Os regimes Monárquicos ainda
prevaleciam, sobretudo na Europa, e, um ano após ter iniciado a publicação da REVISTA ESPÍRITA, Allan Kardec abre o
número de janeiro de 1859, reproduzindo a íntegra de uma carta dirigida a
um Príncipe que lhe escrevera solicitando alguns esclarecimentos sobre
informações veiculadas pelo Espiritismo apresentado ao publico meses antes,
através d’ O LIVRO DOS ESPÍRITOS. Precedendo
as respostas as 5 perguntas recebidas, Kardec alinha alguns pontos
considerados por ele como fundamentais para esclarecer algumas outras dúvidas: 1- Fora do
mundo corpóreo visível, existem seres invisíveis, que constituem o Mundo dos
Espíritos. 2- Os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias
almas dos que viveram na Terra, ou em outras esferas, e que se despojaram de
seus invólucros materiais. 3- Os Espíritos
apresentam todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral.
Consequentemente, há-os bons e maus, esclarecidos e ignorantes, levianos e
mentirosos, velhacos e hipócritas, que procuram enganar e induzir ao mal, assim
como os há em tudo muito superiores, que não procuram senão fazer o Bem. Esta
distinção é ponto capital. 4- Os Espíritos rodeiam-nos incessantemente. Malgrado
nosso, dirigem os nossos pensamentos e as nossas ações, assim influindo sobre
os acontecimentos e sobre os destinos da Humanidade. 5- Os Espíritos por vezes denotam sua presença por meio
de efeitos materiais. Esses efeitos, nada tem de sobrenatural: só nos parecem
tal porque repousam sobre bases fora das leis conhecidas da matéria. Uma vez
conhecidas essas bases, os efeitos entram na categoria dos fenômenos naturais.
É que Espíritos podem agir sobre os corpos inertes e movê-los sem o concurso
dos nossos agentes externos. Negar a existência de agentes desconhecidos, pelo
simples fato de que não os compreendemos, seria traçar limites ao poder de Deus
e crer que a Natureza nos tenha dito sua ultima palavra. 6- Todo efeito
tem uma causa; ninguém o contesta. É, pois, ilógico negar a causa pelo simples
fato de que é desconhecida. 7- Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente
deve ter uma causa inteligente. Quando vemos as peças do aparelho telegráfico
produzirem sinais que correspondem ao pensamento, não concluímos que elas sejam
inteligentes, mas são movidas por uma inteligência. Dá-se o mesmo com os
fenômenos espíritas. Se a inteligência que os produz não for a nossa,
evidentemente independe de nós. 8- Nos fenômenos das ciências naturais agimos sobre a
matéria inerte e a manejamos à nossa vontade. Nos fenômenos espíritas agimos
sobre inteligências que dispõem do livre arbítrio e não se submetem à nossa
vontade. Há, pois, entre os fenômenos comuns e os fenômenos espirituais uma diferença
radical quanto ao princípio. Eis porque a ciência vulgar é incompetente para os
julgar. 9- O Espírito
encarnado tem dois envoltórios: um material, que é o corpo, outro semi-material
e indestrutível, que é o períspirito. Deixando o primeiro, conserva o segundo,
que constitui uma espécie de segundo corpo, mas de propriedades essencialmente
diferentes. Em estado normal é-nos invisível, mas pode tornar-se
momentaneamente visível e mesmo tangível: tala causa do fenômeno das aparições.
10-
Os Espíritos não são, pois, seres abstratos, indefinidos, mas seres reais e
limitados, com existência própria, que pensam e agem em virtude de seu livre
arbítrio. Estão por toda parte, em volta de nós. Povoam os espaços e se
transportam com a rapidez do pensamento. 11- Os
homens podem entrar em relação com os Espíritos e receber comunicações diretas
pela escrita, pela palavra ou por outros meios. Estando ao nosso lado, ou
podendo vir ao nosso apelo, é possível, por certos meios, estabelecer
comunicações frequentes com os Espíritos, assim como um cego pode fazê-lo com
as pessoas que ele não vê. 12- Certas
pessoas são mais dotadas que outras de uma aptidão especial para transmitir
comunicações dos Espíritos: são os médiuns. O papel do médium é o de um
interprete; é um instrumento de que se serve o Espírito; esse instrumento pode
ser mais ou menos perfeito, donde as comunicações mais ou menos fáceis. 13- As comunicações tanto podem provir de Espíritos
inferiores quanto de superiores. 14- Todos nós temos um Espírito familiar, que se liga a
nós desde o nascimento, que nos guia, aconselha e protege. 15- Além do
Espírito familiar há outros que atraímos graças à sua simpatia por nossas
qualidades e defeitos ou em virtude de antigas afeições terrenas.
