O Espiritismo é religião? Muita gente faz esta pergunta, na expectativa de receber como resposta um “sim” ou um “não”. Esta pergunta se parece com aquela outra que diz: o Espiritismo acredita que a Bíblia é a palavra de Deus? Mas a resposta não é tão simples quanto parece. Para entrarmos neste tema, precisamos primeiro investigar primeiramente o que é religião.
Religião, no sentido comum da palavra, conforme
o entendimento popular, é um conjunto de crenças (em Deus ou deuses, em forças
sobrenaturais e na imortalidade da alma). Geralmente, as religiões possuem sacerdotes,
templos, cultos e uma série de prescrições para sua prática, exigindo de seus
fiéis cega obediência. Além disso, a religião costuma se colocar como único e
verdadeiro caminho para Deus ou para a salvação da alma.
As doutrinas religiosas
se baseiam em dogmas de fé, ante as quais os fiéis devem total submissão, cultivando
uma crença passiva, ou seja, sem qualquer possibilidade de questionamento, sob pena
do seguidor está cometendo grave pecado. Assim, os fiéis têm por obrigação apenas crer
e aceitar como verdade tudo o que a religião diz. Não podem nem pensar em
duvidar de algum ponto que lhe parece um tanto nebuloso, sob penas de serem alvo
do castigo divino e da excomunhão ou expulsão da própria igreja.
Um dos
mais categorizados estudiosos das religiões, o sociólogo Emile Durkheim.
considera que a religião está assentada
sobre dois conceitos, em torno dos quais giram todos os seus dogmas: o sagrado
e o profano. Sagrado – aquilo que pertence a Deus, que é do domínio do divino.
Profano – aquilo que pertence ao homem.
Essa divisão é fundamental para entendermos o caráter da religião. O
mundo material, por exemplo, estaria no domínio do homem, é que o homem pode
conhecer e sobre o qual pode agir.
Neste sentido o Espiritismo não é religião.
Primeiro porque não tem sacerdotes, nem cultos, nem celebrações, nem oferendas.
Depois, porque não se considera dono da verdade e nem afirma que é o único
caminho de salvação. Em terceiro lugar, porque não estabelece nenhuma proibição
para seus seguidores, adotando o princípio de que cada um deve aprender a ser
responsável pelo que faz e prestar contas à própria consciência. As pessoas
devem ser livres para professar esta ou aquela religião, segundo a Doutrina
Espírita.
Em quarto lugar porque o Espiritismo caminha
ao lado da ciência e é, ao mesmo tempo, uma filosofia. Allan Kardec, certa vez,
foi questionado neste sentido e respondeu que só podemos entender o Espiritismo
como religião, se empregarmos a palavra religião no seu sentido filosófico,
pois, de religião, a doutrina só adota a crença em Deus, a prece e os valores
morais ensinados por Jesus.
Mas, somente o fato de o Espiritismo crer em
Jesus e concordar plenamente com seus ensinos não quer dizer que seja uma
religião no sentido comum da palavra. O Espiritismo só adotou Jesus por causa
do valor moral de seus ensinamentos e pela lógica que ele empregou para
analisar, criticar e alterar os preceitos religiosos antigos, que não mais
atendiam aos anseios e necessidades de seu tempo. Além do mais, o Espiritismo
entende que Jesus não criou uma nova
religião, mas proclamou uma nova moral, valorizando o caráter e não a cor
religiosa da pessoa.
Como somos um país de tradição católica e pelo
fato de a grande maioria dos espíritas provir do Catolicismo, é claro que há
uma acentuada tendência de tratar o Espiritismo, aqui no Brasil, como uma
simples religião. Mas a Doutrina Espírita é muito mais que isso, porque ela
abrange três aspectos do conhecimento: a ciência, a filosofia e suas
consequências ético-morais. Foi por isso
que Allan Kardec proclamou como lema da doutrina “Fora da Caridade não há
Salvação”.
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