Questão levantada em grupo de estudos
é a seguinte: “Entendo que o sofrimento das pessoas
decorrem dos erros que elas cometem. Mas no Espiritismo esse sofrimento não é
Deus que causa em nós, não é castigo divino, como as religiões sempre afirmam.
Então, porque nas obras de Kardec encontramos muitas vezes essa palavra
“castigo”. Ela não está mal empregada?”
A
primeira parte desta pergunta refere-se à forma como o Espiritismo trata a
questão do sofrimento humano. Vamos encontrar esse tema no capítulo “Penas e
Gozos Futuro” de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, a partir da questão 958. Na questão 963, Kardec pergunta: “Deus se
ocupa pessoalmente com cada homem? Ele não é muito grande e nós muito pequenos
para que cada indivíduo em particular tenha alguma importância aos seus olhos?
Resposta: “Deus se ocupa de todos os
seres que criou, por menores que sejam; nada é muito pequeno para a sua
bondade”.
Na
questão seguinte a pergunta de Kardec é mais específica: “Deus tem necessidade de se ocupar de cada um de nossos atos para nos
recompensar ou nos punir? A maioria deles não são insignificantes para ele?” E em seguida vem uma resposta na qual devemos
pôr toda nossa atenção: “Deus tem suas
leis que regulam nossas ações. Se as violais, a falta é vossa. Sem dúvida,
quando um homem comete um excesso, Deus não pronuncia um julgamento contra ele
para lhe dizer, por exemplo: “foste guloso e vou te punir”. Mas ele traçou um
limite, as doenças e, frequentemente, a morte, são a consequência dos excessos,
eis a punição. Ela (a punição) é o resultado da infração à lei. Assim em tudo.”
Quando lemos O LIVRO DOS ESPÍRITOS e as demais
obras fundamentais da doutrina, precisamos considerar que Kardec estava vivendo
nos meados do século XIX, na França, um país eminentemente católico. Por outro
lado, muitos dos conceitos que o Espiritismo vinha trazer se chocavam com as
ideias religiosas que vigoravam há séculos e para as quais havia um vocabulário
próprio, como é o caso do conceito de pecado, de castigo, de céu e
inferno. É para esse público,
predominantemente católico, que as obras estavam se dirigindo.
Desse modo, Kardec precisava mostrar as novas
ideias, mas não podia usar uma linguagem muito diferente ou muito distante
daquela que o povo compreendia. Aliás, suas obras eram destinadas ao povo em
geral e não a uma classe de pessoas cultas. É assim que ele ainda se utiliza de
muitos termos da religião tradicional -
como castigo, céu, inferno – mas com outro sentido. Para poder captar
esse sentido o leitor precisa ler a obra toda e não interpretar as palavras de
forma isolada, sem levar em consideração as ideias básicas.
Além disso, é necessário considerar ainda que
as respostas eram dados por Espíritos, a maioria dos quais, provindos do
Catolicismo, como padres, bispos e arcebispos. Com certeza, depois de muitos
séculos, eles ainda traziam no seu vocabulários muitos termos e expressões
ligados á doutrina católica. O
importante é compreender que, para a Doutrina Espírita, não existe o tão
famigerado “castigo de Deus” e que, portanto, quando sofremos nunca podemos
atribuir a Deus a autoria de nosso sofrimento, mas somente a nós mesmos.
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