M.R., inconformada com os problemas que
vinha passando, disse que chegava a duvidar que Deus existe, pois não pode
entender que um Pai Bom e Misericordioso pode deixar seus filhos sofrerem
tanto. Não haveria uma forma mais branda de promover a evolução? Ela citou a
dor que faz parte de vários dramas humanos e questionou por que as pessoas
precisam sofrer tanto para aprender. Não seria mais fácil, mais humano e mais
divino que não precisássemos passar por isso?
A ideia de que tudo podemos aprender sem
esforço e sem sacrifício é algo muito bonito e fascinante, mas que não funciona
de forma absoluta para nós, Espíritos encarnados neste planeta, que nos encontramos
na fase das provas e expiações. Sem dúvida, nossa maior aspiração é escapar do
sofrimento e da morte, por isso é que são esses nossos maiores medos.
O que é inconcebível, dentro da filosofia
espírita, é o fato de que, além dessa gama imensa de sofrimento que varre o
mundo, o homem possa ter pela frente uma condenação eterna. Isso, sim, é
inconcebível diante do conceito que temos de um Deus bom e misericordioso. No
entanto, o Espiritismo nos explica que as experiências difíceis fazem parte de
nosso crescimento, pois se trata de uma etapa passageira.
Entretanto, esse anseio de vida sem
sofrimento, sem desconforto, sem dor, uma vida de paz e serenidade, existe em
todos nós, porque é para essa condição ideal que caminhamos, mas que, na
verdade, só existe em mundos superiores. Não foi por outra razão que Jesus
proclamou: “Bem aventurados os aflitos porque serão consolados”. Como estamos
ainda distantes de alcançar tal condição, podemos imaginar que isso seria o
ideal, embora distante de nossas atuais conquistas.
Deus nos criou imperfeitos para que nós
próprios construíssemos, ao longo do tempo, a própria perfeição. Se nos tivesse
feito seres perfeitos, nada nos restaria a fazer, pois a perfeição é o ponto
final e o objetivo de tudo, é a plenitude do ser; além dela nada existe e,
portanto, nada resta a fazer. Todavia, a obra divina é tão maravilhosa e tão perfeita,
que faz com que da imperfeição surja a perfeição, do mal surja o bem, e para isso é necessário um trabalho, um longo
processo de aperfeiçoamento.
Se não houvesse o que construir, cara ouvinte,
não haveria necessidade de construtores; se não houvesse doentes não haveria
necessidade de médicos; se não houvesse alunos não haveria necessidade de
professores; se não houvesse fome, não haveria necessidade de comida e nem de
agricultores; se não houvesse problemas, não haveria necessidade de pensar e
tampouco de buscar soluções em qualquer setor da vida. Ou seja, se tudo estivesse
plenamente resolvido, não teríamos razões para viver.
Nós
só somos capazes de pensar, porque sempre tivemos necessidade do pensamento
para resolver nossos problemas; nós só falamos porque temos necessidade de nos
comunicar; só andamos, temos pernas e braços, porque a evolução desenvolveu em
nós a capacidade de agir na procura de alimentos, de abrigo, de proteção, de
amizade e de amor. Nada existiria, se tudo estivesse pronto, pois, se tudo
tivesse chegado ao auge da perfeição, nós não seríamos nós mesmos, donos de uma
identidade e de uma personalidade própria.
A mais completa felicidade que um ser humano
pode alcançar numa existência é o de sentir sua capacidade de realização
pessoal, de ter chegado ao que chegou usando seus próprios recursos, pensando
pela sua própria cabeça, resolvendo seus próprios problemas, pois é esse
sentimento de auto realização pessoal que faz com que ele se sinta dono de si
mesmo e construtor de seu próprio destino. Mas, paras isso, teve que pensar,
teve que se movimentar, teve que se esforçar, teve que se sacrificar, passando
pelas mais difíceis experiências.
Aí está a grandeza da criação, o fato de que
cada Espírito é o modelador de si mesmo, perfazendo ao longo de sua evolução –
constituída de altos e baixos – um caminho que só ele foi capaz de fazer e que,
portanto, é diferente de todos os demais. Para nós, o sofrimento já não é
totalmente indesejável, pois sabemos que, sem ele, não vamos conquistar
determinadas metas e, portanto, não seremos felizes. É por essa razão, que os
Espíritos Benfeitores costumam nos dizer que o sofrimento é uma bênção, do
mesmo modo que o remédio amargo ou a cirurgia dolorida são soluções para nossos
problemas de saúde.
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