversários. Foi por isso que Jesus recomendou que nos reconciliássemos com o
nosso desafeto enquanto estamos a caminho com ele. Assim, é possível que o
agressor venha a se arrepender do que fez, mas, ao que tudo indica, ele não
resolveu o principal da questão, não se reconciliou com aquele a quem ofendeu e
não recebeu seu perdão.
Portanto, Anderson, em
Doutrina Espírita aprendemos que a solução definitiva de um problema dessa
ordem requer não só o arrependimento, mas também a reparação e, por último, a
reconciliação que necessariamente deverá ocorrer um dia. E, no exemplo citado,
embora tivesse havido uma tentativa de reparação material com o pagamento da
indenização, a maior das reparações não é reparação dos prejuízos materiais,
mas é a reparação moral, que é bem mais complicada. A vítima tornou-se um
inimigo ameaçador e o agressor passou a ser perseguido pelo seu ódio.
A reparação e a
reconciliação vêm depois do arrependimento. Ela serve para reaproximar agressor
e vítima em termos de sentimento. Se isso não for possível numa existência e o
ofendido relutante desencarnar antes do ofensor, ele poderá vir a obsidiá-lo,
na tentativa de prejudicá-lo, simplesmente porque se sente ferido em seu
orgulho e que não aceita perdoá-lo. Se mais essa tentativa ainda não der certo,
vítima e réu ainda poderão se encontrar numa próxima encarnação, muitas vezes
dentro da mesma família, como pai e filho por exemplo, a fim de, esquecendo o
passado, tenham chance de refazer suas relações.
Desse modo, Anderson, a
principal questão não é tanto a de ordem material, mas a de ordem espiritual. É
aqui que entram as duas questões: a da culpa do agressor e a da mágoa do
agredido. Talvez, o fato de se encontrarem numa situação de conflito possa
ajudá-los a se reencontrar consigo mesmos e um com o outro, procurando desfazer
a contenda para que ela se transforme em conciliação e aceitação fraterna.
Logo, embora o arrependimento seja importante, ele não basta por si só. Sem a
reparação moral, na verdade, o problema não fica resolvido.
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